A procuradora Léa Batista, uma das responsáveis por denunciar o bicheiro Carlinhos Cachoeira e outros envolvidos na Operação Monte Carlo, voltou a ser ameaçada por sua atuação no caso. Léa, que atua no Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO), recebeu um e-mail no último sábado com palavras de baixo calão e ameaças a ela e sua família.
Leá Batista já havia sofrido uma intimidação no último dia 13 de junho, mas a mensagem recebida tinha tom mais ameno. Assinada por alguém que se denominou "Injustiçado", o primeiro e-mail dizia que a procuradora estava sendo muito dura no caso e que familiares de Cachoeira continuavam ganhando dinheiro com a exploração ilegal de jogos.
Na mensagem deste sábado, o tom de ameaça fica claro já no título do e-mail: "Cuidado". O remetente, que assina como Silvio Caetano Rosa, resume a intimidação em apenas uma frase: "Sua vadia, ainda vamos te pegar, cuidado, você e sua família correm perigo".
As ameaças à procuradora estão preocupando o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Alexandre Camanho. Ele encaminhou ofício nesta segunda-feira ao corregedor do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Jeferson Coelho, pedindo providências sobre o caso para "garantir à colega a segurança imprescindível à boa consecução de suas atribuições". A expectativa é de que o CNMP analise o caso na sessão desta terça-feira.
Léa e o procurador Daniel Resende são os representantes do Ministério Público na Operação Monte Carlo, em Goiás, enquanto o procurador Carlos Alberto Vilhena gerencia os desdobramentos do caso no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília. A ANPR informou que não tem notícia de que os outros procuradores do processo tenham sofrido ameaças, nem que algum deles vá deixar o caso.
Na última semana, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que "o Ministério Público não pode correr o risco de ser surpreendido em razão de alguma ameaça".
No último dia 13 de junho, o juiz federal Paulo Augusto Moreira Lima, responsável pela ação penal derivada da Operação Monte Carlo, pediu afastamento do caso alegando ter sido ameaçado por pessoas ligadas ao grupo de Cachoeira. O juiz Alderico Rocha Santos assumiu o processo contra o bicheiro e outros réus da Operação Monte Carlo.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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