Com nenhuma menção na campanha presidencial até agora, o Brasil não será uma prioridade para o novo presidente dos Estados Unidos que, mais preocupado com a recuperação econômica, não deve alterar de maneira significativa as relações bilaterais, segundo analistas ouvidos pelo G1.
“Os programas dos dois partidos não mencionam nada abaixo de San Antonio, no Texas, exceto questões sobre imigrantes ou tráfico de drogas”, disse o professor do Colby College Sandy Maisel, durante entrevista a jornalistas na Faap, em São Paulo.
Segundo o especialista em partidos e eleições nos EUA, a razão é que os concorrentes à Presidência precisam focar no que os cidadãos pensam e, neste momento, a preocupação com a lenta recuperação da economia não deixa muito espaço para outras questões.
Uma das exceções, para os analistas políticos, será o processo para isentar os brasileiros de vistos, medida que teve uma sinalização do governo Obama durante a campanha, ao relaxar as exigências para o crescente número de turistas que visitam o país a cada ano.
Caso o presidente seja reeleito, as negociações para acabar com a necessidade de visto entre os dois países devem começar logo após as eleições, crê o analista político da UnB David Fleischer.
“Há uma forte possibilidade de isso ocorrer, principalmente por questões comerciais. Não deve ser um visto livre para todo mundo, mas de acordo com o perfil do turista. Os consulados vão avaliar”, afirma.
O professor de relações internacionais da ESPM Heni Ozi Cukier concorda. “Esta não é uma política de candidatos. Há uma percepção geral do mercado americano, com o número de turistas brasileiros que visitam o país aumentando. É um caminho inevitável, mas não significa que será rápido.”
O cientista político também vê a possibilidade de um eventual governo Romney, que fez uma única menção à América Latina no último debate da campanha, focado em política externa, fazer avançar o comércio na região.
“Romney tem uma postura em relação a América Latina mais interessante. Ele a vê como um espaço que os americanos devem explorar, se aproximar, desenvolver relações mais sólidas."
Conselho de Segurança
Já o cobiçado apoio americano a uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU ainda não deve vir, seja qual for o presidente eleito, na opinião de Cukier, que já trabalhou para o colegiado nas Nações Unidas.
“A questão do Conselho envolve assuntos estratégicos de alto nível. O Brasil só vai conseguir esse apoio se decidir ter uma parceria num outro patamar, ser um parceiro dos americanos no mundo, votar junto em fóruns internacionais, se dispor a ajudar em problemas de peso, posição que não deve tomar”, pondera.
Para o professor Sandy Maisel, a questão está fora da agenda dos dois candidatos. “O povo americano não não se importa com o pleito do Brasil para uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU”, disse.
Na opinião de David Fleischer, como estará no seu último mandato como presidente, se eleito, é possível que Obama faça alguma declaração sobre o pleito brasileiro, embora não signifique uma aprovação imediata.
“A entrada no Conselho de Segurança da ONU não é uma decisão unilateral, mas depende de uma reforma maior [na ONU], que é muito desejada. Pode ser que o Obama faça alguma declaração, como fez sobre a Índia. Nenhum país até hoje colocou qualquer oposição contra [a presença da] Índia ou do Brasil.”
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