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Política
Sexta - 03 de Agosto de 2012 às 15:29

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Aos 81 anos de idade, decorridos 62 anos desde a primeira vez em que integrou uma mesa de votação do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, o mesário mais antigo do Brasil, José Carlos Mello Rocha ensaia sua “aposentadoria” para depois das eleições de 2012. ‘Seo Rocha’, como é conhecido, garante que vontade não lhe falta, mas problemas de saúde e a idade avançada devem fazer deste pleito o último da longa carreira voluntária. “Isso se me deixarem parar”, admite.

Considerado o mais antigo mesário do Brasil em atividade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foram poucas as eleições, desde 1950, que não contaram com a ajuda de ‘Seo Rocha’. “Umas quatro ou cinco”, ele estima, sempre por motivos de força maior. “Uma delas foi a eleição de 2008, que foi logo em seguida à época que tive um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Mas em 2010 eu já estava lá de volta”, conta.

Sêo Rocha, o mesário mais antigo do Brasil (Foto: Divulgação/Ranking Brasil)
Sêo Rocha pretende se aposentar das urnas depois da eleição de 2012 (Foto: Divulgação/Ranking Brasil)

Nesta longa jornada de voluntariado, ‘Seo Rocha’, naturalmente, guarda lembranças, casos curiosos, e momentos marcantes. Destes últimos, o que mais mexe com ele foi uma história que somente a proximidade da “aposentadoria” lhe deu coragem de compartilhar, ocorrida em meados dos anos 70. Presidente de uma sessão eleitoral no Colégio Rio Branco, no Centro de Curitiba, ‘Seo Rocha’ foi interpelado por um homem que procurava ajuda. “Ele era candidato a deputado e veio conversar comigo, porque estava com a mãe dele na frente do colégio em um carro. Ela estava deitada porque estava doente, com mais de 70 anos, mas queria porque queria votar”, lembra.

Caxias, ‘Seo Rocha’ explicou que era “humanamente impossível” resolver aquela questão, sem ceder diante dos apelos do homem. A única anuência a que se permitiu foi a de acompanhar o candidato até o carro, e explicar para a senhora que não havia nada que pudesse ser feito. “De fato ela estava lá sentia-se que era uma pessoa doente. Eu conversei com ela, ela com a voz meio fraca, e eu disse que não havia possibilidade, por mais que fosse a minha vontade”, relata.

Nesta longa jornada de voluntariado, ‘Sêo Rocha’, naturalmente, guarda lembranças, casos curiosos, e momentos marcantes. Destes últimos, o que mais mexe com ele foi uma história que somente a proximidade da “aposentadoria” lhe deu coragem de compartilhar, ocorrida em meados dos anos 70

Mas diante do pranto da enferma, ‘Seo Rocha’ buscou uma alternativa. Conseguiu a concordância dos delegados e fiscais de partido que lotavam a sessão e levou até o carro da senhora uma cédula em branco, para que ela pudesse exercer seu direito. “Naturalmente ela deve ter votado no filho, mas eu dobrei o envelope branco e não vi”, garante. Ele ficaria ainda mais sensibilizado dois dias depois, quando o candidato (que foi eleito) ligou para ‘Seo Rocha’ para relatar que ele havia realizado um dos últimos desejos da mulher, que acabara de falecer. “Eu corri o risco de que a urna fosse impugnada, e que eu mesmo incorresse em alguma infração, mas o coração falou mais alto do que a razão”, se justifica, como se precisasse.

Em meio a todos estes anos de trabalho, muitas coisas mudaram, tanto no Brasil, quanto no processo eleitoral. ‘Seo Rocha’ lembra com carinho da primeira eleição que votou e participou, vencida por Getúlio Vargas, e da evolução das urnas – de madeira, de lona, eletrônica, e, por fim, a biométrica que ele pretende estrear em 2012. Um final que remonta ao período em que tudo começou, quando com 12 anos ele ajudava o pai cartorário a preencher títulos de eleitor. “Eu gostava muito de trabalhar com isso”, lembra.

Assim, foi um passo natural para ele passar a se voluntariar, o que não mudou quando ‘Seo Rocha’ deixou a cidade de Jaguariaíva, no norte do estado, em direção a Curitiba, onde se estabeleceu com a esposa. A mulher, aliás, enquanto pôde nunca abandonou a companhia do dedicado voluntário. “Hoje, infelizmente, faz quatro anos que ela faleceu. Ela me acompanhava em todos os momentos”, recorda saudoso.

Sêo Rocha na sessão (Foto: Arquivo pessoal)
Sêo Rocha na sessão (Foto: Arquivo pessoal)

É bem verdade que acompanhar o experiente mesário não deveria ser tarefa das mais árduas, já que a atribuição costuma ser acompanhada de histórias divertidas. Uma que "Seo Rocha" gosta de contar é já nos anos 2000, ocasionada pela expectativa de uma votante famosa. “Teve um ano em que na lista de eleitores que deveriam votar apareceu uma Sophia Loren, e aquilo ali tornou-se uma coisa cômica”. Apesar de ter mexido com os brios dos mesários, a homônima da atriz italiana, não deu o ar da graça. “No segundo turno o nome dela estava lá também, e ela não apareceu de novo”, ri o mesário, lembrando que mesmo dois anos depois o nome da eleitora ausente seguia na lista.

Com histórias assim, não é preciso muita explicação para a longevidade laboral de "Seo Rocha", que confessa já ter tentado somar em quantos pleitos trabalhou. “Posso dizer que foi entre 45 e 50 eleições”, ele estima, somando na conta dois plebiscitos e um referendo. Então, diante de um sentimento quase de “missão cumprida”, “Seo Rocha” encerra as atividades de mesário sem pesar, mas com esperança de mudanças. “Lamentavelmente hoje a gente vê muita coisa errada com os políticos de hoje, mas eu tenho esperança nos jovens. De que eles consigam perceber que é muito mais fácil ser bom do que ser mau político”, deseja o mesário às vésperas da postergada aposentadoria.





Fonte: Do G1 PR

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