Um termo circunstanciado é o registro de uma infração de menor potencial ofensivo. No caso em questão, a infração seria a desobediência, cuja pena é de até seis meses de detenção e multa, e desacato, com detenção de até dois anos ou multa, a um servidor público por parte do bicheiro.
A confusão aconteceu no dia 21 de junho, após discussão sobre a programação a que os presos assistiam. Conforme o documento da PF, Cachoeira reclamou do programa, que considerou muito violento, e pediu para o aparelho ser desligado. A discussão entre os presos fez com que três agentes penitenciários interferissem.
Cachoeira está preso desde 29 de fevereiro, acusado na Operação Monte Carlo de utilizar policiais, políticos e empresários em uma rede para explorar o jogo ilegal.
Um dos agentes afirmou que, ao ordenar procedimento de segurança ("que o preso fique em silêncio, com as mãos para trás, aguardando o comando dos agentes"), Carlinhos Cachoeira o teria ameaçado.
“Quem você pensa que é para me tratar assim? Vou usar toda minha influência para levá-lo à Corregedoria e à Justiça. O Márcio (Thomaz Bastos, advogado e ex-ministro da Justiça) vai vir agora à tarde e isso não vai ficar assim”, relatou que ouviu como resposta o servidor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Trecho do termo que relata o incidente envolvendo Cachoeira na Papuda (Foto: Reprodução)
O G1 tentou contato com Márcio Thomaz Bastos e com a advogada Dora Cavalcanti, que defendem Cachoeira, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Após a discussão, a defesa disse ao G1 que o contraventor passaria por uma avaliação psiquiátrica.
"Ele não passou bem. O psiquiatra vai avaliar o que aconteceu. A briga foi por conta de um canal de televisão, uma questão irrelevante. A questão é que ele não estaria bem do ponto de vista psicológico, como uma descompensação", disse Dora Cavalcanti.
No documento, Carlos Cachoeira disse que o agente gritou e apontou o dedo para ele. O preso disse que foi ameaçado de responder por desacato. O bicheiro confirmou que disse ao agente que entraria com uma reclamação contra ele na Corregedoria por considerar que teve seus direitos desrespeitados.
Ao menos três presos envolvidos na discussão disseram que foram chamados de “bandidos” pelo bicheiro e relataram ter ouvido palavras de baixo calão. Após a saída dos agentes, Carlos Cachoeira teria dito: “fiquem aí sozinhos, eu tô indo embora mesmo.”
Um dos presos declarou no termo circunstanciado que recebeu a oferta de suborno de R$ 200 do bicheiro para testemunhar contra os agentes penitenciários. Cachoeira “acha que tem dinheiro, então tem poder”, disse em depoimento. Outro preso confirmou que o bicheiro ofereceu dinheiro para que eles ficassem contra os agentes, "mas [Cachoeira] não falou em valores".
Trecho do termo em que outro preso diz que Cachoeira ofereceu suborno de R$ 200 (Foto: Reprodução)
O termo circunstanciado foi anexado ao pedido de liberdade que a defesa de Carlos Cachoeira protocolou no STF no dia 27 de junho. A solicitação foi negada pelo ministro Joaquim Barbosa. A defesa recorreu da decisão. Em carta de encaminhamento do termo, o delegado da PF que assinou o documento afirma que o episódio "pode configurar grave transgressão disciplinar".
Motivo da discórdia
No documento, testemunhas e o próprio bicheiro confirmam que a discussão começou por conta de um programa na televisão que abordava violência. Em sua versão, o bicheiro disse que chamou os agentes por causa do atrito que estava ocorrendo entre os presos em decorrência da programação da TV. Ele falou que não concordava em assistir a canais que passam violência na hora do almoço, pois "tais programas não elevam a alma do preso."
Encaminhamento do termo ao ministro do Supremo Joaquim Barbosa (Foto: Reprodução)
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