Para "Economist", prisão de políticos corruptos não é mais algo "impensável"
Julgamento do mensalão deve "aparar" cultura da impunidade, diz revista
Em artigo publicado na edição deste sábado (28), a revista britânica "The Economist" diz que o principal efeito do julgamento do mensalão, que começará na próxima quinta-feira (2), será "aparar", "tirar uma lasca" da cultura de impunidade que vale para os poderosos no Brasil. Para a publicação, o caso representará um "progresso", de que a "prisão para políticos corruptos ainda pode ser algo improvável, porém não mais impensável", diz o texto.
Intitulado "Justiça atrasada", o artigo começa dizendo que, historicamente, a má reputação tem sido apenas um pequeno empecilho para construir uma carreira política no país, lembrando os casos de Fernando Collor, que foi retirado da Presidência, mas voltou ao Senado; de Paulo Maluf, supeito de desvios na Prefeitura de São Paulo, hoje deputado federal; e do pai de Collor, o ex-senador Arnon de Mello, acusado de matar um colega, mas nunca julgado.
"Contra esse passado", diz a revista, "o julgamento de 38 pessoas acusadas de envolvimento no maior escândalo de corrupção do Brasil nos últimos anos é uma raridade". Além de explicar como foi montado o suposto esquema de compra de votos parlamentares durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o artigo expõe a dificuldade em punir autoridades no Brasil, seja pelo chamado "foro privilegiado" - que remete ações contra políticos a instâncias superiores -, pela chamada "imunidade parlamentar", ou pelas formas de prolongar o processo com recursos.
"Abolir essas táticas demanda ambiciosas reformas, algo improvável no futuro próximo. Sem elas, esforços para limpar o governo devem funcionar dentro da legislação existente", diz o texto.
Sobre as consequências políticas do julgamento, o artigo sustenta que deverão ser "modestas". O escândalo em 2005, diz, já havia "retalhado" a intenção do PT de apresentar uma "nova política, mais limpa". Citando o cientista político Alberto de Almeida, a revista diz que os brasileiros já assumem que a maioria dos políticos é suja e não levam a corrupção em conta no momento de votar.
Sobre Dilma Rousseff, o texto diz que "é ainda menos provável que sofra contaminação política". Além de nenhum dos réus ser próximo da presidente, ela se protegeu de qualquer mácula ao demitir, no início do governo, uma série de ministros suspeitos de corrupção, diz a revista.
O artigo finaliza mencionando leis e instituições que têm tornado mais difícil o desvio de dinheiro público, como a nova Lei de Acesso à Informação. A conclusão, segundo outro analista ouvido, João Castro Neves, do grupo Eurasia, "é que para ser corrupto no Brasil você precisa ser mais criativo que a dez ou 15 anos atrás".
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