O Disque-Denúncia pede que quem tiver mais informações sobre os responsáveis pelas mortes, ligue para o telefone 2253-1177. O anonimato é garantido.
Presos não têm ligação com chacina
O delegado Júlio da Silva Filho, titular da 53ª DP (Mesquita), disse que nenhum dos presos até as 16h desta terça-feira (11), em operação realizada na Favela da Chatuba, tem ligação direta com a chacina de seis jovens naquela comunidade. Segundo o delegado, os assassinos dos rapazes ainda estão sendo procurados pela polícia. Por volta das 19h30, alguns dos presos foram transferidos para o presídio de Água Santa, no subúrbio do Rio.
"As mortes foram cometidas por uma banalização, um desrespeito à vida. Os traficantes se julgavam os donos, os senhores daquela região, e os jovens teriam "invadido" aquele território", declarou o delegado Júlio da Silva.
Doze detidos
Doze pessoas haviam sido detidas em ocupação da Favela da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense, iniciada na madrugada pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) e pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar (BPChq).
A ação é realizada depois que os corpos de seis jovens de uma comunidade próxima foram encontrados, na manhã de segunda-feira (10). A polícia afirma que os criminosos também seriam responsáveis pelas mortes do pastor Alexandre Lima e de um aspirante a PM. Outra vítima, José Aldecir da Silva, está desaparecida.
Dez suspeitos foram presos em flagrante. Três tiveram os nomes divulgados. Ricardo Sales da Silva, de 25 anos, e Monica da Silva Francisco, de 20 anos, estavam com 433 papelotes de cocaína e 41 pedras de crack. Um homem identificado apenas como Beto Gorducho estava em uma casa com 50 gramas de cocaína e R$ 15 mil em espécie. Os suspeitos também foram encaminhados para a 53º DP, em Mesquista.
Dois menores foram detidos, um deles estava foragido de uma instituição para menores. Uma rádio pirata também foi achada na Chatuba. O dono foi levado para a delegacia para prestar esclarecimento.
Cinco acampamentos
Em nota, a polícia diz que foram desmanchados cinco acampamentos dos traficantes, um deles equipado com gerador de alta capacidade e um fuzil de fabricação alemã com uma luneta, adaptado para tiros de longo alcance.
No total, foram encontrados 3 mil cápsulas e 30 papelotes de cocaína, 70 pedras de crack, uma metralhadora calibre 9 milímetros, uma pistola, uma granada, um carregador de pistola, três coldres, um par de coturno, um cinto, duas mochilas, sete telefones celulares, uma máquina fotográfica, cinco baterias de telefone celular, um cordão, um lampião, uma rede de campanha e R$ 15.084, 50 em espécie. Um carro também foi recuperado.
Cerca de 250 policiais, entre homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Batalhão de Choque (BChoque), Batalhão com Cães, do Grupamento Aero Marítimo e da Coordenadoria de Inteligência, vasculham a Favela da Chatuba desde 1h15 desta terça-feira (11). Segundo o comando, a ação da polícia não tem prazo para acabar.
Fuzil apreendido na mata pela polícia, estava
adaptado para tiro de longa distância (Foto:
Janaína Carvalho / G1)
De acordo com o coronel Frederico Caldas, relações públicas da PM, até as 9h30 da manhã não havia ocorrido nenhum tipo de reação dos bandidos. "A partir dessa ocupação definitiva vai ser instalada uma Companhia Destacada, com efetivo de 112 policiais. É uma resposta imediata aos atos bárbaros que foram cometidos no final de semana", afirmou.
"O relato dos moradores é dramático. A convivência com esses marginais fazia parte da rotina deles. Essa ação é uma reconquista desse território e uma garantia de tranquilidade aos moradores", completou Caldas.
Segundo moradores que preferiram não se identificar, a chegada da polícia aconteceu em boa hora. "Moro aqui há 55 anos e a situação estava ficando cada vez pior. Espero que agora as coisas melhorem", disse uma moradora, ressaltando que tinha receio até de chegar ao portão de casa.
Polícia ocupa favela da Chatuba após chacina de 6
jovens (Foto: Janaina Carvalho/G1)
Realidade cruel
Segundo o coronel Caldas, as mortes expuseram uma realidade muito cruel que a região era submetida até agora. "Essa operação foi planejada no dia de ontem. Mobilizamos as nossas tropas especiais, pedimos o apoio do Corpo de Fuzileiros Navais, que disponibilizou quatro blindados, que foram fundamentais para a nossa entrada. Nosso objetivo é reestabelecer a ordem e acabar com essa ação tão nefasta desses marginais aqui nessa localidade", explicou o coronel.
Ainda de acordo com o relações públicas da PM, o setor de inteligência da Polícia acredita que os chefes do tráfico da comunidade que teriam ordenado os atos são Juninho Cagão, que seria o líder na região, Foca e Ratinho.
"Esses três certamente devem ter liderado essas execuções", disse Caldas, afirmando que a polícia já tem a descrição desses três criminosos e a informação de possíveis locais onde eles podem estar escondidos.
Ainda de acordo com Caldas, as informações obtidas através do Disque-Denúncia têm sido fundamentais para essa ocupação. Só na noite de segunda-feira (10) foram 12 ligações.
Chacina
Traficantes da Chatuba são suspeitos pelas mortes de pelo menos oito pessoas no último final de semana. Seis jovens, com idades entre 16 e 19 anos, desapareceram no sábado (8) quando foram tomar banho em uma cachoeira que fica próxima à Favela da Chatuba, em Mesquita, e também ao Campo de Gericinó.
Os corpos de Glauber Siqueira, Victor Hugo Costa e Douglas Ribeiro, de 17 anos, Christian Vieira, de 19 anos, e Josias Searles e Patrick Machado, de 16 anos, foram encontrados na segunda-feira (11) às margens da Via Dutra. Eles estavam lado a lado, enrolados em lençóis, nus, amordaçados e com sinais de facadas e marcas de tiro.
O irmão mais velho de Patrick Machado, um dos seis jovens assassinados, afirmou ao G1 na segunda (10) que os adolescentes foram confundidos com traficantes rivais aos da Favela da Chatuba. "Pegaram os garotos pensando que eram ‘os alemão’ (sic) invadindo a Chatuba".
"A gente foi até a Chatuba desenrolar com o gerente da boca de fumo da favela. Ele disse que os meninos foram confundidos com traficantes", contou o irmão, que não quis se identificar.
Investigações
As investigações da polícia apontam para a participação de pelo menos 20 traficantes na chacina, segundo o delegado Júlio da Silva Filho.
O delegado disse que todas as mortes foram comandadas por Remilton Moura da Silva Júnior, conhecido como Juninho Cagão, chefe do tráfico de drogas na Chatuba. Ainda segundo a polícia, há a hipótese de o PM ter sido torturado na área do parque pelo grupo criminoso.
Da esquerda para a direita, a partir de cima, os jovens mortos na chacina: Patrick, Christian e Glauber; Josias, Douglas e Victor (Foto: Reprodução)
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