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Exploração de xisto ameaça águas subterrâneas na Chapada dos Parecis
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) vai leiloar até o final deste mês um total de 240 blocos exploratórios terrestres de áreas de gás natural convencionais e não convencionais. Entre eles, um dos maiores do Brasil, na Chapada dos Parecis, região do médio Norte de Mato Grosso. Para se ter uma idéia do potencial, no Rio Teles Pires, segundo Magda Chambriard, da Agência Nacional de Petróleo, há 800 metros de rio borbulhando gás e, em certos pontos, se pode até gravar o som.
O evento, porém, colocou em alerta as entidades ambientalistas do Brasil e do mundo. O coordenador da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo, explica que o método de extração – o faturamento hidráulico – tem provocado questionamentos sobre a ameaça ao meio ambiente e às comunidade tradicionais brasileiras.
"Em função do impacto que já vimos com esta exploração nos Estados Unidos e Europa, principalmente sobre contaminação da água, considerando principalmente alguns blocos ofertados na região amazônica, a questão é bem delicada, os efeitos da contaminação da água sobre a saúde, e os sociais e psicológicos são enormes”, disse à Rádio Brasil Atual.
Além da reserva na Chapada dos Parecis, também corre risco de ser afetado o Aquífero Guarani, uma das maiores reservas subterrâneas de água doce do mundo e que começa em Mato Grosso. O aquifero ocupa uma extensão de aproximadamente 1,1 milhão de quilômetros quadrados e profundidade de até cerca de 1.500 metros. Tem a capacidade de abastecer, de forma sustentável, muitos milhões de habitantes, com trilhões de metros cúbicos de água doce por ano.
O xisto, gás não convencional utilizado por usinas hidrelétricas e indústrias é uma fonte de energia que, embora conhecida, permaneceu inexplorada durante décadas por falta de tecnologia capaz de tornar viável a sua extração. Para extrair o recurso é preciso explodir as rochas injetando no subsolo uma grande quantidade de água, areia, e produtos químicos.
Segundo Baitelo, essa técnica traz risco de contaminação do lençol freático e de explosão por vazamento de metano. “Vemos a grande possibilidade de haver estes impactos. Até por uma questão do vazamento de metano, que é extremamente prejudicial para o aquecimento global, já tem um potencial maior que o Co2 para aquecer planeta, e a questão da água.”
O pesquisador do Ibase Carlos Bittencourt ressalta que é preciso prorrogar o leilão para que se possa fazer os estudos necessários antes de autorizar a exploração. “Fomos pegos de surpresa por um leilão que já vai acontecer no final do mês, sem qualquer debate público, apenas com uma consulta pública feita pela internet, que não possibilita o questionamento do modelo como um todo. O seminário está sendo organizado para questionarmos esse leilão e no mínimo, adiá-lo”, defende.
Os especialistas defendem cautela na exploração do gás de xisto, pois em alguns países ocorreu o banimento ou a restrição da prática, diante das evidências científicas sobre impactos causados pela exploração comercial do gás. Na França, a exploração foi proibida. Na Holanda, houve adiamento das atividades por um ano. Nos Estados Unidos, algumas agências estaduais têm sido cuidadosas em relação à concessão de licenças.
Fonte:
24 Horas/Rádio Pioneira
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