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Segunda - 14 de Maio de 2012 às 03:33

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Quinze mortos. Sete foram vítimas de um crime violento e os outros oito sofreram um desastre ainda sem explicação.

Nesta sexta-feira (11), o tripulante operacional Claudio Teodoro carregou o caixão do chefe. A delegada-geral do estado de Goiás, Adriana Accorsi participou de sete enterros de colegas em três dias. Ela e Claudio são da Polícia Civil de Goiás.

Adriana comanda a investigação da chacina que deixou sete mortos em Doverlândia, a 400 quilômetros de Goiânia, no dia 28 de abril. Nesta terça-feira (8), a equipe dela foi de helicóptero até a fazenda onde o crime aconteceu para uma reconstituição. A delegada ficou em Goiânia, onde teria uma reunião.

“Era importante que eu permanecesse aqui porque nos estávamos no meio de uma discussão salarial, uma negociação entre os delegados e o governo”, explica.

Entraram no helicóptero os delegados Vinicius Batista, Jorge Moreira e Antonio Golçalves; dois peritos – os primos Marcel de Paula Oliveira e Fabiano de Paula Silva – e Aparecido Souza Alves, o principal acusado do crime. No comando, o piloto Oswalmir Carrasco e o copiloto Bruno Carneiro, também delegados.

Um tripulante não embarcou: Claudio Teodoro, que auxilia os pilotos. “Não foi possível eu ir no momento, porque a lotação já tesava feita”, diz. Claudio ficou com a tarefa de ajudar no reabastecimento. Ele foi por terra até um ponto de encontro: o município de Piranhas, a 300 quilômetros da capital.

Acidente
A reconstituição do crime começou às 9h30. No meio da tarde, o piloto Oswalmir ligou para Claudio para avisar que o trabalho havia acabado e o grupo estava voltando. Segundo o auxiliar, ele disse "garoto, vamos embora, moleque. Daqui a 20 minutos cravados eu estou aí”.

Mas o helicóptero não apareceu. “Infelizmente foram os 20 minutos mais longos da vida da gente”, desabafa o auxiliar de pilotos. “Havia uma ligação de que um helicóptero da Polícia Civil tinha caído perto da cidade de Piranhas. Naquele momento eu soube que era verdade. Porque ninguém faria uma brincadeira assim”, afirma Cláudio.

O que aconteceu no ar ainda é um mistério. O helicóptero decolou de Doverlândia e voou por dez minutos. Em um determinado ponto, interrompeu a trajetória e girou antes de cair, segundo testemunhas.

Os corpos dos policiais foram enterrados ao longo da semana passada, com a homenagem dos colegas e da população. O sepultamento de Aparecido ocorreu na manhã deste domingo (13), no cemitério de Caiapônia, a 334 quilômetros de Goiânia.

Aparecido de Souza Alves, principal suspeito da morte de 7 pessoas em Doverlândia, estava no helicóptero que caiu em Goiás (Foto: Reprodução TV Anhanguera)

Aparecido de Souza Alves, principal suspeito da morte
de 7 pessoas em Doverlândia, estava no helicóptero
que caiu em Goiás (Foto: Reprodução TV Anhanguera)

Crime sem explicação
Aparecido tinha 23 anos, era garçom e não tinha passagens criminais. Em depoimento, confessou ter assassinado as sete pessoas na fazenda, com cortes profundos no pescoço.

Ele só saiu da cadeia para cumprir dois compromissos: para fazer a reconstituição da chacina que aconteceu no interior do estado e para ir até um prédio conversar com o psicólogo criminal, Leonardo Faria. Foram dois encontros dentro de uma sala. Mais de sete horas de conversa.

Faria, que há oito anos traça o perfil psicológico de criminosos, ainda não havia concluído a análise de Aparecido. Mesmo assim, pôde perceber que “os traços são bem consistentes de um perfil psicológico de um psicopata”.

Análises prévias apontaram que Aparecido tinha “dificuldade de lidar com sentimento de culpa, ausência de remorso, desprezo pelo outro, manipulador”. Nas conversas com o psicólogo, ele não revelou o motivo dos assassinatos – só descreveu o que havia feito sem qualquer emoção.

“Extremamente racional e objetivo naquilo. Agiu tudo em função do próprio prazer, muito egocêntrico e narcísico. Ele demonstrava um certo poder no relato. A forma de se portar, os ombros a cabeça, o olhar dele demonstrava assim: ‘eu tenho poder para fazer as coisas’, explica o profissional.

Investigação do acidente
Em um primeiro momento, houve a suspeita de que Aparecido teria, de algum modo, causado a queda do helicóptero. Mas uma imagem cedida pelo fabricante da aeronave mostra que ele teria dificuldade para atacar os pilotos – só uma pequena abertura liga a cabine da tripulação à dos passageiros.

“O preso estava imobilizado, sentado com um cinto de três pontas, algemado nos pés e nas mãos. Não havia a menor possibilidade de ele interferir no voo”, assegura o secretário de Segurança de Goiás, João Furtado Neto.

A Aeronáutica abriu uma investigação. Uma das hipóteses é a de falha na manutenção. No dia 4 de maio, o helicóptero entrou em revisão na Fênix Manutenção de Aeronaves. Foi liberado no dia 7, um dia antes do acidente.

Destroços do helicóptero que caiu em fazenda de Piranhas, Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Destroços do helicóptero que caiu em fazenda de Piranhas, Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Mas a Fênix estava proibida de funcionar. Teve as atividades suspensas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) no dia 2. Segundo a agência, havia problemas com peças, ferramentas e com o treinamento dos mecânicos.

“Temos consciência de tudo o que fazemos. Somos profissionais na área. Tudo vai ser esclarecido com o passar do tempo”, afirma o representante da empresa, Assumar Conceição

Outras possibilidades são falha do piloto e defeito no helicóptero. O fabricante enviou um técnico a Goiás e afirmou que, por enquanto, é prematuro especular sobre as causas.

A investigação da chacina também continua, com novos delegados. Adriana e Claudio escaparam da morte, mas os últimos dias têm sido difíceis. “Pensamento que fica é se eles sofreram, se eles se assustaram”, comenta Adriana.

“É um sentimento de assistir ao próprio velório”, define Claudio. “Ele dizia assim: ‘Claudinho, voar é fantástico. Mas pairar é divino’. Nesse momento ele deve estar pairando e admirando tudo que é divino por aí”, conclui Claudio.






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