No teste para o cargo de auxiliar de administração, consta uma questão que pede para assinalar a alternativa em que o adjetivo caracteriza a mulher de Oscar, na situação apresentada no último parágrafo do texto da prova de português. No gabarito oficial, a resposta correta é o ítem "B - esperta". Os demais ítens são "honesta", "invejosa", "fofoqueira" e "resmungona".
Rodrigo explicou que a namorada fez a prova e ligou para ele "estarrecida" com a questão e mais ainda com a resposta considerada correta pela banca. "Havia outros ítens que poderiam ser mais certos. Na verdade, se eles quisessem fazer a correção, que colocassem "resmungona". Na melhor das hipóteses, eu acho que não só deveria ser anulada a questão como o Ministério Público deveria avaliar uma questão dessa em concurso público", afirma.
O estudante disse ainda que, como vai prestar o mesmo concurso no próximo domingo (10) para outro cargo, aproveitou para ver como o conteúdo foi cobrado. "E me deparei com essa questão absurda para um futuro servidor público, efetivo. Só uma pessoa desonesta poderia acertar uma questão dessa", diz.
Nota da redação: o presidente da comissão coordenadora do concurso pelo município de Beberibe, Paulo Furtado, disse que entre mais de 7 mil inscritos é "natural" que apareçam pessoas que queiram "denegrir" a imagem do concurso. "Do mais humilde ao mais graduado, só há elogios à prova", afirmou. Furtado disse que alguém pode se sentir prejudicado por ter uma "casca de banana", mas tem o direito a recorrer do resultado. "Isso é coisa de concurseiro. Está lá no edital que ele tem o direito a recurso e recebe a devida resposta da CCV. Mas está tudo tranquilo", disse.
A presidente da coordenadoria de concursos (CCV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), responsável pela elaboração da prova, Maria de Jesus de Sá Correia, confirmou que a resposta correta para a questão seja "esperta". Mas, de acordo com ela, a palavra está contextualizada no sentido utilizado no dicionário Houaiss, de "espertalhão, que tenta levar vantagem em tudo". "Foi nesse sentido que a banca viu a história. Estamos selecionando servidor público e tudo que não se quer é estereotipar o servidor público como enrolão", afirmou.
De acordo com ela, o texto trata a questão da burocracia e da esperteza de forma crítica e que o próprio autor do texto, Fernando Sabino, não autoriza que se interprete "esperteza" de forma positiva. "Quem conhece a obra de Fernando Sabino reconhece que ele é um crítico da sociedade. Isso leva um leitor atento a perceber como foi produzido. Hoje não se faz interpretação isolada, de forma literal. Nesse caso, tem de se considerar uma que tenha o significado de crítica", defendeu.
Além disso, a professora informa que a banca abordou o tema "de propósito" para uma reflexão sobre o tema. "E que fique claro que a postura da personagem não é uma posição nem do autor nem da gente", disse.
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