Segundo o promotor, os apontamentos contradizem o que Elize apresentou no seu interrogatório à Polícia Civil. De acordo com o promotor, ao menos duas incongruências principais entre o que ela disse e o laudo vão aparecer no documento: a distância do tiro e a posição dela e da vítima no apartamento.
“Há discrepâncias técnicas sobre o que ela falou sobre o momento que deu o tiro na cabeça do marido e como o esquartejou que serão comentados no laudo da reprodução”, disse o representante da Promotoria sobre o crime que Elize confessou ter cometido em 19 de maio no apartamento do casal, na Zona Oeste da capital paulista.
Por decisão da Justiça, Elize está presa preventivamente na Penitenciária Feminina de Tremembé, no interior de São Paulo, até um eventual julgamento. Uma audiência de instrução ainda será marcada para saber se ela será submetida a júri popular pelos crimes.
Ela responde por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe (vingança), recurso que impossibilitou a defesa da vítima (o empresário foi baleado quando voltava ao apartamento com uma pizza), meio cruel (usou uma faca para cortar o pescoço do marido quando ele ainda estava vivo) e ocultação de cadáver (colocou as partes do corpo em sacos plásticos e os jogou em Cotia).
Elize alegou que o crime foi passional, que matou Marcos após uma discussão sobre a descoberta de uma traição dele. Afirmou que atirou na cabeça do marido após receber um tapa, ser xingada e ameaçada por ele, que falou em tirar dela a guarda da filha do casal. O Ministério Público argumenta que o crime foi premeditado, que ela matou o marido movida por vingança ao descobrir a traição e que queria ficar com o dinheiro do marido. A mulher é beneficiária de um seguro de vida da vítima no valor de $ 600 mil.
Reconstituição
Procurados pela equipe de reportagem, peritos que participaram da reprodução simulada confirmaram que a interpretação dos laudos necroscópico da vítima e do local do crime contradiz Elize a respeito das posições dela e de Marcos durante o disparo e a distância entre a vítima e a arma no momento do tiro.
A conclusão da reconstituição vai apontar que o homicídio ocorreu no interior do apartamento e que a dinâmica, em termos gerais, corresponde com os vestígios encontrados: o local onde houve o disparo e como Elize mostrou como arrastou o corpo são condizentes. Entretanto, o que será diferente do que a bacharel afirmou são a distância do disparo e a posição exata dela e a da vítima no momento do disparo.
Segundo o promotor Cosenzo, os principais pontos contraditórios entre a versão de Elize e o que o laudo da reprodução irá apontar são:
Distância do disparo
Elize alega que estava a cerca de dois metros de Marcos quando atirou, mas perícia informa que tiro foi a curta distância, menos de 50 centímetros.
Posição de Elize
Ela disse que estava em pé, de frente para o marido quando efetuou o disparo em direção à cabeça da vítima. Laudo apontará, no entanto, que a mulher não poderia estar nessa posição porque tiro acertou têmpora esquerda do empresário em direção à direita.
Posição de Marcos
A bacharel afirmou que o executivo estava num mesmo plano que o dela quando atirou nele. Exames discordam dessa versão: sugerem que vítima poderia ter sido atingida quando estava sentada comendo pizza ou estaria num plano mais baixo que o de Elize. Trajeto da bala no crânio é descendente, de cima para baixo.
“Esses dados, aliados à informação que tínhamos anteriormente, de que a bacharel atirou no marido e o esquartejou ainda quando ele estava vivo, reforçam a informação que o crime foi premeditado e não passional, como ré alega. Ela chegou a dizer que esperou algumas horas para cortar o marido, mas já sabemos que os cortes foram feitos logo após o disparo”, disse Cosenzo.
O que diz a defesa
O G1 não conseguiu localizar a defesa de Elize para comentar o assunto. O advogado Luciano Santoro chegou a afirmar em outras entrevistas anteriores que o crime foi passional, movido por paixão sob forte emoção, num ato impensado dela. Que Elize matou Marcos após discussão sobre uma traição do marido, quando ele a agrediu, a xingou e disse que iria tirar a guarda da filha dela pelo fato da ré ter sido garota de programa quando o conheceu. Elize pagou cerca de R$ 7 mil para um detetive flagrar e filmar o empresário com uma outra mulher.
Em uma carta escrita por Elize na prisão e que foi divulgada à imprensa, Elize voltou a confessar o assassinato do marido. Ela revelou que não vivia bem com o marido e que se arrepende de tê-lo matado e esquartejado.
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