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Polícia
Domingo - 03 de Junho de 2012 às 23:34

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Esta semana, policiais da tropa de elite da PM de São Paulo, a Rota, mataram seis pessoas numa única ação. A polícia diz que os bandidos resistiram e houve tiroteio. Mas uma testemunha tem outra versão para o caso: execução sumária. A reportagem é de Maurício Ferraz e Valmir Salaro.

As imagens mostram os segundos anteriores ao encontro de policiais com uma quadrilha de assaltantes. Os policiais são da Rota, uma tropa de elite da PM de São Paulo. As imagens, obtidas com exclusividade pelo Fantástico, são do roubo a um supermercado da Zona Norte de São Paulo, em agosto do ano passado. Os policiais dizem que houve confronto. Seis assaltantes morreram.

Esta semana, a Rota voltou a matar e há suspeitas de execução. Uma testemunha afirma que viu PMs do grupo cometendo crime, como mostra o repórter Valmir Salaro.

Foi na segunda-feira (28/05) à noite. Uma denúncia anônima, segundo a polícia, levou a Rota ao estacionamento de um restaurante na Zona Leste de São Paulo. Na versão oficial, uma quadrilha estava reunida planejando como libertar bandidos presos em cadeias do estado. A polícia chegou e os suspeitos teriam reagido à ordem de prisão. Seis morreram durante o tiroteio. Outros três foram presos e cinco fugiram. De acordo com a polícia, havia drogas e armas com o bando.

No caso de um dos seis suspeitos mortos, há uma denúncia grave. Ainda com vida, esse suposto integrante da quadrilha foi colocado num carro da Rota por um sargento e dois soldados. A seis quilômetros do restaurante, eles pararam no acostamento da Rodovia Ayrton Senna. Perto, há uma favela. Uma senhora que mora em um barraco com a família é a principal testemunha contra os policiais da Rota, que são acusados de tortura e assassinato.

A mulher ligou para a polícia e contou em tempo real o que, segundo ela, estava acontecendo. Disse viu da janela da casa quando os três PMs chutavam o suspeito e que um deles chegou a atirar a queima roupa no homem. Ela afirmou ainda que, dez minutos depois, ouviu outros disparos e que, na sequência, os PMs colocaram o corpo na viatura e foram embora.

Agora, depois de fazer a denúncia, ela se mudou do bairro com a família e está vivendo sob proteção do estado. Os três policiais estão presos e negam as acusações. Dizem que pararam o carro no acostamento, porque um deles sentiu cãibras e que não praticaram nenhum tipo de violência contra o suspeito. Mas para o comandante da Rota, o tenente-coronel Salvador Modesto Madia: “Houve um desvio, e o desvio não é aceito. Estão sendo autuados e vamos verificar a conduta”.

“A polícia está extrapolando da função dela. Ela está exercendo a Justiça com as próprias mãos”, ressalta a promotora de Justiça Luciana Frugiuele.

O Fantástico mostra policiais da Rota em ação. Na madrugada de sexta-feira, 5 de agosto do ano passado, criminosos assaltam um supermercado. Também neste caso, seis deles vão ser mortos.

Nossa equipe teve acesso às 13 câmeras de segurança do supermercado. São mais de 17 horas de gravação, que mostram vários ângulos da ação da polícia e dos assaltantes. Uma das câmeras tem uma imagem suspeita.

Dez ladrões encapuzados invadem o local. Estão armados com pistolas, espingardas calibre 12, fuzil e metralhadora. Três funcionários são feitos reféns. Um dos criminosos usa um maçarico para arrombar o caixa eletrônico do supermercado. De repente, começa um corre-corre.

As câmeras mostram quando um funcionário foge e dois se escondem debaixo de uma mesa. Eles se assustam com o barulho de tiros, que vem do lado de fora. Um dos suspeitos é morto dentro do carro da quadrilha. Na época, a PM disse que recebeu uma denúncia anônima, avisando sobre o assalto.

Dentro do supermercado, os assaltantes procuram um esconderijo e vão para o depósito. Um deles, de blusa escura, anda de um lado para o outro enquanto fala ao celular. Dá pra notar que os outros não estão mais encapuzados. Neste momento, as imagens não mostram nenhum deles com armamento pesado, como fuzis e metralhadoras. Mas não é possível perceber se estão com armas menores escondidas. Assim que o celular é desligado, cinco assaltantes saem correndo, sobem em caixas e vão para uma parte superior do prédio.

Segundos depois, chegam os policiais da Rota. Os funcionários são arrastados e mantidos sob vigilância, até os PMs terem certeza de que são reféns mesmo e não ladrões. Agora, parte da tropa vai para o depósito, onde os assaltantes se esconderam.
Três policiais olham em direção à câmera e, quase imediatamente, ela é virada. E até o fim da gravação não volta para a posição correta. Na época, a íntegra das imagens não foi divulgada pela polícia, que apresentou apenas uma versão editada. Os policiais da Rota disseram que cinco dos seis assaltantes foram mortos em confronto, justamente no depósito do supermercado.

Fotos da própria polícia mostram que alguns levaram tiros na cabeça e também nas mãos e nos braços, o que sugere uma tentativa de defesa.

Policiais, promotores e procuradores de Justiça ouvidos pelo Fantástico são categóricos. Afirmam que nos dois casos mostrados na reportagem, que terminaram com 12 mortos, as denúncias não foram anônimas, como divulgou a PM. Dizem que a Rota soube com antecedência que as quadrilhas planejavam os crimes.

Segundo essas autoridades, as informações privilegiadas vêm de escutas telefônicas que monitoram os integrantes da quadrilha que age dentro e fora das cadeias do estado de São Paulo.

O comandante da Rota nega irregularidade: “Não existe esse tipo de coisa, se não for dentro da legalidade. Não existe. Se não for pro ordem judicial, não existe isso”.

Nossa equipe procurou o comando da Polícia Militar. Uma entrevista chegou a ser marcada com o corregedor-geral da PM, mas foi cancelada por ordem da Secretaria de Segurança Pública.

O Instituto Sou da Paz, que há 10 anos trabalha pela prevenção da violência no Brasil, faz um alerta. “É importante que a sociedade cobre uma polícia eficiente e uma polícia garantidora de direitos. Por mais que as pessoas tenham medo e elas queiram uma polícia violenta, isso não vai trazer mais segurança. Não é o modelo de sociedade e nem de segurança que a gente precisa”, afirma a diretora do instituto, Melina Risso.
 





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