A mudança surpreendeu até mesmo ao defensor público José Carlos Evangelista, que defende os pedreiros. “O que me demonstra neste processo é que mais uma vez o poder econômico falou mais alto”, comentou o defensor, logo após sair da audiência de instrução do processo na 2ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra Mulher de Cuiabá.
Durante a audiência que durou mais de 10h nesta terça-feira (31), foram ouvidos os depoimentos de 16 testemunhas (dez de defesa e seis de acusação), e os interrogatórios dos quatro réus. O empresário Rogério Amorim, 38, rompeu com o silêncio e falou pela primeira vez sobre o crime. Já a sua mulher Calisangela Moraes, 36, se disse surpresa ao saber do número de romances extraconjugais do marido e também negou o crime de mando.
Enquanto a audiência seguia no Fórum, familiares e amigos participaram do velório e do enterro dos restos mortais da jovem que só foram liberados pelo Instituto Médico Legal (IML) apenas sete meses após o crime . O corpo foi sepultado no Cemitério Parque Bom Jesus, no bairro Parque Cuiabá.
Segundo a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), os dois pedreiros foram supostamente contratados para matar a garota pelo empresário Rogério Amorim, 38, e pela ex-mulher dele, auxiliar administrativa Calisangela Moraes, 36. O advogado Waldir Caldas, que defende do casal, argumentou que eles não encomendaram o homicídio, negando o que apontou as investigações da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).
Os quatro acusados vão continuar presos em presídios de Cuiabá. No entanto, a juíza auxiliar Tatiane Colombo determinou que os pedreiros sejam separados, a pedido do MPE, para evitar que eles tenham contato. Ela também deu prazo de cinco dias para a Promotoria se manifestar sobre o pedido de soltura de Calisangela, que, na visão da sua defesa, poderia deixar a cadeia após 68 dias devido ao fato de as provas contra ela não serem tão contundentes.
Maiana armou golpe, diz pedreiro
Ao invés de terem sido contratados pelo casal, os pedreiros relataram que foram procurados pela própria Maiana Mariano. Na nova versão apresentada, eles disseram que a adolescente chamou os dois para um “serviço”, que seria roubar a caminhonete do empresário e cerca de R$ 30 mil que seria pago aos funcionários da empresa dele. A menina queria desmanchar ou vender a caminhonete, e o dinheiro seria repartido entre os três.
No entanto, o acordo não teria se concretizado. Em seguida, Paulo Ferreira teria se desentendido com a jovem e depois a matado por enforcamento. Ele chegou a dizer que a adolescente de 16 anos tentou o agredir com uma chave de roda. O crime aconteceu dentro da casa de uma chácara no Distrito do Coxipó do Ouro, no dia do desaparecimento da jovem em 21 de dezembro de 2011. Na sequência, o corpo dela foi enterrado com a ajuda do comparsa Carlos Alexandre. Em juízo, os dois se declararam arrependidos pelos crimes.
Os pedreiros justificaram a mudança de versão dizendo que, na época do inquérito policial, eles quiseram incriminar o empresário em busca algum benefício em relação ao crime que cometeram. “Foi uma covardia grande que eu fiz”, revelou Paulo Ferreira, que confessou que matou a jovem.
O advogado Waldir Caldas relatou que as novas informações acrescentadas ao processo serão usadas nas alegações durante um eventual Júri Popular. A juíza Tatiane Colombo ainda não se decidiu pela pronúncia dos réus.
Corpo da jovem foi sepultado nesta terça-feira (31)
(Foto: Marcelo Ferraz/G1MT)
Explicações “fantasiosas” e pena máxima
A promotora Lindinalva Rodrigues Dalla Costa classificou as novas informações como “fantasiosas”. Ela afirmou que acreditava que eles poderiam fazer uso do benefício jurídico da “delação premiada”, que pode representar uma diminuição da pena em caso de condenação por ter colaborado com as apurações. No caso em questão, seria entregar em juízo os supostos contratantes.
