Conhecido pelos protestos com mulheres seminuas, o grupo Femen deve chegar à capital federal nos próximos meses. Fundada na Ucrânia, a organização que usa o topless para protestar já recrutou mulheres em Brasília e promete "agir" durante o julgamento do mensalão, que terá início no Supremo Tribunal Federal (STF) em agosto.
Sara Winter, 20 anos, organizadora do grupo no Brasil, já contabiliza 20 integrantes do Femen no País, sendo quatro em Brasília. Com a experiência adquirida na viagem à Ucrânia durante a Eurocopa, a paulista de São Carlos (SP) pretende treinar as mulheres recrutadas.
"O treinamento envolve o posicionamento corporal na hora do protesto, gritos, desenvolvimento de performances e figurinos, slogans, saber como segurar o cartaz, como manter a expressão facial, o que fazer em caso de abordagem da polícia, como se defender", explica a primeira integrante brasileira do Femen, detida duas vezes durante protestos na última edição da Eurocopa.
Criado com o objetivo de lutar contra o turismo sexual, o Femen tem se expandido para outras temáticas, explica Sara. "As meninas lá na Europa já expandiram essas questões há um tempo. Elas já protestaram contra o (ex-diretor do FMI) Dominique Strauss-Kahn, contra a exploração de gás, contra as fraudes nas eleições, etc. Aqui, nosso objetivo é nos unir com todos os coletivos que lutam por um bem para todos", afirmou, sem dar detalhes de como será planejado o protesto em Brasília.
Sobre a reação da polícia, Sara ainda não sabe como será no Brasil. "Nunca fui abordada pela polícia em solo nacional, mas acredito que aqui sofreremos interjeição das policiais femininas, o que não acontece na Ucrânia. Acho também que serão menos agressivos. Mas é só um palpite", afirmou.
O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, o ministro Joaquim Barbosa apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.
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