Segundo Laércio, a história começou com a visita do responsável pelo Departamento de Segurança da UFU. “O cara chegou e falou simplesmente que eu teria que fazer o cavanhaque porque com o cavanhaque eu não participaria mais do contrato com eles, que eu teria que ser substituído”, lembrou. A pessoa que ele se referiu é o gerente da Divisão de Vigilância e Segurança Patrimonial da Universidade da Universidade Federal de Uberlândia (DIVIG-UFU), Gilvander Fernandes, funcionário público que trabalha na instituição há 30 anos. Ele reconheceu que naquele momento foi contra o cavanhaque.
Gilvander Fernandes explicou que a orientação seria de não usar o cavanhaque e usar cabelos curtos e uniforme, baseado numa resolução. Entretanto, o regimento Interno da Divisão de Vigilância e Segurança Patrimonial da Universidade diz que o cabelo e a barba devem estar aparados. “Isso é uma questão de interpretação. E eu interpretava que seria raspado”, frisou.
O gerente da empresa TSG, que contratou o funcionário, Alexandre Carvalho, disse que a demissão teve outros motivos. “O fiscal da UFU foi lá e, chegando ao local de serviço, não tinha ninguém da nossa empresa e depois de umas duas horas apareceram dois funcionários sem uniformes”, justificou.
Mas Laércio Madureira disse que abria a biblioteca às 7h15 da manhã, sendo que o horário para abri-la seria às 7h30 e que, por isso, não estava no local. Ele explicou ainda, que o uniforme era de um tamanho maior. “Veio um uniforme para uma pessoa bem mais gorda do que eu e foi devolvido em mãos”, completou.
O gerente da empresa terceirizada enviou um email à administradora do campus em Patos de Minas e, nele, deixou claro que o cavanhaque foi um dos motivos da demissão. "Peço-lhe que veja se o Laércio tirou o cavanhaque, pois já tive uma reunião com a DIVIG e este fato foi mencionado. Se ele não quiser tirar, infelizmente terei de substituí-lo (não posso ir contra a UFU)."
Sobre o email, Alexandre Carvalho disse que se lembra de ter enviado. “Mandei sim. Tenho 57 pessoas que trabalham comigo e 56 de cara limpa. Eu não posso deixar um. Assim eu perco o controle. Nessa brincadeira, eu perco o contrato”, argumentou.
Já a posição do gerente da DIVIG está documentada num memorando enviado por ele ao prefeito da UFU. No texto diz que: "Um senhor por nome Laércio, o mesmo estava usando cavanhaque e com os cabelos precisando de corte. Disse a ele que deveria cortar os cabelos e raspar a barba, postura exigida pela DIVIG."
No crachá fornecido pela empresa, Laércio Madureira aparece de cavanhaque, mas o gerente da empresa terceirizada disse que o funcionário sabia das normas de estética pessoal quando foi contratado. “Antes de contratar a gente sempre pede para todos os funcionários manterem uma higiene, não igual a minha, que está mal feita, não. Já que estou na apresentação, eu tenho que fazer”, disse Alexandre.
Mas Laércio nega ter recebido qualquer orientação desse tipo ao ser contratado. “Recebi nada. Eu lembro que uma chefe da biblioteca esteve aqui para me dar instrução. Um treinamento rápido para o que deveria ser feito. E ela até brincou comigo dizendo que era bom eu com o rosto desse jeito porque impõe moral”, comentou. O caso do aposentado será levado à Justiça, já que ele pretende que a advogada entre com uma ação.
O prefeito da UFU, Renato Pereira, disse que a universidade não concorda e não compactua com esse tipo de manifestação. “Nós temos na universidade servidores efetivos e concursados em todos os setores que usam barba, que usam cavanhaque e não existe nenhuma ação para se ter preferência. A universidade vai constituir uma comissão de inquérito para apurar esse fato”, afirmou.
A Ouvidoria da UFU recebeu várias reclamações e nas redes sociais foram vários comentários. A notícia assustou a estudante Aline Brandão. “Eu achei um pouco estranho. Eu fiquei surpresa porque não imaginei que isso podia acontecer pelo simples fato de um cavanhaque. O trabalho dele às vezes era um pouquinho chato de ficar revistando os alunos, pedindo silêncio, mas ele sempre foi uma pessoa agradável”, comentou.
O estudante Gabriel Silva também opinou sobre o fato. “Eu achei uma coisa muito absurda por causa de um cavanhaque fazerem isso. Até o ex-presidente Lula tem um cavanhaque. Eu fiquei espantado porque eu não achava que ia acontecer uma reação dessa aqui na universidade”, ressaltou.
Desempregado, Laércio Madureira mantém o visual, o mesmo que tem há mais de 15 anos. Segundo ele, há ainda uma razão a mais para não retirá-lo, já que tem um irmão gêmeo. “Se tirasse o cavanhaque ficaria diferente do meu irmão gêmeo. A gente acostumou já. Tem 15 anos que a gente usa cavanhaque. Não é uma ocasião dessa que a gente tiraria. A gente já não veste a roupa igual, mas pelo menos a aparência é. Tanto é que na rua todo mundo confunde a gente pelo cavanhaque, porque todos dois usam o mesmo cavanhaque”, contou.
Agora, o aposentado disse que vai seguir a vida e voltar a curtir dos filhos, netos e toda a família.
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