A prisão foi feita por homens do Batalhão de Choque (BPChoque) da Polícia Militar. De acordo com os policiais, até as 16h não havia confiirmação de que os dois suspeitos tenham relação com a chacina dos seis rapazes.
A operação policial está sendo realizada no Parque de Gericinó, próximo à Favela da Chatuba, em Mesquita. A ação vai apurar ainda a denúncia de que outras pessoas desaparecidas estariam em poder dos traficantes.
Os jovens mortos tinham ido a uma cachoeira no parque. Segundo a delegada Sandra Ornellas, da 57ª DP (Nilópolis), onde inicialmente o caso foi registrado, os bandidos que estão fazendo vítimas na região devem ser da Favela do Chapadão, na Pavuna, no subúrbio do Rio, e teriam deixado a comunidade após a ocupação da polícia.
Música em celular
Segundo informações do RJTV, os jovens moravam numa comunidade dominada por traficantes de uma facção rival à da área da cachoeira e a polícia investiga se um dos celulares dos jovens tivesse com uma música que fizesse referência à outra facção.
Sandra informou também que há indícios de que, antes de os corpos serem deixados no local onde foram encontrados, eles teriam sido enterrados em outro lugar. A perícia teria encontrado areia sobre a pele das vítimas, identificadas pela Polícia Civil como Christian Vieira, de 19 anos; Victor Hugo Costa, Douglas Ribeiro e Glauber Siqueira, de 17; e Josias Searles e Patrick Machado, de 16.
Os corpos foram achados na manhã desta segunda por três pedreiros que realizam a ampliação da Rodovia Presidente Dutra, em Jacutinga, Mesquita. O jovens estavam lado a lado, enrolados em lençóis, nus, amordaçados e com sinais de facadas e marcas de tiro, na Rua Dona Delfina Borges. Eles foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) do Rio, onde os familiares farão o reconhecimento.
Corpos das vítimas foram encontrados enrolados em lençóis (Foto: Renata Soares/G1)
"Eram umas 7h40 quando e eu meus amigos vimos estes lençóis sujos de sangue. Aí eu levantei e vi que eram corpos. Liguei para a policia e eles vieram aqui e fizeram a identificação dos meninos. Foi uma cena lamentável, eles estavam nus e bastante machucados", contou o pedreiro Ademir Antônio Arthur.
Segundo Tiago Batista, os corpos já estavam há pelos menos um dia no local. "Eles estavam fedendo e com marcas de tortura", completou.
O tio de Victor Hugo, o ajudante de pintor Antonio Alves da Costa Filho, disse que os rapazes, que se conheciam havia cerca de sete anos, nunca tiveram envolvimento com drogas.
Amigos e familiares contaram que o local onde eles foram mortos era um parque da prefeitura em que, segundo moradores, é muito comum ver bandidos da Chatuba armados com fuzil. Segundo eles, é o mesmo local onde um pastor teria sido morto neste sábado.
A delegada confirma a morte de Alexandro Lima, de 37 anos, no sábado. Segundo a esposa dele, Fabiane Lima, o homem estava caminhando como de costume no parque, ouvindo música, e não teria escutado os traficantes pedindo para que parasse. A delegada não confirma se ele seria pastor.
Anderson de Oliveira, morador, vizinho e amigo das famílias, disse também que os pais dos jovens tentaram ir ao parque procurar pelos jovens no domingo, e que foram recebidos a balas pelos traficantes. Um parente de um dos garotos, que preferiu não se identificar, contou que a família tentou ligar por três vezes para o telefone de um deles e que um traficante teria atendido e dito que eles estavam "cumprindo uma missão". Na terceira tentativa, teria mandado procurar "outros filhos", pois aquele "já era".
Para Sandra Ornelas, a chacina foi uma demonstração de força de traficantes. "Nenhum dos meninos tinha passagem pela polícia ou envolvimento com o tráfico. Recebemos a informação de que a família entrou em contato com os traficantes pelo celular de uma das vítimas, mas eles disseram que não devolveriam os garotos. A família também pediu ajuda a um pastor para negociar, mas não deu certo. Eles estavam no lugar errado na hora errada", afirmou a delegada.
Amigos pedem justiça (Foto: Cristiane Cardoso/G1)
Ainda segundo Sandra, a família a princípio registrou o caso como desaparecimento e depois mudou para sequestro. "Pode ter sido vingança, mas eu acredito que tenha sido uma demonstração de poder. Foi um crime injustificável", explicou.
De acordo com moradores do bairro de Olinda, onde moravam todos os jovens, há cerca de quatro meses ocorre uma guerra de facção. "A cachoeira de Gericinó é uma área de lazer, mas por causa dessa briga entre os traficantes, a gente não pode nem se divertir", relatou uma moradora que não quis se identificar.
Protesto de amigos
Todos os jovens moravam na Rua Coronel França Leite, no bairro do Cabral, em Olinda, em Nilópolis, na Baixada. Na manhã desta segunda, dezenas de amigos e familiares chegaram a fechar a rua em protesto contra a chacina. Por volta de 11h30, a polícia chegou para liberar a via e foi recebida com gritos de "justiça".
Amigos de infância fecharam o trecho da rua onde moravam os jovens mortos (Foto: Cristiane Cardoso/G1)
Segundo vizinhos, amigos e parentes, os jovens não têm qualquer envolvimento com o tráfico.
“É um parque criado pela prefeitura. Depois que a prefeitura tomou conta, eles tiraram o Exército de lá. Lá não tem policiamento e a Chatuba chega pela mata. A qualquer hora do dia você vê homens com fuzil. Eles eram estudantes, só foram lá para passear”, disse o vizinho Arlindo de Oliveira.
Amigos de infância dos jovens e vizinhos contam que os seis eram estudantes. A mãe de Christian chegou amparada por uma amiga, após o reconhecimento do corpo. “Não sei quem poderia querer mal para o meu filho. Como é que eu vou ficar agora sem o meu filho”, desabafou.
Mãe de Cristian França chegou amparada por uma
amiga, após o reconhecimento do corpo (Foto:
Cristiane Cardoso/G1)
O irmão de Patrick, Paulo Henrique, foi um dos que reconheceu os corpos. Segundo ele, todos os seis jovens estavam amarrados. Christian estava com um dente quebrado e um tiro na testa. Glauco tinha cinco facadas no pescoço. Paulo Henrique informou ainda que Josias foi encontrado com um tiro próximo ao olho e João Vitor, morto com um tiro na cabeça. Famílias e amigos organizam um enterro coletivo.
Segundo o morador Marcio Moura, os jovens iam constantemente para este local tomar banho de cachoeira e soltar pipa. “Moro há 37 anos aqui, frequentava a cachoeira quando era jovem, tenho um filho quase da idade deles e nunca vi isso acontecer lá. Podia ter sido o meu filho. Eles vão soltar pipa lá para não correr o risco de enrolar nos fios, por uma questão de segurança”, explicou.
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