Esperado desde o início da CPMI, depoimento do ex-diretor-geral do Dnit expôs detalhes das manifestações de agentes públicos para garantir negócios junto à União
Políticos defendiam interesses da Delta
Durante quase oito horas de depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Cachoeira, o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot, acusou parlamentares, entre eles o deputado federal Wellington Fagundes (PR), de defender interesses da empreiteira Delta junto ao órgão. Além disso, admitiu ter pedido doações de construtoras que prestam serviço ao Dnit para o primeiro turno da campanha da presidente Dilma Rousseff (PT).
Pagot afirmou ter sido procurado em 2010 pelo então tesoureiro da campanha do PT, José de Filippi, que solicitou informações sobre empresas que poderiam fazer doações. “Ele [Filippi] me disse que com as maiores eu não precisava me preocupar porque era assunto do comitê de campanha [...]. Fiz isso acreditando que não estava cometendo nenhuma ilegalidade. Em reunião com empresários ou seus procuradores, pedi que, se pudessem fazer contribuições para a campanha, por favor o fizessem. De maneira nenhuma associei a doação de campanha a qualquer ato administrativo do Dnit. Foi uma coisa pessoal”. Segundo relatou, diversas empresas atenderam ao pedido e as doações somaram entre R$ 5,5 milhões e R$ 6 milhões. O ex-diretor do Dnit, no entanto, afirmou ter se arrependido de sua atitude. “Depois fiquei aborrecido comigo mesmo. Percebi o tamanho da bobagem que estava fazendo. Acredito que não cometi ilegalidade, mas, se olhar pelo aspecto da ética, não é ético”.
Pagot acusou ainda a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e o ex-ministro das Comunicações, Hélio Costa, de pedirem indicações de empresas para doações às suas campanhas aos governos de Santa Catarina e de Minas Gerais, respectivamente. Pedidos que, segundo Pagot, foram recusados.
Entre os parlamentares acusados de agirem em benefício da Delta está Wellington Fagundes. Pagot afirmou que o republicano era “zeloso” com as obras da Delta, mas minimizou a atuação do mesmo junto ao órgão. “Não diria que ele fazia pressão. Sempre tem subterfúgios para usar no relacionamento. Sempre tem um interesse maior. Repetidamente eu era procurado para que resolvesse a situação da obra da Serra de São Vicente, onde estávamos quebrando pavimento que havia sido executado de maneira irregular, o que estava prejudicando a conclusão da obra”. Em entrevista ao Diário concedida em abril deste ano, Pagot havia acusado Fagundes de ter “pedido sua cabeça” ao então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR/AM), por não ter atendido a interesses da empresa. À revista Época, ele afirmou que o deputado fez pressão para que o Dnit diminuísse o rigor no episódio em que se decidiu pelo desmanche dos trechos da BR-163 [Serra de São Vicente], que estavam com a camada de concreto fora das especificações. Da mesma maneira, informou ter sido procurado pelo deputado federal Valdemar Costa Neto (PR/SP), que, segundo ele, teria agido como “operador da Delta” junto ao órgão.
O ex-senador Demóstenes Torres também foi citado no depoimento. Segundo o ex-diretor-geral do Dnit, em fevereiro de 2011, Demóstenes o convidou para um jantar em sua casa, onde estavam presentes alguns diretores da Delta e o proprietário da empreiteira, Fernando Cavendish. Na ocasião, o então senador teria pedido a ele que reservasse uma obra para a empreiteira, com a qual possuiria “dívidas” de campanha. Pagot afirmou ter negado o pedido.
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