O GLOBO: Quais os riscos de descriminalizar o uso da maconha?
JOSÉ “PEPE” MUJICA: Veja bem, a ideia não é liberar. Ao contrário, vamos controlar através de uma rede estatal de distribuição. Não estamos propondo uma legalização que permita que qualquer um possa ir ao armazém, comprar quantidades de maconha e fazer o que quiser. O Estado vai ter controle da qualidade, da quantidade, do preço, e as pessoas estarão registradas. Os cigarros terão controle digital, sendo possível rastrear sua origem por meio da assinatura química da amostra. É importante frisar que se você comprar 20 cigarros, terá que consumi-los e não poderá vendê-los.
Mas como será possível garantir que não haverá uma revenda da droga?
MUJICA: Com o registro no Estado, esses usuários serão facilmente rastreados se as regras forem violadas. Estamos anunciando um pacote de 16 medidas para combater a insegurança, mas só se fala nessa. O que nós esperamos é reduzir o número de crimes nas cidades uruguaias. A maioria dos crimes, hoje, é cometida por jovens delinquentes.
Não é um passo ousado demais?
MUJICA: Existem propostas semelhantes na Europa, e alguém tem que começar na América do Sul. Alguém tem que ser o primeiro, porque nós estamos perdendo a batalha contra as drogas e a criminalidade no continente. Faço isso pela juventude, pois as formas tradicionais de enfrentar este problema não deram resultado até agora. Temos que buscar outro caminho, mesmo que alguns o considerem ousado. O Uruguai é um país pequeno, onde se podem fazer as coisas com mais facilidade. Não somos grandes como o Brasil.
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