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Com o cenário de rompimento entre PT e PSB em cidades importantes como Recife e Fortaleza, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) manda o seu recado: “É natural que a eleição municipal seja uma eleição onde haja mais dispersão das forças, mais disputa”.
Em entrevista ao blog, Eduardo Campos ressalta que o partido cedeu em São Paulo. Mesmo assim, ele admite que o debate interno deixou feridas: “Claro que não foi um debate singelo travado no PSB.”
Presidente nacional do PSB, Campos reconheceu o peso do ex-presidente Lula nessa decisão. “Lula falou da questão de São Paulo como uma questão estratégica para PT. E nós encaminhamos toda uma sorte de conversa interna do partido e conseguimos resolver.”
Em Recife, Campos responsabiliza a divisão interna do PT como o principal motivo para o PSB lançar candidatura própria. “Há uma divergência que não tem fim”, criticou.
A entrevista foi concedida nesta sexta-feira, no deslocamento de Eduardo Campos entre o Palácio do Planalto e o Aeroporto de Brasília. De lá, seguiu para São Paulo, onde o PSDB anunciou o apoio ao candidato petista, Fernando Haddad.
Leia a íntegra da entrevista:
Blog do Camarotti – Governador, como está hoje a relação PT-PSB para essas eleições? Pode haver muitos rompimentos?
Eduardo Campos – A eleição municipal tem características próprias. A disputa do município sempre se dá com maior intensidade do que nos pleitos estaduais e no pleito nacional. É muito difícil uma frente política dos partidos comungarem das mesmas posições em todos os municípios, então é natural que na eleição municipal haja mais dispersão das forças, mais disputa. E a gente tem que fazer isso com muita tranquilidade.
Blog – Em São Paulo, o PSB fez um gesto de aproximação com o PT. No encontro de hoje isso se consolida?
EC – A eleição em São Paulo foi colocada como prioritária pelo Partido dos Trabalhadores. Nós temos uma relação com o PT no projeto nacional que vem sendo liderada hoje pela presidenta Dilma, dando sequência ao que foi o governo do presidente Lula. Nós fizemos uma avaliação do ponto de vista político de que não tínhamos nenhuma candidatura natural dentro do PSB, e que em nome dessa relação e desse projeto, era importante que tomássemos a decisão que estamos anunciando em São Paulo.
Blog – Qual foi o apelo do ex-presidente Lula para o PSB?
EC – Não houve apelo do presidente Lula para o PSB. Houve conversas há cerca de 90 ou 120 dias atrás, das duas direções, em que o presidente Lula participou. Ele ouviu ponderações em relação a lugares que a gente poderia ter apoio do PT. Outros a gente já sabia que não ia ter ou que já estava disputando com o próprio PT. E ele falou da questão de São Paulo como uma questão estratégica para o Partido dos Trabalhadores. E nós encaminhamos toda uma conversa interna do partido e conseguimos resolver.
Blog – Fica uma sequela no PSB local, já que o partido apoiava o governo Alckmin?
EC – Claro que não foi um debate singelo o travado no PSB. Até porque tínhamos um posicionamento que veio a ser tomado pelo partido a nível local em função de divergências que tivemos com o PT regional. Mas tratamos isso com cuidado e com muito respeito às lideranças do nosso partido, e chegamos a uma posição de construir esse caminho na direção nacional junto com a direção estadual e municipal.
Blog - Em Recife, aconteceu o inverso: PSB e PT eram aliados e agora os dois partidos estão praticamente rompidos…
EC – Não se trata de rompimento do PT com o PSB e a Frente Popular [aliança PT, PSB, PCdoB e PDT] em Recife. Pelo contrário. O que há é um enfrentamento que já dura quase quatro anos de debate interno dentro do PT, que levou o partido a ter uma prévia internamente muito acirrada e que todos os partidos da Frente, inclusive o PSB, assistiram a esse processo torcendo para que o PT pudesse construir a sua unidade, o que não ocorreu até o dia de hoje. Até o dia de hoje há recursos às instâncias nacional do PT, há processos que foram para a justiça. E há uma divergência que não tem fim. E no momento em que se avizinha o processo das convenções, o PSB colocou à disposição da frente quatro nomes para que, não havendo – como não houve até agora – entendimento dentro do PT, o PSB possa liderar a frente, preservar e fazer avançar os projetos e as mudanças que fizemos ocorrer na vida de Pernambuco e também na cidade do Recife.