“Nós temos todas as provas produzidas, inclusive confissões deles para imprensa e para delegacia. Então, a versão apresentada na audiência de instrução é completamente fantasiosa e com certeza não será acolhida pelo Tribunal do Júri”, declarou. A promotora também adiantou que vai pedir pena máxima (de 30 anos) para os envolvidos com o crime, por conta da brutalidade cometida.
Dinheiro para assumir crime
Lindinalva Rodrigues disse que os pedreiros podem ter mudado as versões dos depoimentos por conta das supostas ofertas financeiras feitas por um advogado. Na audiência, duas testemunhas disseram que os dois pedreiros receberam propostas de R$ 20 mil e R$ 50 mil, mais pensões mensais para as famílias, para que eles assumissem o a autoria do homicídio e excluíssem os mandantes.
O defensor publico, que acompanha o caso, relatou que não descarta que isso possa ter ocorrido por conta da “influência do poder econômico”. Do outro lado, o advogado Waldir Caldas, que defende o empresário e a mulher dele, disse que o tal advogado citado não faz parte da sua equipe de defesa. O Ministério Público disse que não vai pedir a investigação desta denúncia para não atrasar o processo.
Presentes para Maiana
Durante as primeiras horas da audiência, ainda pela manhã de ontem, foram ouvidas três testemunhas, entre elas, a mãe da adolescente, a diarista Sueli Mariano Vilela. Ela revelou que a filha viveu mais de quatro meses com o empresário, em um apartamento alugado no bairro CPA, na capital, e que eles planejavam se casar.
A diarista comentou também que a filha era sempre presenteada pelo empresário. Entre as coisas que Maiana ganhou estão um notebook e a moto, que foi roubada pelos pedreiros que supostamente contratados para matá-la.
À tarde continuaram os depoimentos. Uma adolescente de 16 anos disse em juízo que Maiana mantinha relacionamento com o empresário desde os 13 anos. A menor disse que ela inclusive chegou a ter um romance rápido com o empresário. Mas o depoimento considerado mais revelador pela promotora do MPE foi o de um jovem, irmão do pedreiro que ajudou a ocultar o corpo da Maiana. Ele foi chamado pela defesa, mas confessou que ouviu o irmão dizer que matou a garota a mando do casal, e que fez isso por problemas financeiros.
Adolescente foi assassinada aos 16 anos
(Foto: Arquivo pessoal)
Empresário nega crime
Depois dos depoimentos, começou por volta das 18h30 os interrogatórios dos acusados. O empresário Rogério Amorim falou sobre o crime pela primeira vez em juízo, rompendo o silêncio (direito constitucional) mantido durante depoimento à polícia.
Rogério negou que mandou os pedreiros cometerem o homicídio, mas admitiu que conhecia os dois. Em sua defesa, ele alegou que já morava com a adolescente com o interesse em casamento, e que ficou deprimido ao saber do sumiço da jovem.
Ele disse ainda que andava com altas quantias escondidas em sua pasta em época de pagamento dos seus funcionários da empresa ligada à construção civil. Ele comentou que não se importava em carregar de R$ 20 mil a até R$ 100 mil na mala, o que poderia ter gerado o interesse da jovem, como indicaram os pedreiros.
O empresário também negou que tenha enviado qualquer advogado até ao Presídio Pascoal Ramos para fazer propostas financeiras para os pedreiros. “De minha ordem, nunca mandei ninguém atrás deles”, comentou em juízo.
Casos extraconjugais
O empresário confirmou também que manteve vários relacionamentos extraconjugais com jovens, o que para o Ministério Público serviu para traçar um perfil psicológico do réu. As informações surpreenderam a mulher dele Calisangela Moraes, que foi apontada pela polícia também como mandante do crime.
Calisangela disse que não encomendou o homicídio e que também não ameaçou a jovem, como informou a polícia. Ela disse ainda que o marido dizia que “não estava separado, mas só dando um tempo” na época do relacionamento com Maiana. “Sou inocente e não tenho nada a ver com esse caso”, concluiu.
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