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Política
Quinta - 02 de Agosto de 2012 às 22:48

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Coordenador das duas últimas campanhas do ex-governador goiano Iris Rezende (2008 e 2010), Sodino Vieira reuniu a imprensa no diretório do PMDB local no final da tarde desta quinta-feira para negar o recebimento de dinheiro da quadrilha de Carlinhos Cachoeira. A denúncia foi veiculada em reportagem do jornal O Estado de São Paulo, que teria tido acesso a relatório da Polícia Federal que confirmaria que R$ 2 milhões foram repassados no início deste ano para Sodino, como parte de um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que seria operado por Gleyb Ferreira da Cruz, um dos membros do grupo de Cachoeira.

 

Segundo a reportagem, o ex-jogador de futebol Alex Trindade indicaria, em e-mails, contas de Sodino e três de seus filhos para que Gleyb fizesse os depósitos. Segundo o ex-coordenador, porém, o que aconteceu foi que ele combinou a venda de uma fazenda de sua propriedade em Santa Cruz de Goiás (a 130 km de Goiânia) com Alex. O contrato chegou a ser redigido, mas o negócio não se efetivou e ele não recebeu o valor combinado.

"Fiz uma venda de um imóvel rural meu, com o que aqui em Goiás se chama "de porteira fechada", ou seja, com o gado, máquinas, tratores, por R$ 2,1 milhões. Os R$ 100 mil ele (Alex) ficou de passar para o corretor", detalhou, informando que ficaria com os R$ 2 milhões.

Segundo Sodino, o contrato de compra e venda foi assinado em 15 de fevereiro de 2012, mas no prazo combinado para pagamento, no dia 23, Alex não o efetivou. "O imóvel continua nas minhas mãos (...) Vendo leite para uma grande empresa", disse. Sodino declarou, ainda, que o imóvel continua a venda.

O ex-coordenador de campanha de Rezende afirmou que ficou sabendo pela imprensa que constava no relatório da polícia uma gravação de Alex pedindo para que o Gleyb lhe pagasse valores. Para ele, se alguém tem relacionamento com o grupo de Cachoeira, seria o ex-jogador.

"Eu tenho 63 anos, e tenho muito pouco de patrimônio. Eu tenho o apartamento que eu moro, um apartamento pequeno em construção que eu comprei e estou pagando a prestação. E esse imóvel, com o gado", afirmou. Sodino negou conhecer qualquer membro da organização criminosa comandada por Carlinhos Cachoeira. "Não conheço Carlinhos, não conheço Gleyb ou qualquer outro da quadrilha dele".

Vieira afirmou também que se coloca inteiramente à disposição para ser investigado por qualquer órgão e Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apure o esquema operado por Carlinhos Cachoeira. Na CPI da Assembleia de Goiás, foi apresentado nesta quinta-feira um requerimento para quebrar os sigilos de Sodino. "É uma obrigação minha comparecer, mediante convocação ou convite. Não só à CPI da Assembleia, mas à do Congresso, a todos os órgãos investigativos, como a Polícia Federal e o Ministério Público", acredita. "Faço questão de mostrar a minha isenção e da minha família em todo este processo", justificou. Segundo Vieira, ele vai autorizar a quebra de seu sigilo bancário, fiscal e telefônico.

Iris Rezende
Sodino indicou que não ignora que possa haver conotação política na denúncia, para atingir Iris Rezende e ele. "Com tudo que está acontecendo em Goiás, com a quadrilha do Cachoeira envolvendo várias outras autoridades, é claro que cada um quer colocar o adversário (nas denúncias). Iris é um grande líder. Isso é natural. Ele está se defendendo, não pegou nenhuma (denúncia) e não será através deste contrato que vai chegar nele o desgaste pela quadrilha do Carlinhos Cachoeira", disse.

Questionado sobre quem poderia ter interesse em envolvê-lo - e ao ex-governador Iris Rezende - com Cachoeira, Sodino não apontou nomes. "Acho que isto foi muito mais de Brasília. Se existe alguém de Goiás, eu não sei identificar" disse. Para ele, é natural, porém, seu nome aparecer vinculado ao de Iris, pela proximidade da amizade dos dois. "Minha relação com ele é de amizade, e foi por causa disso que eu coordenei as campanhas de 2008 e 2010 dele", explicou. Sodino disse que estuda processar os veículos de comunicação que publicaram as denúncias. "Estarei tomando as providências legais", afirmou.

Sodino disse que não sabe explicar porque tantos contratos foram firmados com a Delta nas administrações de Iris. "Eu não conheço, não estive na administração". Ele reconheceu, contudo, que foram vários os contratos. "Claro, é público e notório que teve contratos, na prefeitura de Goiânia, no governo, e outras prefeituras do interior", disse. Procurado pela reportagem do Terra, o ex-governador Iris Rezende não atendeu ao telefone.

Alex
Já o ex-jogador Alex Trindade disse haver um "mal entendido". Ele disse que ligou para Gleyb, seu amigo de longa data, para pedir os R$ 2 milhões para pagar a fazenda. Alex devolveria o dinheiro após concluir outro negócio nos Estados Unidos. Porém, essa transação não deu certo e ele acabou não pegando o dinheiro emprestado. "O Sodino não tem nada a ver com isso, coitado. Eu não o conhecia e nem sabia que ele era político. A compra da fazenda foi um negócio particular, apresentada por corretores. E eu também não sabia do envolvimento do Gleyb com Cachoeira, não sabia de nada disso", declarou.

Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.





Fonte: Terra

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