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Quinta - 26 de Julho de 2012 às 15:49

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Nathália quebrou o nariz durante acidente no Playcenter (Foto: Caio Kenji/G1)
Nathália quebrou o nariz durante acidente no Playcenter (Foto: Caio Kenji/G1)

Mais de um ano após dois acidentes ocorridos em brinquedos do Playcenter, as vítimas ainda sofrem com dores, cirurgias e tratamentos médicos para se recuperar das sequelas. O G1 falou com três delas, duas feridas no Double Shock, em 3 de abril do ano passado, e uma na montanha-russa Looping Star, cuja quebra ocorreu em 23 de setembro de 2010. Nenhuma recebeu indenização e duas dizem ter entrado na Justiça contra o parque. Todas relataram que a direção do Playcenter está pagando o atendimento hospitalar.

O dono do parque, Marcelo Gutglas, afirma que todas as vítimas tiveram a assistência necessária. "O Playcenter sempre buscou índice zero em acidentes, mas, infelizmente, são episódios que acontecem em parques de diversão. Não há mancha na história do parque, porque agimos de maneira correta e transparente em todas essas ocasiões", afirmou. "Foram momentos muito difíceis para nossa equipe e principalmente para as vítimas, mas, graças a Deus, todos estão bem."

O G1 enviou questionamentos ao Playcenter também sobre as sequelas apresentadas pelas vítimas, o não-pagamento de indenizações e os processos judiciais movidos contra o parque. O parque, em nota enviada por e-mail, disse que "se reserva ao direito de não dar detalhes" sobre as indenizações e que "esclarece que prestou e continua prestando toda assistência necessária às vítimas".

Quatro pessoas são internadas por dia, em média, por causa de acidentes em parques de diversões ou playgrounds no estado de São Paulo, segundo dados da Secretaria da Saúde divulgados nesta quarta-feira (25). Houve 1.641 internações de feridos nestas condições em 2011, aponta a pasta.

A assistente administrativa Daniele Pansarin, de 31 anos, teve cinco costelas quebradas após cair de brinquedo (Foto: Arquivo Pessoal)
Daniele Pansarin teve cinco costelas quebradas
após cair de brinquedo (Foto: Arquivo Pessoal)

Marcas do acidente
Pontadas na perna, dores na coxa, cicatrizes e pesadelos. Estas são marcas que o acidente no Double Shock deixou na assistente administrativa Daniele Pansarin, de 31 anos. Ela foi uma das vítimas mais gravemente feridas. Daniele relata ter quebrado cinco costelas, três dentes, o osso da tíbia, a canela (com fratura exposta do joelho até o tornozelo) e ter batido fortemente a cabeça, com suspeita de traumatismo craniano na época. Houve formação de um coágulo no crânio, que posteriormente se desmanchou.

Daniele, que se recuperou de boa parte dos ferimentos - ainda há um coágulo na coxa esquerda, "muito grande" segundo ela, e um dedo torto, com limitação de movimentos -, caiu de uma altura de cerca de sete metros enquanto o brinquedo funcionava. Outras sete pessoas ficaram feridas no acidente.
 

"Fiz uma cirurgia em março para diminuir o coágulo [na coxa], mas está afundado ainda, com o coágulo em cima e um afundamento embaixo. Vou fazer uma nova cirurgia em setembro para chegar próximo ao que era minha coxa", relata.

O acidente a marcou para o resto da vida, na sua avaliação. "Cada vez que eu olho no espelho eu vejo uma cicatriz. Eu coloco um shorts, vejo a cicatriz no joelho, marcas de parafuso. Eu tenho vergonha da minha mão, do meu dedo torto", diz Daniele.

