A cidade nunca tinha enfrentado um desastre ambiental tão devastador quanto o da última noite. E os correspondentes Júlio Mosquéra e Sérgio Telles viram os estragos de perto.
O momento mais crítico da tempestade se aproximava. No fim da tarde de segunda-feira, em Nova York, os moradores assustados viam a chuva ficar mais intensa.
O Rio Hudson já estava 3,5 metros acima do nível normal. As águas transbordaram para pistas que ligam o norte ao sul de Manhattan. Quem se aventurou a enfrentar a inundação parou no meio do caminho.
Estações do metrô também ficaram debaixo d’água. Uma foto mostra como o estrago no Marco Zero, onde ficavam as torres gêmeas. O vento produzia um barulho assustador.
Os ventos ficaram ainda mais fortes em Manhattan, no início da noite. O resultado? Árvores foram arrancadas pela raiz.
As rajadas atingiram 136 quilômetros por hora. A impressão era de que alguns prédios não iriam resistir. E foi o que a equipe do Jornal Nacional viu ao seguir para a 8ª Avenida. Toda a fachada de um edifício veio abaixo. A rede de TV CNN exibiu o momento em que parte do prédio desabou. Uma imagem que simbolizava a força da tempestade.
Pouco depois, a cidade testemunhou uma sequência de explosões em uma subestação de energia da Con Edison, a empresa de eletricidade de Nova York. Cabos ficaram submersos pelas águas do Rio East e entraram em curto circuito.
A última explosão iluminou a parte de baixo de Manhattan. Imediatamente, mais de 500 mil pessoas ficaram sem energia. O prefeito Michael Bloomberg fez um apelo de madrugada e em dois idiomas pediu que as pessoas só ligassem para a emergência em casos de extrema gravidade.
Sirenes soavam por toda a ilha. Era a corrida para atender os milhares de pedidos de socorro.
Por causa do blecaute, a prefeitura teve que montar de última hora uma operação de emergência para ajudar os hospitais. Com carros de polícia, do corpo de bombeiros e ambulâncias eles se reuniram nas entradas dos hospitais para ajudar na transferência de pacientes.
Ao todo, 215 pessoas deixaram às pressas o hospital da Universidade de Nova York, um dos maiores da cidade; 45 em estado grave. Uma operação delicada, pois 20 bebês estavam na UTI pré-natal.
Durante toda a madrugada, debaixo de chuva, funcionários da Con Edison trabalharam para tentar recuperar os equipamentos danificados pela explosão. Mas boa parte da cidade continuou às escuras.
Fora de Manhattan, no bairro do Queens, um contraste do rastro de destruição deixado pela tempestade Sandy. A água invadia ruas, enquanto dezenas de casas pegavam fogo. Um dos bombeiros relatou a dificuldade para salvar 25 pessoas.
"Forçamos a entrada das portas. Foi desesperador. As pessoas tiveram que caminhar com água até o pescoço”, contou o bombeiro.
Uma noite que lembrou cenas de um filme catástrofe
Quando o dia amanheceu foi que os moradores de Nova York tiveram a dimensão dos estragos.
Várias regiões estão com ruas inundadas. Um mapa mostra a área que foi mais atingida pelo Sandy. A água ainda está na porta de muitas casas e lojas. Mas há problemas maiores. Pelo menos 650 mil pessoas ficaram sem luz. Denis diz que tem filhos pequenos. "Estou sem telefone, sem e-mail. Estamos tentando saber o que vai acontecer", afirmou.
Cristian também está no escuro e o filho de 3 anos está doente. Foi uma tempestade devastadora.
O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg e o governador do estado, Andrew Cuomo, disseram que energia e transporte público são os maiores desafios do momento.
Eles explicaram que sete tuneis do metrô foram alagados e que os trens vão demorar uns quatro ou cinco dias ainda para voltar a circular.
As pontes reabriram ao meio do dia. Mas dois túneis permanecem fechados, assim como as escolas.
O Aeroporto Internacional John Kennedy, o principal da região, só deve reabrir nesta quarta. A bolsa de valores de Nova York, a mais importante do mundo, também volta a funcionar nesta quarta. Foi a primeira vez que ela ficou fechada dois dias por motivos climáticos desde 1888.
Nesta terça, os taxis foram autorizados a fazer lotação e os ônibus começaram a circular, aos poucos, no fim da tarde.
Nos deques, sempre cheios de turistas no Baterry Park, no sul de Manhattan, uma visão desoladora. O comercio ainda está fechado. E os moradores têm dificuldade para comprar água e comida.
A velocidade do vento na Ilha de Manhattan chegou a 140 quilômetros por hora. No que era um parque, às margens do East River, a forca do vento destruiu o parque, quebrou uma arvore ao meio. E o mais impressionante: arrancou quase todas as outras pelas raiz. Nem o concreto resistiu à tempestade.
Uma moradora disse que durante a noite a inundação parecia um filme. Algo inacreditável.
Os carros de um estacionamento subterrâneo ficaram empilhados. Muitos moradores passaram o dia tirando água de dentro das casas.
Em Staten Island, um cargueiro encalhou durante a noite, empurrado pela maré. O calçadão de Long Beach e parte do muro de várias casas foram destruídos. Um morador lembra o medo que sentiu durante a noite.
Ao todo, 23 grandes incêndios foram registrados em toda a cidade desde segunda. Um prédio foi esvaziado porque o incinerador pegou fogo.
Uma moradora afirma: "Não temos água, energia, não temos nada, mas somos nova iorquinos. Nós sabemos da a volta por cima”.
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