Louise e Martine se embaralham no apartamento de dois quartos que dividem em Ijmuiden, a oeste de Amsterdã. Uma de chinelos, a outro de sandálias, elas pegam canecas de café e seus bolos de creme favoritos. Há uma sincronicidade inconsciente em seus movimentos.
Martine cantarola enquanto Louise resmunga sobre famílias forçadas a fugir durante a Segunda Guerra Mundial. Sua mãe tinha origem judia, algo que conseguiu esconder das forças de ocupação nazistas, permanecendo na Holanda. Já o tema da canção de Louise transita entre a alegria de viver e a tristeza de deixar alguém.
"Nós éramos muito pequenas durante a guerra. Quando as sirenes soavam, nossa mãe nos levava ao porão. Nós não tínhamos capacetes e por isso usávamos frigideiras para cobrir nossas cabeças. Ficávamos muito engraçados. E nos divertíamos lá".
Mas suas memórias são de lágrimas ou de risos?
"Oh, risos, definitivamente risos. Você tem de rir mesmo se estiver triste, porque é a sua vida e você não pode mudá-la. É sempre melhor se você está sorrindo".
As irmãs concordam em uníssono. Mas os seus lábios habilmente pintados de vermelho não diminuem o brilho de tristeza em seus olhos. "É claro que quando tínhamos 14 ou 15 anos nunca pensamos em trabalhar como prostitutas um dia. Éramos criativas e cheias de sonhos", diz Martine.
Louise acrescenta: "Eu sempre conto que o meu marido me batia. Ele era violento e disse que iria me deixar se eu não vendesse sexo para ganhar mais dinheiro".
"Mas ele foi o amor da minha vida ...", diz ela.
As crianças de Louise foram levadas para um orfanato. Ela ainda guarda fotografias, que ficam nas prateleiras de uma estante antiga, mostrando seus pequenos rostos sorridentes.
Louise e Martine quando ainda trabalham juntas.
(Foto: BBC)
Falando da experiência
Martine ainda vende sexo. Ela diz que a aposentadoria do estado holandês não é suficiente para o seu sustento. Já Louise teve de parar por sofrer de artrite.
Martine diz que gostaria de se aposentar, mas não pode. O documentário a mostra no trabalho - sentada em um banquinho, de meias finas, cinta-liga e sapatos altos envernizados.
Homens jovens que passam em frente à sua vitrine, alguns deles fazendo turismo sexual, zombam porque ela é velha. Ela ri da situação (como faz com tudo) e afirma não se importar.
Ela diz que os tempos mudaram: "Os meninos são diferentes agora, eles bebem muito, são gordos e não respeitam você. Eles deveriam andar de bicicleta como meninos holandeses, e não apenas beber o tempo todo".
Apesar das jovens prostitutas que competem na casa ao lado, há ainda um mercado de serviços para Martine.
Ela se especializou em bondage para homens mais velhos. Orientando-a sobre como querem que ela se vista, eles a pedem para usar uma série de (aparentemente perigosos) chicotes ou sapatos de salto alto. Parece que ela encontrou um nicho no mercado de fetiche. "Nós sabemos os truques, nós sabemos o que eles querem. Nós sabemos como falar com eles e sabemos como fazê-los rir muito".
Martine diz que tem sorte de estar viva e se lembra de um episódio em que recebeu um homem que lhe despertou uma sensação ruim, de desconfiança. "Ele tirou a roupa e, quando me sentei na cama, percebi que havia uma faca enorme sob o travesseiro".
"Há sempre altos e baixos", acrescenta Louise. ""Altos e baixos, altos e baixos ..." as gêmeos cantam, antes de cair em si e terem um ataque de riso.
A história das gêmeas promete, agora, se tornar global. A biografia das irmãs ficou no topo da lista de best-sellers da Holanda e, agora, uma tradução em inglês está sendo impressa e deverá ser lançada ainda neste ano.
As gêmeas dizem que "Conheça as Fokkens" ajudou a mudar atitudes e alguns dos abusos a que eram submetidas foram substituídos por respeito.
Depois de atacar os restos do bolo com creme de Louise, Martine oferece uma garfada para de um de seus três Chihuahuas, que se equilibra sobre seu colo.
"Isso é o que sabemos fazer. Se não estivéssemos na rua, o que faríamos? Esta é a nossa vida". "Além disso", ela olha novamente para a irmã, "ainda estamos nos divertindo".
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