“Eu peço desculpas por ter alterado a verdade dos fatos e às pessoas que estavam envolvidas, principalmente ao Papa”, afirmou Boffo. “Eu não quero atribuir a ele uma ação que não teve intenção de realizar. Ontem autorizei a divulgação de uma notícia que era verdadeira, mas verdadeira só em parte e em parte não verdadeira, porque o Papa não se reconhece na palavra exorcismo.”
Boffo ainda acrescentou que “somente quem pratica um exorcismo pode dizer se está realizando o procedimento ou se está apenas abençoando um fiel.”
Mais cedo, o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, assegurou que Francisco não havia realizado um exorcismo, mas sim orado por um doente.
“O Santo Padre não teve a intenção de realizar um exorcismo. Ele, como faz frequentemente pelas pessoas que estão doentes, rezou por alguém que sofria”, disse Lombardi, em nota.
De acordo com o jornal italiano “La Stampa”, o jovem que aparece nas imagens com o Papa é um mexicano que foi à Praça de São Pedro acompanhado pelo padre Juan Rivas, da Congregação dos Legionários de Cristo. O rapaz já teria sido submetido a uma sessão de exorcismo pelo padre Gabriele Amorth sem que fosse possível libertá-lo, pois se trataria de “uma possessão diabólica violentíssima”.
Para o padre Jesus Hortal, foi apenas uma bênção
Apesar da negativa do Vaticano, especialistas consultados pelo programa “Vade Retro” assistiram às imagens e afirmaram que um gesto do menino supostamente exorcizado confirmava as suspeitas: quando o Papa coloca as mãos sobre seu rosto, o doente abre a boca.
O programa ainda afirmou que a expressão do Papa mudou ao ver a reação do jovem, mas ele continuou tranquilo. Nas imagens, é possível ver que o Pontífice põe as mãos por algum tempo sobre a cabeça do menino, que reage de uma forma discreta ao toque de Francisco. Sobre o vídeo, o padre Jesus Hortal Sanchez, professor de teologia e ex-reitor da PUC-Rio, afirmou ao GLOBO que a interpretação de um possível exorcismo não faz sentido.
- O Papa simplesmente fez a oração e nada além disso. Colocar a mão sobre a cabeça de uma pessoa não é exorcismo, é gesto de carinho e pode significar muitas outras coisas. Na confissão se faz isso. Essa interpretação é completamente sem sentido.
Na mesma linha, a teóloga da PUC-Rio Maria Clara Bingemer acredita que não há nada nas imagens que justifique as suspeitas do “Vade Retro”.
- Acho que devemos acreditar no que o porta-voz do Vaticano está dizendo. Me parece mais uma oração a um doente, já que esse Papa desde o início tem se prontificado a abençoar e ter contato com as pessoas. Nas imagens, não há nada que possa demonstrar um exorcismo. Quando o menino abre a boca, ele pode ter falado alguma coisa ou ter tido uma reação à bênção - afirma a especialista.
O padre e mestre pelo Vaticano em Ciências Bíblicas Leonardo Pessoa - em entrevista ao GLOBO - lembrou que o ritual é complexo e longo e descarta a possibilidade de que Francisco tenha feito algo do gênero nessas condições.
- O ritual do exorcismo é complexo, seria mais longo e complicado. Além disso, normalmente a Igreja pede primeiro avaliação médica e psicológica. Como Papa, ele poderia saltar os requisitos, acho; mas não acredito que teria feito algo do gênero assim.
Religioso diz que gesto é típico de exorcista
Já o padre Giulio Maspero, especialista em teologia sistêmica e que participou de dezenas de exorcismos, afirmou à agências internacionais que está certo de que a oração de Francisco se tratou de um “exorcismo ou pelo menos de uma oração para libertar o jovem da possessão diabólica”. Em entrevistas, ele destacou que as mãos do Pontífice sobre a cabeça do fiel é uma “posição típica” usada por um exorcista.
- Quando se é testemunha de alguma coisa assim, para mim foi impactante, é possível sentir o poder da oração - afirmou Maspero, referindo-se às próprias experiências.
O padre disse que o suposto exorcismo efetuado pelo Pontífice foi especialmente simbólico, que mostra a recepção do Espírito Santo pelos apóstolos de Jesus.
- O Espírito Santo está relacionado com o exorcismo porque é a manifestação de como Deus está presente entre nós e em nosso mundo.
Segundo a imprensa italiana, o Papa João Paulo II realizou um exorcismo em 1982, perto do mesmo local onde Francisco orou pelo jovem na cadeira de rodas no domingo.
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