A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira vai enviar aos procuradores responsáveis pela Operação Monte Carlos ofício solicitando o sequestro de bens do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e das pessoas envolvidas com os negócios do contraventor. Cachoeira, que está preso, é acusado de explorar jogos ilegais em Goiás e de subornar agentes públicos.
A medida foi tomada após reportagem publicada na edição de domingo do jornal Correio Braziliense denunciar a tentativa de membros da organização criminosa de vender bens a fim de deixar o País. "Estamos enviando ofício aos procuradores Daniel de Resende Salgado e Léa Batista de Oliveira e para o juiz Alderico Rocha solicitando o sequestro dos bens e o confisco dos passaportes de todos eles", explicou o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).
O ofício inclui ainda um pedido de liminar para que os bens sejam imediatamente bloqueados. Para o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), a medida é importante para evitar que pessoas de boa-fé acabem "comprando terreno na Lua", uma vez que os bens são fruto de crime e podem ser confiscados pelo Estado. "Além disso, precisamos ter senso de oportunidade. Se nós não formos céleres, pode ser que, quando nós chegarmos a esses bens, a organização já tenha se defeito deles", declarou o relator.
Além do sequestro dos bens, os parlamentares pedem ao Ministério Público em Goiás que interceda na Justiça para que os denunciados na ação penal resultante da Operação Monte Carlo depositem seus passaportes em juízo, sob pena de decretação de prisão preventiva.
"A organização criminosa continua operante mesmo após a prisão de seu líder e mentor, Carlos Cachoeira, desrespeitando os poderes constituídos, assolando a paz social e, sobretudo, articulando contra o sucesso e continuidade das investigações", alegam os parlamentares para justificar o pedido. Assina o documento, além de Vital do Rêgo e de Odair Cunha, o vice-presidente da CPI do Cachoeira, deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Eles esperam que a solicitação tenha resultado até a próxima semana.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.
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