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Internacional
Domingo - 30 de Setembro de 2012 às 23:11

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Apontando a vastidão pontilhada por bobinas de ferro laminado, Manuel Ortiz indica, satisfeito: "Aqui será a nova doca, a 16ª. Se você seguir nesta direção, chega ao mar. À sua esquerda, fica a Ilha do Padre, e à direita, a uns 10 km, Matamoros. O México".

Ortiz é porta-voz do Porto de Brownsville, cidade de 181 mil habitantes na ponta do mapa do Texas desde 2009, quando o governo Barack Obama injetou ali US$ 12 milhões em estímulo anticrise e ele voltou após 11 anos fora.

A cidade que achou, maior e mais viva, é um retrato em negativo de dois dos maiores fantasmas da campanha presidencial americana, evocados a toda hora por Obama e o republicano Mitt Romney: a reforma imigratória e a rivalidade com a China.

  Brad Doherty-16.fev.2012/Associated Press  
Operário corta chapa de metal em fábrica de Brownsville, cidade em que as empresas concorrem com produtos chineses no mercado americano
Operário corta chapa de metal em fábrica de Brownsville, cidade em que as empresas concorrem com a China



Após o baque da crise de 2008 e diante do flanco aberto no país asiático pela alta dos custos trabalhistas, Brownsville se lançou em uma campanha agressiva por investimentos com a meia-irmã mexicana, Matamoros.

"Temos sido mais transparentes em mostrarmos que estamos trabalhando juntos. Saímos do armário", brinca o prefeito Tony Martinez, um democrata eleito em 2011.

A despeito da recuperação arrastada no resto do país, que norteia a campanha presidencial, resultados começam a surgir. No ano passado, o porto manejou 6,5 milhões de toneladas de carga --a maior parte, ferro e combustível rumo ao México.

Em dezembro, as cidades, que constroem a quinta ponte transnacional, inaugurarão uma ferrovia --algo inédito na fronteira entre EUA e México em cem anos.

"Elas estão integradas", afirma Roberto Mattus, da Associação de Maquiladoras de Matamoros. "Brownsville tem promovido a região. Antes, cada uma cuidava de si. Hoje, elas se complementam."

Do lado mexicano, se ensaia o renascimento. A cidade de 489 mil habitantes foi um polo importante de "maquiladoras" --as fábricas montadoras que, nos anos 80, fizeram a economia mexicana saltar e inundaram os EUA de produtos baratos.

Depois veio a concorrência de cidades vizinhas menos afeitas aos sindicatos, a ascensão chinesa, a crise que quase implodiu o setor automotivo americano e o aumento da criminalidade.

Hoje, Matamoros soma 122 maquiladoras que empregam 60 mil pessoas (80% da mão de obra formal da cidade, segundo a associação do setor) e paga salários médios de US$ 400 (R$ 803) aos operários.

Ao menos 10% desse dinheiro, estima o professor Rafael Otero, da Escola de Negócios da Universidade do Texas em Brownsville, é gasto do lado americano da fronteira. São US$ 3 milhões ao mês.

Essa simbiose puxa uma lenta, mas constante, recuperação. Enquanto a renda média nos EUA encolheu 4,4% nos últimos cinco anos, em Brownsville ela cresceu 6,1%, segundo dados do Censo.

LÁ E CÁ

O pacote se tornou atraente para empresas que produzem componentes e precisam montar as peças. Operações divididas hoje são comuns.

A Trico, maior fabricante de limpadores de para-brisas dos EUA, decidiu reprogramar sua unidade na China apenas para o mercado local.

O dos EUA agora é servido só pela unidade de Brownsville e Matamoros. Como em outras empresas visitadas pela Folha, do lado americano se fazem componentes, numa fábrica mecanizada com 388 funcionários, e do mexicano, está a linha de montagem, com 1.500 operários.
"Os custos da mão de obra na China continuam subindo", diz Martin Kennedy, vice-presidente da Trico para os EUA. "No México, com benefícios, pagamos US$ 1,80 a hora. Na China, quase US$ 3."

Pesa ainda a logística, afirma ele. As fábricas na fronteira podem reagir a picos na demanda americana em dias. As chinesas levam semanas.

"Veremos cada vez mais esse movimento", estima Gilberto Salinas, vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Brownsville, que negocia a instalação de outra firma disposta a deixar a China. O HSBC, em relatório de março, prevê que o México atraia boa parte das fábricas que voltam. Sua mão de obra cresceu na cultura maquiladora, e os salários, 365% maiores que os chineses há dez anos, hoje são só 29%.

Estão de olho nesse contra fluxo, além de Browsnville, as texanas San Antonio, Corpus Christie e Houston.

Falta o apoio do governo federal, imobilizado pela campanha. Mattus, da associação de maquiladoras, brinca que "há Washington e há a fronteira". A última pode ser a resposta à primeira.






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