Discussão sobre presença de advogados paralisa CPI por 40 minutos
A discussão entre parlamentares sobre a presença de advogados paralisou a oitiva do delegado da Polícia Federal Matheus Mela, responsável pela investigação da operação Monte Carlo, por 40 minutos. Desde a manhã desta quinta-feira, o delegado presta depoimento para membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista, que analisa a rede de influências do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Os parlamentares descobriram que entre os membros da comissão e assessores - os únicos autorizados a permanecer na sala da reunião secreta da CPI - havia advogados dos escritórios responsáveis por defender os principais acusados pelo esquema: o do próprio bicheiro e do senador Demóstenes Torres (sem partido - GO). A presença dos advogados foi autorizada pelo presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), mas não foi informada aos membros da CPI.
No auge da discussão, em que Vital foi bastante criticado pelos pares, o deputado Onyz Lorenzoni (DEM-RS) disse que se a sessão continuasse daquela forma, viraria um "circo", ao que o senador Humberto Costa (PT-PE) respondeu: "já virou".
Irritado, o deputado chamou o senador de "sanguessuga", numa referência ao escândalo que ficou conhecido como "Máfia dos Sanguessugas". Humberto Costa era ministro da Saúde na época do episódio, quando o Ministério Público Federal descobriu fraudes em licitações para a compra de ambulâncias e equipamentos hospitalares.
"Isso demonstra, primeiro, despreparo dele, o desconhecimento. Na Operação Sanguessuga, relativo a ambulâncias, eu sequer fui citado, e expliquei que na verdade fui arrolado injustamente na Operação Vampiro que, aliás, eu que solicitei apuração e que quatro anos depois fui absolvido por unanimidade por 15 juízes do Tribunal Regional Federal de Pernambuco, inclusive com pedido de absolvição feito pelo Ministério Público", disse Costa.
Lorenzoni afirma que foi o senador que perdeu o controle. "Eu estava questionando por que num dado momento da sessão tínhamos advogados secretos. Ou seja, o presidente tomou a decisão monocrática de liberar a entrada de advogados do Cachoeira e do Demóstenes para acompanhar, ninguém sabia disso. Eu queria uma identificação e demoramos para conseguir a identificação dos advogados. Naquele momento ele (Humberto Costa) quis me tomar a palavra, eu lembrei o episódio do sanguessuga e ele perdeu o controle", afirmou.
Sessão secreta
Alguns parlamentares se posicionaram contrariamente à presença dos advogados dos acusados na reunião da CPI. Deputados e senadores decidiram, em reunião, que os depoimentos fossem fechados justamente para evitar que os investigados soubessem o que delegados e procuradores têm a dizer sobre a investigação.
"Há dois grupos dentro da CPI, e o presidente, como advogado, se filia a este grupo, de aceitar que os advogados lá estejam. O delegado que depôs ontem disse que se tivesse representação dos acusados, ele não falaria o que falou. E há um grupo que acha que o Poder Legislativo teria todas as condições, porque é do seu interesse, de fazer uma CPI onde não tivéssemos a presença de nenhum advogado de nenhuma parte", finalizou Onyz Lorenzoni.
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