Os trabalhadores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) denunciaram por meio de uma carta-aberta a falta de médicos e ambulâncias nos atendimentos prestados na Grande Cuiabá. O documento enviado ao Conselho Estadual de Saúde de Mato Grosso (CES/MT) aponta 32 problemas e irregularidades, entre eles, o desabastecimento de medicamentos e materiais, e o comprometimento da central de esterilização e desinfecção pela quebra dos equipamentos, além da ausência de material para se fazer o trabalho.
Os funcionários reclamam ainda da precariedade de equipamentos, falta de médicos, remédios e até ambulâncias. Um funcionário do Samu que não quis ser identificado diz que as condições de trabalho são precárias. “Dos primeiros socorros essenciais que estão faltando na ambulância são as luvas. Às vezes a gente pega luva emprestada no pronto-socorro. Nós estamos sem condições mesmo de trabalho nas ambulâncias. Às vezes fico triste porque a gente vê a pessoa morrendo na nossa frente e não podemos fazer nada, não tem médico para socorrer, nos ajudar”, disse à reportagem.
Apesar da denúncia, o diretor geral do serviço, Daoud Abdallah, garante que a realidade não é esta. “Nunca perdemos nenhuma pessoa por falta de medicação ou por falta de assistência. Eu desafio alguém que deixou de ser atendido pelo Samu, que foi acionado e não foi assistido”, ressaltou.
Diante das denúncias, o Ministério Público decidiu abrir uma investigação. O Sindicato dos Servidores Públicos da Saúde e Meio Ambiente (Sisma) de Mato Grosso também denunciou que o tempo médio que o Samu leva para chegar ao local de uma ocorrência é de 40 a 50 minutos. Segundo o sindicato, a demanda aumentou, mas faltam equipes e ambulâncias. “Em primeiro lugar não tem médico. Aqui os médicos pediram demissão porque a situação de trabalho está muito difícil. Se acontecer um acidente hoje em Várzea Grande, tem que vir uma ambulância de Cuiabá”, pontuou o diretor de comunicação do Sisma, Jaime Alves de Carvalho Junior.
Já o diretor do Samu, Daoud Abdallah ressaltou que algumas substituições de funcionários demandam tempo, mas não comprometem o serviço. “Algum problema que ocasiona gera uma troca, uma substituição, mas que nunca fez com que deixássemos alguém desassistido. Sempre há aquela janela onde uma substituição de uma ambulância por outra gera essa ausência, mas é por um período curto”, disse o diretor. Segundo ele, as ambulâncias são novas, com no máximo dois anos de uso e quando há falta, são substituídas.
O governo do estado tem o interesse de repassar a administração desse atendimento para uma Organização Social. “Se há a necessidade ou não do Samu ser gerenciado por uma organização social, pode ocorrer sim mas, atualmente, isso não está em pauta. O serviço segue normalmente com a gestão pública e se isso vier a acontecer só vai agregar, não irá dificultar ou trazer algum dano à sociedade”, contrapôs Daoud.
Segundo a presidente do Conselho Regional de Medicina, Dalva Alves das Neves, a última fiscalização do conselho em 2010 já havia identificado vários problemas e irregularidades no Samu. Ela afirma que a situação afeta diretamente os serviços prestados à população. “É extremamente importante que o Samu funcione bem, porque as pessoas vão começar a morrer. Eu quero saber quem serão os responsáveis por essas mortes que vão acontecer”, ressaltou.
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