A cirurgia, que usou um pedaço de uma das costelas de Allah e pele da testa da paquistanesa, foi feita por um cirurgião plástico, Hamid Hassan, gratuitamente. O médico trabalha voluntariamente em uma organização que ajuda vítimas dos chamados crimes de honra.
Sem vergonha do rosto, que passou as últimas três décadas coberto por véus, Allah planeja agora pôr um piercing no nariz.
Allah Rakhi vivia na região central de Punjab com o marido e dois filhos, quando o ataque que mudou sua vida ocorreu. Ela conta que havia sido espancado pelo marido, Ghulam Abbas, quando decidiu fugir, correndo. O marido a alcançou antes que ela conseguisse chegar ao vilarejo vizinho.
"Eu disse que ele havia destruído minha vida, me agredindo diariamente e que eu iria para casa de meus pais", contou à BBC.
"Ele se sentou sobre meu peito, pegou uma lâmina do bolso e cortou meu nariz. O sangue jorrava sobre meus olhos", lembrou, acrescentando que seu calcanhar direito também foi cortado.
Mulher teve nariz cortado por marido e voltou a viver
com ele anos depois (Foto: BBC)
Coberta de sangue, a então adolescente foi levada para casa e não para um hospital para evitar que o caso chegasse à polícia. No entanto, tempos depois, o marido foi preso e passou seis meses na prisão. Allah Rakhi concordou com a libertação do agressor por conta dos filhos. Quando ele voltou para casa, pediu o divórcio e a expulsou de casa.
Allah Rakhi compara a vida que levou após o ataque com uma prisão. Ela vivia com a face escondida, mesmo da família, não ia a casamentos ou enterros para evitar a curiosidade e a reação das pessoas. "Teria sido melhor que ele tivesse cortado minha garganta", disse. "Eu me sentia morta".
Ao jornal paquistanês Dawn, Allah contou que se casou novamente, mas ficou viúva e enfrenta agora um novo desafio. A pedido de um dos filhos e sem recursos para se sustentar, ela está novamente vivendo sob o mesmo teto que o marido, que não demonstra remorso pelo ataque brutal.
"Foi tudo culpa dela. O que aconteceu foi devido aos crimes que ela cometeu. Não aconteceu sem razão", disse Ghulam Abbas, sem explicar suas declarações.
"Eu deixo que Deus o puna", responde Allah Rakhi.
"É muito doloroso estar aqui", disse. "Eu morro a cada minuto, mas meu filho me pediu que fique. Meus filhos e netos são tudo para mim", acrescentou.
O marido, segundo Allah, insiste que ela viva com ele como "esposa", caso contrário, será expulsa de casa. "Talvez eu tenha que ir embora. Estou disposta até a morrer, mas não a voltar a viver com ele como esposa", concluiu.
Segundo organizações de direitos humanos, em muitas partes do Paquistão, mulheres são mortas ou marcadas para sempre nos chamados "crimes de honra". Cerca de 900 mulheres teriam sido vítimas desse tipo de crime em 2011.
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