O término do primeiro semestre foi marcado por um movimento de alta no abate de bovinos em Mato Grosso. Ao todo, 2,66 milhões de cabeças foram enviadas às indústrias frigoríficas do estado, resultado considerado o segundo maior nos primeiros seis meses do ano, superado apenas por 2007, quando chegou a 2,77 milhões de animais. Como destaca Carlos Ivam Garcia, analista de mercado do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea), a utilização de fêmeas influenciou diretamente o resultado. Mas, ao mesmo tempo, acendeu a luz de alerta sobre o setor produtivo.
Conforme destaca o especialista, nos seis primeiros meses de 2012 cresceu em 16% o abate total dentro do estado, na comparação com o idêntico período de 2011. Enquanto isso, a oferta de fêmeas para as indústrias tornou-se ainda maior, em 21%. Ao optar pelo envio de matrizes, elevou-se a participação destas na constituição dos abates totais.
"A participação das fêmeas no primeiro semestre do ano passado chegou a 49,5%. Este ano, representou 52,1%", frisou Carlos Ivam Garcia. Conforme o analista do Imea, o pecuarista ainda sente os reflexos da menor disponibilidade de pasto gerada pela seca (ainda em 2010) e os ataques de pragas.
"Os abates maiores produzem efeitos como a baixa de preço e também a menor produção de bezerro", apontou Garcia. Ele lembra que o volume de vacas destinadas ao abate pressionou para baixo o preço pago pelo boi gordo em Mato Grosso. Em agosto, o valor da arroba chegou a casa de R$ 80, nível semelhante ao verificado no mesmo mês de 2010. A situação fez jus a um velho ditado no meio pecuário.
"Quem manda no preço do boi é a vaca", lembra Carlos Ivam Garcia. A expectativa é que no segundo semestre do ano reduza a velocidade dos abates de fêmeas em função da maior oferta de machos, oriundos especialmente dos sistemas de criação como confinamento ou mesmo semiconfinamento. "Mas a participação de fêmeas deve ficar acima da média para o período", ressalva o analista.
Em Mato Grosso, o preço da arroba acumula queda desde o início do ano. Em janeiro, no primeiro dia útil do mês, chegou a R$ 89, passando para outros R$ 85,9 no igual período de fevereiro. Em março outros R$ 83,50; abril R$ 83; maio R$ 84,40 (dando leve fôlego ao pecuarista); junho R$ 83,50 e julho R$ 82,35.
Renda na pecuária
O crescente abate de fêmeas na unidade federada pode influenciar também os chamados rendimentos da atividade. O Valor Bruto da Produção (VBP) exclusivo para o boi pode encerrar o ano com alta de 8,6% e avançar de R$ 6,1 bilhões para outros R$ 6,6 bilhões, indicou o segundo levantamento anual do Imea.
Mas para o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, não há vantagens de elevar o chamado faturamento da produção às custas do uso cada vez maior das fêmeas.
"Não vejo vantagem em cima disso, pois não é bom para a cadeia", ponderou. Mesmo com previsão de alta, o resultado financeiro projetado não significará renda dentro da porteira, lembra o superintendente da Acrimat.
"Pode ocorrer aumento o valor bruto [de produção], mas não significa que aumentará a renda, uma vez que o custo de produção da pecuária aumentou e a arroba do boi diminuiu. O faturamento pode ser maior por conta do abate, mas o ideal seria que isso refletisse em uma melhoria na renda, o que não deve acontecer", observa Luciano Vacari.
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