Blog – A possibilidade do PSB de Recife lançar um candidato próprio não pode criar atrito pro futuro?
EC – Claro que seria muito mais singelo se todos os partidos estivessem juntos em torno de idéias, de um pensamento, de um programa para a cidade, que está reclamando mais avanços. Mas se isso não for possível, nós não podemos dizer agora que isso vai significar uma dispersão das nossas forças. Se necessário for, vamos fazer esse debate com elegância, dentro do padrão que a gente faz na política, como fizemos, por exemplo, em 2006, em que eu disputei eleição no primeiro turno com o hoje senador Humberto costa. Quatro anos depois, estávamos ocupando uma mesma chapa majoritária. Se não for possível construir essa unidade, será por razões que não foram montadas por nós, mas por razões que passaram das nossas expectativas, porque vieram exatamente de uma divergência dentro do Partido dos Trabalhadores. Uma divergência que a cidade assistiu em seis meses de um debate duríssimo. E aí, se a gente for levado a ter duas candidaturas da Frente Popular, que nós não desejamos porque queremos a unidade, por que não discutir a unidade em torno de uma candidatura do PSB, já que o PT não está conseguindo construir a unidade? Essa pergunta é que a gente tem feito aos partidos da Frente. Espero até o prazo jurídico, do dia 30 de junho, construir unidade. Se não construirmos, vamos fazer o debate e o povo vai julgar.
Blog – Fortaleza também é outro problema PTxPSB. Já há um rompimento de fato. Como resolver isso agora?
EC – Pelo relato que eu tenho do governador Cid Gomes e dos companheiros do PSB em Fortaleza, o PSB fez um esforço no sentido de construir a unidade. Não foi possível, não foram compreendidas as ponderações feitas pelo partido. Houve uma tomada de decisão pelo PT. E por outro lado houve tomada de decisão pelo PSB. Agora, a cidade vai julgar.
Blog - O PT se preocupa muito com o PSB porque há uma proximidade grande em várias capitais com o PSDB. Isso pode afetar a relação futura?
EC – Não, as proximidades e as alianças que nós temos vêm de muitos anos. E isso nunca evitou que o PSB estivesse ao lado do PT ao longo desses anos no projeto nacional. Nós temos uma aliança com o PSDB, por exemplo, em Belo Horizonte, junto com o PT. Nós temos aliança com o PSDB em Curitiba, que vem de muitos e muitos anos. Não foi feita ontem. Mas nós estamos em muitos lugares apoiando o Partido dos Trabalhadores, inclusive em São Paulo e outras capitais. Isso é próprio da dinâmica da política municipal, regional. Não vejo nenhuma incoerência nessa posição. Porque são posições que já assumimos ao longo de anos e anos. Até porque, com muitos desses companheiros do PSDB, nós construímos juntos a democracia, construímos avanços importantes na vida pública brasileira. E entendemos que essas alianças têm feito bem à população dos lugares que governamos juntos.
Blog – Quando esteve com a presidente Dilma, ela fez algum apelo em relação às eleições?
EC – Não, tratamos com a presidenta a questão desse ambiente econômico que vem aí com o aguçamento da crise na Europa, da visão dos Estados, da necessidade de estarmos mais juntos os governos dos Estados com o governo federal, incrementando o investimento público para animar a economia, para que a gente possa chegar ao final do ano podendo acelerar a economia e fazer um 2013 melhor do que 2012.
Blog – O PMDB aqui no Congresso Nacional já começa a ficar preocupado com a proximidade hoje do PSB com o PT (ou pelo menos do namoro entre os partidos) para a chapa de 2014. Tem risco de isso acontecer?
EC – Não… 2014 está muito longe. Agora o grande desafio é a gente ajudar a presidenta Dilma, o vice-presidente Michel Temer e todo o governo a enfrentar esse desafio que é minimizar os efeitos dessa crise internacional, que se assemelha à crise de 2009 na vida pública brasileira. É poder garantir que o consumo, o investimento, as exportações, que o esforço brasileiro poupe os empregos e preserve o mercado de trabalho que melhorou tanto nos últimos anos no Brasil. E que a gente possa chegar a 2013 com a economia ganhando outro ritmo.
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