Nunca fui tão feliz quanto no Atlético-MG, afirma Ronaldinho
Um rejuvenescido Ronaldinho está sendo crucial para que o Atlético-MG seja o favorito para conquistar o Campeonato Brasileiro pela primeira vez em quatro décadas, exibindo uma boa forma que lembra seu período no Barcelona.
O meia-atacante tem se destacado numa campanha em que o time sofreu apenas uma derrota em 19 jogos. A equipe venceu o primeiro turno do torneio e permanece na liderança, um ponto à frente do Fluminense, mas com um jogo a mais.
O centroavante Jô, ex-Manchester City, tem feito gols, o meia Bernard se tornou a revelação do campeonato, e Ronaldinho mostra lampejos do futebol que o fez ser o melhor jogador do mundo em 2004 e 2005.
"Sinto que este é o momento mais feliz da minha carreira", disse Ronaldinho no centro de treinamentos do Atlético-MG, nos arredores de Belo Horizonte. "Uma vez que você tem uma certa experiência, você aprende o valor das coisas e, na idade em que estou, me sinto competitivo, rápido, seguro de mim. Eu me sinto realizado, estou fazendo aquilo a que me dispus."
O Atlético-MG é um dos mais antigos e populares clubes do Brasil, mas seu único título nacional data de 1971, e o time nunca teve o sucesso nacional e internacional que seus fanáticos torcedores merecem.
Os dirigentes do clube resolveram investir dinheiro para mudar isso. Além de trazerem Jô e Ronaldinho, gastaram milhões num centro de treinamentos que foi recentemente eleito um dos melhores do país.
Chegada repentina
Ronaldinho chegou ao Atlético-MG de surpresa, duas semanas depois do início da atual temporada, após um traumático rompimento com o Flamengo. Ele passou 16 meses na Gávea, mas, depois de um bom primeiro ano, as coisas desandaram.
Quando o Flamengo foi eliminado da Libertadores deste ano, Ronaldinho foi criticado por se atrasar nos treinos e por levar mulheres para a concentração. Saiu em maio do clube carioca, contra o qual foi à Justiça pedindo R$ 40 milhões em bônus e salários atrasados.
Embora muitos acreditassem que Ronaldinho fosse uma sombra preguiçosa do craque que deslumbrou o mundo no Barcelona e que contribuiu para o pentacampeonato do Brasil em 2002, o Atlético acreditou nele para brilhar além do Campeonato Mineiro, e o contratou pelo resto da temporada.
A mudança para Belo Horizonte foi vista por alguns como mais um sinal da decadência iniciada com a transferência do Barcelona para o Milan, em 2008. Mas também havia razões para crer que sua passagem pelo Atlético seria um magnífico canto do cisne para o jogador de 32 anos - pois ele se destaca jogando pelo centro em um meio-campo com três homens.
Como não estava mais relegado ao lado esquerdo do campo, Ronaldinho pôde assumir mais responsabilidades, e as estatísticas mostram que ele tem ocupado mais espaços e se envolvido mais do que conseguia no Flamengo.
O seu novo clube se beneficiou tanto na frente quanto atrás. O Atlético-MG tem o melhor ataque do Brasileiro e a segunda melhor defesa, atrás da do Fluminense. A experiência de Ronaldinho tem sido vital para os jovens do clube.
"Ele nos dá uma certa calma", disse Bernard, 19 anos, que ri ao comentar o fato de ser colega de time de um ídolo que costumava admirar no PlayStation. "Ele é um jogador experiente e exala tranquilidade, então mesmo quando estamos em desvantagem ele nos faz ver que somos um bom time, que estamos jogando bem, e que somos capazes de virar."
A boa fase de Ronaldinho esteve visível no fim de semana, durante o clássico mineiro contra o Cruzeiro. Os atleticanos foram proibidos de ir ao estádio por razões de segurança, e o clima era tenso.
Quando estava 1 a 1, Ronaldinho ganhou a bola no meio de campo, driblou dois zagueiros e enganou um terceiro antes de tocar friamente para a rede. O jogo terminou 2 a 2, mas o golaço do gaúcho virou manchete no mundo todo.
O jogador, com a mesma timidez de antigamente, atribuiu o lance à sorte. Mas foi menos modesto ao analisar o que significaria o título nacional para o seu novo time.
Poderia não ser um triunfo tão comentado quanto um título da Liga dos Campeões da Europa, nem seria suficiente para lhe garantir um lugar na seleção que disputará a Copa de 2014. Mas lhe daria um status de deus em BH. E seria também a realização de um sonho de infância.
"O presidente do clube me disse como eu escreveria meu nome na história do Atlético se ganhássemos o título depois de 41 anos", disse ele, exibindo seu tradicional sorriso cheio de dentes.
"Todo mundo quer fazer história, e foi isso que mais me motivou a vir para cá. Desde que eu era criança, eu sonhava em ganhar o Brasileirão, e ainda sonho com isso. Estou fazendo tudo o que eu puder para tornar esse sonho realidade."
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