Numa casa de uma arborizada e tranquila rua do lado leste de Providence, capital do Estado de Rhode Island, 15 voluntários e eleitores do Partido Democrata se reuniram para assistir ao discurso do presidente Barack Obama no último 7 de setembro. Mobilizado pela internet, o grupo representa um recorte dos eleitores e das táticas que podem ajudar Obama a se reeleger em 6 de novembro.
A festa foi promovida por Jana Hesser, 68 anos. Funcionária pública aposentada da área de saúde, ela já esteve envolvida em outras campanhas, mas neste ano sentiu necessidade de doar mais tempo, especialmente pelo que acredita ser o poderio financeiro maior dos republicanos. "Acho crucial que Obama seja eleito, porque os republicanos se lançaram muito à direita desta vez. Meu foco é conseguir o máximo de voluntários e mobilizar pessoas", diz Jana. "Sempre votei democrata, e temos os mesmos valores, principalmente em questões sociais".
Foi a primeira vez que Jana organizou um evento pelo "Dashboard", como os voluntários da campanha se referem ao www.barackobama.com/dashboard-signup/ , em que podem se registrar e divulgar seus eventos, num misto de rede social e blog coletivo cujo poder de mobilização pode ser verificado pela resposta ao convite de Jana, que inicialmente almejava receber no máximo 15 pessoas entre vizinhos e voluntários de campanha que moram na área. Ela recebeu 55 manifestações de interesse e teve de redirecionar a maior parte para outro evento, promovido pelo Partido Democrata num bar local.
Rhode Island foi apontado por uma pesquisa de opinião da Gallup como o segundo Estado mais alinhado com o Partido Democrata nos Estados Unidos, depois do Distrito Federal, o que por si só já ajudaria a explicar a razão de tanto interesse, mas a reunião também envolveu integrantes do Team East Side, de voluntários que formam grupos para bater de porta em porta em Estados vizinhos, tentando convencer as pessoas a votar em Obama.
Helaine Daniels, que descreve de maneira entusiasmada os fins de semana que passa batendo de porta em porta no vizinho Estado de New Hampshire para tentar convencer as pessoas a votar em Obama, diz que os eleitores têm muitas dúvidas, especialmente sobre a reforma da saúde. "Tentamos virar o sentido de ObamaCare, que acabou de tornando uma expressão pejorativa, para argumentar que Obama "se importa" (num trocadilho com "Obama cares" em inglês)", conta Helaine, doutora por Harvard que trabalha como administradora numa universidade local. "Os republicanos estão usando muita propaganda negativa, com muitas mentiras, o que deixa as pessoas cheias de dúvidas", diz Helaine.
Ao falar sobre a importância de Obama na presidência para os afro-americanos, Helaine se emociona. "A eleição dele foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para a autoestima dos negros americanos. Meu filho olha para Obama e diz: eu quero ser presidente!".
Norm Oullet, 86 anos, por outro lado, não é um desses voluntários. Como outras pessoas na festa, ele não conhecia ninguém e ficou sabendo do evento pelo Dashboard, preferindo assistir ao discurso num ambiente mais intimista do que num lugar público. "Estou sentindo um entusiasmo, uma efervescência parecida com os tempos de FDR (uma referência ao ex-presidente Franklin Delano Roosevelt)", disse Norm, filho de imigrantes franceses que morou a vida toda em Providence. Como Nova York, a cidade foi porta de entrada para muitos imigrantes e a diversidade étnica da região é visível nos sobrenomes de alguns moradores, muitas vezes com um sabor estrangeiro.
Ao vice-presidente, Joe Biden, um orador carismático da Pensilvânia, coube o papel de louvar o presidente e as políticas do partido antes do grande discurso da noite. Biden repetiu a mensagem que ficou na convenção democrata, de que é preciso governar com um viés mais social e não usando técnicas empresariais, como o candidato republicano Mitt Romney vem defendendo; martela o bordão "Bin Laden is Dead, GM is Alive" (algo como Bin Laden está morto, GM está viva). Na casa de Jana, a audiência é atenciosa e se mostra divertida. "É como ler um bom livro", diz Marian Styles-McClintuck. Ela usava uma camiseta com a foto de Obama e a frase "Born in the USA", em resposta aos que insistem em questionar a nacionalidade do presidente.
Logo o papo fica mais solto e alguns participantes mostram interesse em participar da convenção - a essa altura, cada fala de Biden é pontuada com leves declarações de concordância dos presentes. Boa parte do grupo é de idade mais madura, e logo alguns começam a se questionar se os republicanos vão cortar benefícios como a saúde universal para idosos Medicare. Fica evidente a luta entre o discurso neoliberal dos republicanos e a visão socialista mais próxima da europeia no discurso democrata, que também defende a ação do governo pelo bem-estar da sociedade.
E chega a hora do presidente. Todos ficam em silêncio até que a atenção é quebrada pela anfitriã: "nunca entendi a lógica de cortar os impostos dos ricos". Murmúrios, todos na sala concordam. "Certíssimo", diz Norm.
O discurso termina pouco antes da meia-noite de sexta-feira. Apesar de toda a empolgação em torno do presidente, que deixa alguns voluntários energizados e extremamente dispostos a declarar seu engajamento político, o grupo se desfaz rapidamente, lembrando que, apesar do viés esquerdista, esta ainda é uma reunião da Nova Inglaterra, com toda a sua austeridade puritana.
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