O empresário goiano José Batista Júnior, conhecido como Júnior do Friboi, defendeu nesta segunda-feira a JBS-Friboi, empresa do ramo de frigoríficos, da qual é um dos controladores. Segundo ele, houve uma interpretação errada em se associar a parceria da empresa com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a uma cogitada - e já abandonada - ideia da holding J&F de comprar a Delta, apontada como ligada ao contraventor Carlinhos Cachoeira. "O BNDES é sócio, acionista, da JBS. Estão misturando as coisas. Não tem nada a ver com Delta, com J&F. É totalmente um equívoco o que estão falando. Os produtores estão falando coisas que não estão condizendo com a verdade", declarou.
Para o empresário, o caso Cachoeira e suas repercussões podem levar a uma renovação na política goiana. "De uma maneira ou outra o caso faz muito bem a Goiás. Sobretudo, precipita até uma grande renovação em Goiás, para que a gente possa refletir sobre a política. A política tem que continuar, não pode ser deteriorada da forma que está", disse. Antes declarado aliado do governador Marconi Perillo (PSDB), Júnior do Friboi busca se consolidar na oposição e deve enfrentar o tucano na eleição estadual daqui a dois anos.
Batista Júnior, vice-presidente do PSB em Goiás, se afastou da direção dos negócios para se dedicar à carreira política. Ele nega também que o governo federal ajude seus negócios particulares por ele estar filiado a um partido da base de sustentação governista. "O governo federal não tem nos ajudado, ele tem apoiado o Brasil, a internacionalizar as empresas brasileiras", acredita.
O empresário afirmou ainda que não há razão na crítica de setores do agronegócio e da política de que houve favorecimento do governo federal em negociação de ações da sua empresa e empréstimos com o BNDES, com consequente formação de cartel no setor.
O banco estatal é sócio do JBS - tem mais de 30% de suas ações - e emprestou bilhões para a empresa, considerada a maior produtora e exportadora de proteína animal do mundo. "Não há cartel, não existe isso. Hoje nós representamos 17% do abate nacional", explicou Batista Júnior. Para ele, as críticas partem de uma minoria de produtores que tem interesses particulares e tem tentado construir uma polêmica sobre o caso na mídia.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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