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Internacional
Domingo - 24 de Junho de 2012 às 11:18

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"Tayyip, cale-se já". É a mais sucinta mensagem na maré de cartazes em defesa do aborto, muitos dirigidos ao primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, qualificado como "inimigo das mulheres".

Em grande parte da população repercutiu negativamente Erdogan ter equiparado o aborto, legal na Turquia desde 1983, com o "assassinato" e prometido uma nova lei, que teme-se ser muito mais restritiva.

Erdogan assegurou que "cada aborto é um Uludere", em referência ao lugar onde, em dezembro, morreram 34 jovens civis curdos em um bombardeio do Exército turco, que os confundiu com guerrilheiros.

"Uludere é um crime; o aborto é um direito", defendem, por outro lado, os cartazes. Muitas das manifestantes usam um broche com o símbolo feminista e não duvidam em enquadrar as intenções do Governo na onda de conservadorismo que, segundo elas, é voltada diretamente contra a liberdade das mulheres.

"O Governo quer implantar pouco a pouco um sistema islâmico e o primeiro alvo é as mulheres", opina Arzu Becerik, que esteve em uma recente manifestação em Istiklal, a rua central de Istambul.

A jovem não vê diferença entre uma possível proibição total e a opção de limitar o aborto legal às primeiras quatro semanas, uma proposta adiantada por alguns porta-vozes do Governo, em contraste com as dez semanas atualmente em vigor.

"Um prazo tão curto não serve para nada. Duas ou três semanas é exatamente o tempo que uma mulher precisa para perceber que pode estar grávida, fazer os testes, e quando quiser tomar uma decisão, já não seria legal", critica a manifestante.

"Não sou uma incubadora", "Governo: tire suas mãos do meu corpo" e "Proibir o aborto é terrorismo de Estado", são algumas das mensagens na concentração, composta só por mulheres.

"O ministro da Saúde, Recep Akdag, disse inclusive que não é preciso abortar nem quando uma mulher for estuprada, porque o Estado cuidará da criança", diz indignada Arzu.

Na quinta-feira, Ümit Boyner, presidente da patronal turca TÜSIAD, também criticou duramente "as declarações humilhantes que insinuam que o estupro é algo quase natural", e na sexta-feira, o vice-primeiro-ministro Bülent Arinç, respondeu Boyner pedindo-lhe que cuidasse de seus próprios assuntos.

O debate já tomou conta do país inteiro. No último dia 17 de junho, três passeatas simultâneas foram realizadas em Ancara, Istambul e Esmirna. Nelas, além dos grupos ativistas feministas, estiveram mulheres de todo tipo e condição, também de convicções islâmicas, assegura uma militante que não se quer identificar.

A manifestante crê que o Governo corrigirá o andamento da situação, porque já são muitos os grupos, também no setor dos profissionais de saúde, que se opuseram publicamente ao projeto de proibição, assegura.

Este conflito parece ter aberto um novo foco no confronto entre os valores do laicismo oficial em um Estado de população majoritariamente muçulmana e uma ascendente classe política de conservadores religiosos.

Inclusive no próprio partido de Erdogan, Justiça e Desenvolvimento (AKP), escutam-se vozes dissidentes, como a do deputado Haluk Özdalga, que recentemente declarou à imprensa que "proibir o aborto seria um grande erro".

"Se for proibido, as mulheres que tiverem condição irão ao Chipre do Norte (República Turca do Norte do Chipre) onde um aborto poderia ser feito por cerca de mil liras, despesas de viagem incluídas, de modo que a lei só afetará as mulheres de menor poder econômico, que recorrerão a métodos caseiros de aborto", opinou.

Além disso, a plataforma "Pelo direito ao aborto e à decisão da mulher" apontou em comunicado que uma proibição abriria "o mercado negro do aborto" e causaria a morte de centenas de mulheres.

"Nem ministro, nem marido, nem teólogo: ninguém controla nosso corpo, nossa sexualidade, nem nossa fertilidade", reivindica a plataforma.





Fonte: EFE

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