A CPI do Cachoeira ouve nesta semana os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), na terça (12); e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), na quarta (13). Serão as primeiras autoridades do Executivo a depor na comissão criada para investigar as relações entre políticos e empresários do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso em fevereiro sob a acusação de corrupção e exploração de jogos ilegais.
As investigações da Polícia Federal mostram atuação do contraventor nos dois governos (leia abaixo). Após os depoimentos, parlamentares podem pedir a votação da abertura de dados sigilosos dos governadores. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) afirmou que, diante das dúvidas envolvendo o governador de Goiás, a quebra de sigilo de Perillo ficará mais próxima de ser votada.
"Têm muitas questões a serem esclarecidas, e vão ser muito difíceis de ser esclarecidas. É quase inevitável a quebra do sigilo", disse.
Inicialmente, foi apresentado um requerimento do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) para quebra do sigilo telefônico de Perillo. Posteriormente, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PSDB-PR), pediu também a inclusão de Agnelo e Sérgio Cabral (RJ) no requerimento de abertura das ligações telefônicas.
A votação dos pedidos depende da pauta, conduzida pelo presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG).
Atuação em GO e DF
No caso de Goiás, a suspeita é a de que Cachoeira cooptasse setores da polícia para manter máquinas caça-níqueis e tivesse influência na nomeação de servidores. Gravações da Polícia Federal ainda apontam que Cachoeira teria comprado, por meio de intermediários, a casa que pertencia a Perillo. Em outra interceptação, Cachoeira ordena que um auxiliar entregue uma caixa contendo R$ 500 mil no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano.
Na semana passada, o radialista Luiz Carlos Bordoni que fez campanhas eleitorais para o tucano disse que recebeu uma parcela do pagamento de uma empresa de fachada ligada a Cachoeira e outra, em espécie, diretamente de Perillo, quando ainda era candidato. Perillo sustenta que a venda da casa foi legal e tinha como comprador o empresário Walter Paulo Santiago. Ele também negou ter entregue dinheiro a Bordoni e processa o jornalista por danos morais.
Contra Agnelo Queiroz, pesam suspeitas de que Cachoeira atuasse como "sócio oculto" e lobista da construtora Delta, que mantinha contratos de limpeza urbana com o governo distrital. As inteceptações mostraram que o grupo do bicheiro teria também tentado fraudar licitação de bilhetagem eletrônica no transporte público do DF, negócio que acabou não se concretizando.
Após as denúncias, ocorreram demissões nos dois governos. Em Goiás, deixaram o cargo a chefe de gabinete de Perillo, Eliane Pinheiro, e o secretário especial Lúcio Fiúza. A primeira é suspeita de repassar informações, supostamente vindas de Cachoeira, sobre operações da PF com foco em aliados. Ela negou e disse que foi confundida. Já Fiúza é apontado como um dos intermediadores da venda da casa de Perillo.
No DF, o chefe de gabinete de Agnelo Claudio Monteiro deixou o cargo. Gravação da PF mostra diálogo entre dois auxiliares de Cachoeira combinando o pagamento de R$ 20 mil mais uma mesada de R$ 5 mil para Monteiro, em troca da indicação de uma pessoa de interesse do grupo para a direção Serviço de Limpeza Urbana de Brasília (SLU), área de interesse da Delta.
Também deixaram o governo do DF o diretor administrativo-financeiro do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), Milton Martins de Lima; o diretor do SLU João Monteiro, o funcionário da Casa Militar Marcello de Oliveira Lopes; e João Carlos Feitoza, da Fundação de Amparo ao Preso. Todos negam relação com o grupo do bicheiro.
Expectativa
Os dois governadores, que negam influência de Cachoeira sobre os governos, já confirmaram presença na comissão, e disseram que os depoimentos serão válidos para rebater as denúncias. Os pedidos para convocar Perillo e Agnelo chegaram a ter a votação adiada por três vezes e só foram aprovados após um racha entre PT e PMDB na CPI, com a quebra do sigilo nacional da construtora Delta.
O governador do Rio de Janeiro (PMDB), que também foi cogitado para depor por causa da relação próxima com o ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, acabou não sendo chamado.
O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) disse que a audiência será útil para o tucano "virar o jogo" "Eu acho que o depoimento dele vai ser importante para que ele [Perillo] consiga virar o jogo. Estou confiante que ele vai conseguir explicar bem esta história da casa, que já está explicada", disse Nunes.
Já o vice-presidente da CPI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), diz que a situação de Agnelo é "diferente" da de Perillo. "O Agnelo não tem relação direta com o Cachoeira. Por mais que tentem, o grande depoimento da semana será o do Perillo", afirmou.
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