Dois meses sem andar
Daniele e a vendedora Suzana Martins de Souza, de 21 anos, foram internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), na época. Todas as vítimas foram levadas para dois hospitais - a Santa Casa e o Metropolitano. "É difícil realmente, eu fiquei dois meses sem andar por causa de uma fratura na bacia", diz Susana, que também caiu do Double Shock. Ela relata sentir dores no quadril até hoje.

playcenter (Foto: Kleber Tomaz/G1)
Em imagem de arquivo, a estudante Nathália
Lopes Costa dias após o acidente
(Foto: Kleber Tomaz/G1)

Suzana se recorda de quase tudo do acidente. "Lembro que a gente estava lá em cima, deu a sensação de que o brinquedo iria parar e uma amiga medrosa comentou ter ouvido um estalo. Eu fiz piada sobre isso com meu namorado", disse a vendedora. Após isso, o Double Shock começou a virar mais forte, de uma forma que Suzana achou estranha. "Meu namorado falou "tá solto gente, se segura" e eu tentei segurar, mas dei uma cambalhota no ar. Quando acordei, eu estava no chão. Eu caí meio sentada, tentei levantar a mão, passar no rosto, mas estava tudo aberto. Eu vi o osso, as veias", recorda a vendedora, que teve fratura exposta na mão esquerda.

A cena a assustou muito. "Eu só gritava "vão amputar minha mão, meu Deus! Por que? Por que?" e as pessoas começaram a conversar comigo, funcionários tentando me acalmar. Chegou o SAMU e os Bombeiros e eu fui levada para o hospital", relembra Suzana.

A garota relata que até hoje não consegue fechar a mão toda. Os tendões estão grudados e o movimento dos dedos está problemático. "Eu faço fisioterapia três vezes por semana. Vou ter que operar para descolar os tendões, vou ter consulta com o médico em agosto e então vai ter que marcar uma nova cirurgia", afirma. A operação deve ocorrer até outubro, segundo a jovem.

Nariz
A estudante Nathália Lopes Costa, de 13 anos, tinha 11 quando visitou o Playcenter pela terceira vez, em 2010. Ela relembra que estava com mais sete amigos na montanha-russa Looping Star quando ocorreu o acidente. Dois carrinhos do brinquedo bateram, por conta de uma possível falha nos freios, segundo peritos do Instituto de Criminalística, na época, e 16 pessoas ficaram feridas.

playcenter vítima (Foto: Arquivo pessoal)
Daniele chegou a ser internada na UTI (Foto:
Arquivo pessoal)

Nathália conta como ocorreu o acidente em que saiu com o nariz quebrado e ferimento na face. "Eu já havia entrado, a montanha-russa fez o trajeto normal, mas a fila de carrinhos na nossa frente estava parada e batemos. Eu lembro que doeu bastante. O pessoal na fila do brinquedo ajudou, deu água, e eu fui para o ambulatório", diz a jovem.

O acidente fez a jovem perder semanas de estudo, mas ela não chegou a perder o ano letivo. Ela teve o nariz operado seguidas vezes, para que fosse reconstituído. "No começo eu não queria me olhar no espelho porque achava muito feio. Eu não gostava de olhar. Fiquei bastante tempo assim. Só bem depois que eu já tinha tirado o curativo, uns cinco meses depois, é que eu fui olhar [no espelho]", comenta a jovem, quando questionada se o acidente deixou algum trauma.

A garota conta que o nariz está bem melhor, mas há dias em que dói e arde bastante. "Isso não acontecia antes. De repente ele arde", afirma. A garota afirma ainda não querer voltar mais ao Playcenter. "Sinto que eu superei, já. Mas não quero nunca mais voltar", diz. Nathália, que está no colégio, sonha em estudar medicina. "Quero ser médica, gosto de ajudar as pessoas."

Tanto a mãe de Nathália, Rita de Souza Lopes Costa, quanto Daniele e sua família disseram estar processando o Playcenter. "Meu advogado entrou em contato com eles [diretoria do parque]. O que eles alegam é que estão pagando toda a assistência e por isso não devem nada", diz a assistente administrativa. "Esses 11 meses que eu passei [após o acidente] não há dinheiro no mundo que pague", lamenta.
 

double shock playcenter (Foto: Hélvio Romero/Agência Estado)
Em imagem de arquivo, o brinquedo Double Shock playcenter (Foto: Hélvio Romero/Agência Estado)




Fonte: Do G1 SP

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