Mas, segundo sócio, nenhum vencedor de R$ 635 mil deixou de trabalhar.Copeiro, que apostava sempre, ficou de fora e não levou bolada.
20 levam bolão; copeiro sem R$ 10 fica fora
Ao todo, 20 funcionários de um tradicional restaurante do Rio de Janeiro, o Cervantes, famoso pelos fartos sanduíches, ganharam um prêmio da Quina de São João, loteria da Caixa Econômica Federal. Eles fizeram um bolão e ganharam o prêmio sorteado no sábado. Cada um dos 20 felizes trabalhadores embolsou R$ 635 mil.
“Foram dez garçons, seis copeiros, dois caixas, um cozinheiro e um gerente [os ganhadores]. Ao todo, tenho 47 funcionários”, contabiliza Juan Antonio Carballo Blanco, sócio-proprietário do Cervantes. Um funcionário que não tinha R$ 10 para a aposta ficou sem o prêmio. “Chorei muito, com certeza. Até em casa, com minha mulher, eu chorei”, contou o copeiro Lúcio Flávio Gonçalves Ozório, de 32 anos.
“Quando soube que eles ganharam, primeiro eu fiquei surpreso, porque foi a primeira vez que vi isso. Depois, senti alegria, por serem meus funcionários, e, mais tarde, fiquei preocupado, porque pensei: ‘E agora, como vou fazer já que 20 deles vão embora?”, conta Blanco, com um sorriso. Entretanto, ele conta que nenhum dos funcionários deixou de vir trabalhar. “A maioria deles é antigo na casa, e não me deixaram na mão. Fizemos uma reunião e acertamos que 15 deles vão trabalhar até o próximo domingo”, conta Blanco.
O curioso é que cinco ganhadores disseram que não pretendem sair ainda do restaurante. “Eles ainda não têm nenhum plano, nada em vista. Mas tenho certeza de que é uma questão de tempo, pois eles vão ver outras oportunidades”, diz o sócio-proprietário, que já está fazendo entrevistas de emprego para suprir a carência repentina de funcionários. “Mas deu tudo certo, pois aqueles que saíram porque ficaram ricos já indicaram parentes ou amigos para vir trabalhar”, explicou Blanco.
O Cervantes da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, funciona há sete anos, e a média dos salários dos copeiros é de R$ 1 mil, e dos garçons, de R$ 2,5 mil, já incluídas as gorjetas. Ou seja, os garçons teriam que trabalhar mais de 20 anos, sem gastar nada, para conseguir juntar o dinheiro do bolão. Já os copeiros: mais de 50 anos!
Por R$ 10, copeiro não fatura bolão
Mas nem tudo foi festa no Cervantes. O copeiro Lúcio Flávio Gonçalves Ozório, de 32 anos, e que trabalha há dois anos no restaurante, participa de todos os bolões, mas ficou de fora exatamente do jogo vencedor. “Um colega veio me pagar os R$ 10 que ganhei de uma aposta sobre o resultado de uma partida de futebol. Ele ainda me perguntou se não era para colocar no bolão, mas eu peguei a nota porque estava sem dinheiro para ir embora para casa”, recorda Lúcio. “O Lúcio aposta até em corrida de formiga, e não entrou no bolão”, disparou um colega dele.
“No dia seguinte, desci até triste do ônibus, só de chegar no restaurante e saber que os colegas vão todos embora, porque ganharam um bolão que eu não participei”, lamenta o copeiro. “Chorei muito, com certeza. Até em casa, com minha mulher, eu chorei”, acrescenta.
Mas, cabeça erguida, uniforme vestido e já trabalhando a todo vapor, Lúcio diz que não vai desistir e vai participar de todos os bolões daqui por diante. “Quem sabe lá para frente não tem uma coisa melhor guardada pra mim”, comentou ele. “O Lúcio tem que trabalhar para esquecer”, diz Blanco, patrão do copeiro. “E ele ainda vai ter uma surpresa, pois o pessoal que ganhou já disse que vai deixar uma boa gorjeta para ele e os outros que não participaram”, conclui Blanco.
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