Após analisar os dados do estudo TIC Domicílios, divulgado nesta quinta-feira pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), Alexandre Barbosa, gerente do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic), classificou o Brasil em dois "países" diferentes. "Um país é o Sul-Sudeste-Centro-Oeste, e o outro é o Norte-Nordeste. No primeiro, a proporção de domicílios com acesso à internet é entre 40% e 50%. No segundo, ela gira em torno de 20%", afirmou ele. "É uma disparidade muito grande."
A pesquisa fez um levantamento em 25 mil domicílios para mensurar a presença do computador e da internet nos lares brasileiros, e constatou uma grande diferença no acesso à tecnologia. O Centro-Oeste, ressalvou o coordenador de pesquisas do Cetic, Juliano Cappi, também poderia ser dividido em dois. "Existe Brasília, com um padrão muito bom, e todo o resto, que se aproxima das regiões Norte e Nordeste", disse ele.
Além do fator regional, o estudo apontou grandes diferenças de acordo com a renda e com o grau de urbanização. Nas classes A e B, por exemplo, o acesso à internet é feito por 96% e 76% dos domicílios, respectivamente. Essas duas faixas, no entanto, representam apenas cerca de um quarto da população. Todo o resto dos brasileiros ainda tem um precário contato com a rede: 35% da classe C e apenas 5% das classes DE.
Uma das consequências da pesquisa foi evidenciar a importância das lanhouses para a inclusão digital. Apesar de esses estabelecimentos terem perdido importância relativa no acesso à internet no País como um todo, eles ainda têm papel importante nas regiões Norte e Nordeste, nas áreas rurais e nas faixas de renda mais baixas.
Na classe A, o acesso à rede é praticamente todo feito a partir de casa (98%), enquanto as lanhouses possuem apenas uma importância residual (8%). Porém, para as faixas de renda menores, os centros de acesso pagos têm grande relevância: nas classes DE, 60% dos pesquisados acessam a rede em lanhouses, enquanto apenas 21% o fazem em seus lares. "As lanhouses continuam sendo importantes para a inclusão digital", analisou Barbosa.
Áreas rurais
A internet nas áreas rurais começou a ser mensurada pelo CGI em 2008. De lá para cá, foi possível notar um certo aumento, mas muito menor do que nas áreas urbanas. Enquanto nestas últimas o acesso à internet cresceu de 20% em 2008 para 43% no ano passado, a penetração da rede no meio rural foi de 4% em 2008 para 10% em 2011. "Temos que planejar ações voltadas para a área rural, porque se nada for feito a desigualdade tende a aumentar", alertou Barbosa.
Quando se leva em consideração toda a população com mais de 10 anos, a diferença se evidencia. Nas áreas urbanas, 50% das pessoas acessaram a internet nos últimos três meses; nas rurais, o índice cai para 18%. "Temos toda essa população que está alijada do acesso à internet. Isso é um alerta para que tenhamos um crescimento mais qualitativo", afirmou Cappi.
Segundo os pesquisadores, os dados levantados pelo estudo servirão para orientar políticas públicas de inclusão digital. "O uso da internet no Brasil está crescendo, isso é fato. No entanto as desigualdades não estão se alterando" analisou Cappi. "Se os nossos planejamentos não começarem a combatê-las, vamos alcançar 50% dos domicílios com internet e travar. O governo precisa buscar soluções para minimizar essa diferença", disse ele, no que lhe fez coro o secretário-executivo do CGI, Hartmut Glaser. "A internet não deve ser um privilégio para alguns, deve ser um bem a que todos têm acesso. Esperamos que com esses dados e políticas públicas não haja mais tanta diferenças entre o nível de acesso", afirmou.
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