"Fizemos todo o levantamento possível, trabalhamos exaustivamente na verificação de cada linha do balanço e chegamos a um ajuste total de R$ 3,110 bilhões", disse Celso Antunes, indicado pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para assumir a direção do banco. Descontando o patrimônio líquido do banco, de cerca de R$ 870 milhões, o "buraco" nas contas é de R$ 2,236 bilhões – segundo disse o diretor executivo do FGC, Antonio Carlos Bueno.
"Salvamento"
O FGC agora vai tentar "enxugar" as contas do banco e vender a instituição. Na operação de salvamento, o fundo pretende comprar os títulos de dívida do banco nas mãos dos credores, com um desconto médio de 49%.
"Duvido que não haja interessados. Eu não perderia uma oportunidade dessas", disse Bueno. “A gente fez lipoaspiração no balanço e deixou noiva mais interessante para ser cobiçada”, disse Antunes. "Encontramos uma forma de salvar o banco", afirmou.
Quantias que tinham de ser diminuídas no balanço (ajustes contábeis), em R$ milhões | |
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Carteira de crédito com problemas – incluindo consignado | 542 |
Lotes cedidos para fundosque não tinham sido extornados | 137 |
Retirada do ativo do banco Prosper – que hoje tem patrimônio líquido negativo | 190 |
Ações da Telebrás – que estavam registradas em valor superior à bolsa | 125 |
Ações judiciais contra o banco – faltava provisão a esse risco | 612 |
Crédito tributário – não vale para o banco, mas quem comprar pode usar | 196 |
Outros | 27,8 |
Ajuste positivo pela antecipação de contratos, por conta da suspensão da venda de ações | 104,9 (+) |
O FGC quer obter um desconto que seja igual ao prejuízo para zerar ou aproximar de zero o rombo nas contas do banco. O raciocínio foi o seguinte: se “o banco está furado em R$ 2,230 bilhões e tem no passivo dele R$ 5,78 bilhões", o furo tem de ser diminuído para zerar a conta. "Estamos pegando dos credores, que vão pagar a conta e zerar o patrimônio líquido negativo do banco”, explicou Bueno.
O desconto nas dívidas será proporcional ao montante que cada grupo tem da dívida. A recompra será feita pelo FGC, não pelo banco Cruzeiro do Sul, e precisa da adesão de 90% dos investidores.
Além do desconto da dívida, é preciso que o banco seja comprado. “Preciso que as duas coisas aconteçam, zerar o patrimônio e que alguém compre a capitalize a instituição”, disse Antunes.
Segundo o cronograma estabelecido pela instituição, a partir de quarta (15) os dados detalhados das contas do banco estarão à disposição dos bancos interessados em comprar para que analisem. As propostas serão recebidas no dia 10 de setembro e, se não houver propostas, o FGC vai recomendar liquidação do banco ao Banco Central. “Ate lá, tudo roda normalmente, tudo que vencer será pago, nada muda”, afirmou Antunes.
Participação dos grupo na dívida do banco, em % | |
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Investidores locais | 7,5 |
Depósito a prazo com garantia especial do FGC (DPGE) e garantias ordinárias* | 34,4 |
Investidores externos | 58,1 |
*este desconto será pago pelo FGC, já que os depósitos têm garantia. |
Patrimônio
O patrimônio do banco teve redução por conta de operações que não se concretizaram, operações que estavam no balanço e pararam de receber movimentações que vinham recebendo indevidamente, explicou Antunes. Com isso, o patrimômio líquido passou de R$ 1,150 bilhão para R$ 874 milhões.
Intervenção
O Banco Central determinou a intervenção no banco por meio do chamado Regime de Administração Especial Temporária (Raet), pelo prazo de 180 dias e, na época, foi nomeado o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) – entidade privada mantida com recursos dos próprios bancos – como administrador especial temporário. Uma empresa de auditoria (Pricewaterhouse Coopers) foi contratada para avaliar as contas do Cruzeiro do Sul com o objetivo de ajustar as contas para vender a instituição para um comprador ou investidor.
Diretor executivo do FGC, Antonio Carlos Bueno, explica o
"rombo" no Cruzeiro do Sul (Foto: Simone Cunha/G1)
Em junho, Beuno, diretor executivo do FGC, nomeado administrador especial temporário do banco, disse que uma eventual liquidação do banco geraria uma obrigação para o fundo de R$ 2,2 bilhões.
A Polícia Federal instaurou inquérito para apurar uma suposta fraude na gestão do banco. Em dezembro de 2011, o banco, segundo a PF, teria comprado por R$ 55 milhões o Banco Prosper, que estava descapitalizado e já não operava mais.
Em julho, em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e assinado pelo administrador especial, o banco afirma que "até a conclusão do balanço especial previsto em lei, e que se encontra em fase de elaboração, não é possível precisar qualquer valor estimado de perda ou necessidade de ajustes na instituição e suas controladas".
Celso Antunes, indicado pelo FGC, explica a operação de salvamento do banco (Foto: Simone Cunha/G1)
Regime especial
O Raet é um regime previsto na legislação, com prazo limitado, por meio do qual o Banco Central substitui os dirigentes da instituição por um conselho de diretores ou por uma pessoa jurídica especializada, com a finalidade de corrigir procedimentos operacionais ou de eliminar deficiências que possam comprometer seu funcionamento. Com isso, a instituição continua a funcionar normalmente, segundo o BC.
FGC
O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) é uma entidade privada criada em 1995 como um mecanismo de proteção aos correntistas, poupadores e investidores. O FGC permite a recuperação dos depósitos ou créditos mantidos em instituição financeira em caso de falência, insolvência ou liquidação extrajudicial. Atualmente, o fundo garante o pagamento de até R$ 70 mil para cada correntista em razão de perdas motivadas por problemas financeiros da instituição.
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