A piloto explicou que ordenou a retirada do passageiro por uma questão de segurança. “Se acontece qualquer coisa, uma rajada, se acontece uma turbulência, que ele sinta desconfortável e entra em pânico, ele pode colocar um avião com 100 pessoas inteiro em pânico dentro da aeronave”, diz. A Polícia Federal foi chamada para retirar o passageiro.
A situação, até então inusitada para Betânia, aconteceu no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, no último dia 18. O voo da Trip ia para Palmas, com escala em Goiânia. Ao saber que o avião seria pilotado por uma mulher, um passageiro comentou que, se soubesse que era uma comandante, não teria embarcado. "Ele não me xingou". Para ela, o passageiro comentou que iria voar só porque precisava.
Depois de quase uma hora de confusão, a piloto contou que os outros passageiros ficaram irritados com a atitude do homem. “Ele ficou mais alterado, veio aqui para frente, começou a fazer discurso, os passageiros se alteraram com ele, falaram com ele que era para ele resolver a vida dele e descer”, lembrou Betânia.
Um empresário testemunhou tudo. “Levou uma vaia e desceu tranquilo, sorridente, como se nada houvesse acontecido. Um preconceito que eu nunca vi igual”, conta Paulo César de Oliveira.
O passageiro saiu do avião acompanhado por um delegado e dois agentes da Polícia Federal. Ele não embarcou em nenhum outro voo da companhia. O bilhete continua em aberto. O Fantástico tentou falar com Jeferson Jaime Cassoli. Por telefone, conversamos com a esposa dele. “Ele não quer falar. Ele ficou extremamente chateado com o que aconteceu. Nunca tinha acontecido isso”, disse.
Mercado feminino
Mulheres no comando de aviões representam menos de 2% dos mais de 17 mil pilotos que atuam no Brasil, mas esse número está crescendo. De 2003 a 2011, as licenças de piloto para mulheres aumentaram de 43 para 230.
“Quando uma mulher se apresenta no mercado com as mesmas credenciais de um homem para uma função, mesmo assim, ela tem que provar muito mais que ela é competente”, analisou a socióloga Maria Rosa Lombardi.
E não é só na aviação civil que elas estão presentes.
“Chegar aqui para mim, com certeza foi o meu sonho”, disse a tenente Joyce de Souza. A tenente é a primeira mulher a comandar um Hércules, um gigante da Força Aérea Brasileira (FAB).
“Às vezes você ouve brincadeira, aquelas de sempre, "ainda bem que não faz baliza, não tem poste". Mas preconceito, desconfiança séria, achar que você não é capaz, eu tenho muita satisfação de dizer que eu não passei por essa situação”, disse. Ela comanda uma tropa de homens.
“O fato de ter uma mulher no comando da aeronave é um orgulho para tropa paraquedista”, disse um dos comandados pela tenente.
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