“É um presente que estou dando a ela. Escuto muito que é um ato de amor. Outros já dizem que não teriam a coragem que tive. Mas vivo um sentimento muito bom, a emoção é muito grande. Estamos vivendo um sonho”, declarou a avó.
Maria da Glória teve de emagrecer 11 quilos e voltar a menstruar para poder gerar as netas. Ela tinha entrado na menopausa havia cinco anos. De acordo com ela, a saúde está boa.
O ginecologista obstetra que acompanha o pré-natal, Erickson Cardoso Nagib, diz se surpreender com o andamento da gravidez e com a força da avó das gêmeas. “Ela está excelente. Por ser uma gravidez de risco por causa da idade, ela está extremamente saudável”, avalia.
Esta é a primeira vez que o obstetra acompanha um caso de útero em substituição, mais conhecido por barriga de aluguel. Para ele, Maria da Glória foi corajosa. “Quando essa barriga de aluguel acontece entre parentes, seja entre irmãs, primas ou mães e filhas, acho muito saudável”, acredita Erickson Cardoso.
A descoberta do sexo dos bebês aconteceu no 4º mês de gestação. “A gente vê a alegria dela na hora do ultrassom. Os olhos brilham. É muito legal”, revela o médico sobre a reação da avó diante da imagem das netas.
O médico também elogiou a garra de Fernanda. “Ela batalhou e é espetacular ver essa força de vontade para ter as filhas depois de tudo que ela passou na adolescência”, disse Erickson, referindo-se a perda do útero da mãe das gêmeas.
A previsão para o nascimento das meninas é para o dia 20 de janeiro. Entretanto, segundo o obstetra Erickson Cardoso, elas podem nascer prematuras por serem gêmeas. “A expectativa é boa. Tínhamos um sonho e começamos a lutar por ele. Quando vemos que está dando certo, é bom demais”, diz Fernanda.
Retirada do útero
Fernanda descobriu que não poderia ter filhos aos 13 anos. A servidora nasceu com deficiência uterina e, segundo ela, teve de retirar o órgão após a primeira menstruação, quando teve cólicas tão fortes que a levaram para o hospital. “Só fui saber que não tinha mais útero 15 dias depois da cirurgia, quando fui retirar os pontos. O médico me explicou tudo e tive que me conformar. Na época, foi triste demais porque desde nova eu já gostava de criança e tinha vontade de ser mãe”, lembra a mãe biológica das gêmeas.
Maria da Glória durante ultrasonografia com o obstetra Erickson (Foto: Fernanda Medeiros/Arquivo Pessoal)
Fernanda se casou aos 20 anos e tentou adotar, mas não deu certo. Em 2005, a servidora pública viu na TV a história de uma sogra que gerou o neto para a nora. “Minha mãe e minha sogra se ofereceram para gerar meu filho. Fomos ao médico, eu e minha mãe, mas o doutor disse que seria muito arriscado por causa da idade dela. Então, não deu certo”, lembra a funcionária pública, que na época também não tinha condições financeiras para bancar o procedimento.
Mesmo diante da tentativa frustrada, Fernanda não desistiu e, no início de 2011, voltou ao médico. Maria da Glória foi submetida a exames que revelaram a ótima saúde para gerar os bebês. “A primeira tentativa para a fertilização fracassou porque não ovulei muito. Mas na segunda vez ovulei bem e separamos quatro embriões bons. Dois usamos e os outros dois estão congelados”, revela Fernanda.
Dificuldades
A família ainda não começou a fazer o enxoval das meninas por falta de condições financeiras. De acordo com Fernanda, mesmo fazendo todo o procedimento de fertilização in vitro pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ela e o marido tiveram muitos gastos com o congelamento dos embriões e com medicamentos. Agora, eles esperam terminar de pagar essas dívidas para começar a comprar os objetos das gêmeas. Enquanto isso, eles ganham presentes de amigos.
Mesmo com as dificuldades financeiras, Fernanda não abre mão de estar com a mãe e as filhas todos os dias. Elas moram em bairros próximos. “Vejo minha mãe todos os dias para falar com ela e com as meninas. E elas mexem e pulam bastante quando falo que é a mamãe. Realmente estamos vivendo um sonho. Não tem nem como explicar porque já tínhamos perdido a esperança”, conta Fernanda, emocionada.
Fernanda e o marido Allen comemoram a chegada das filhas (Foto: Arquivo Pessoal)
O que preocupa Fernanda é o registro das filhas. Ela já entrou na Justiça para conseguir registrar as gêmeas sem burocracia assim que elas nascerem. Ela está amparada na resolução 1.358/1992 do Conselho Federal de Medicina (CFM), que estipula que as doadoras do útero devem pertencer à família da doadora do material genético, em parentesco de até 2º grau.
Além de poder registrar as filhas no nome dela e do marido, doadores do material genético, a servidora pública espera uma decisão favorável também para poder ter direito à licença-maternidade. “A qualquer hora minha mãe pode passar mal e com o registro terei a certeza de que poderei tirar a licença para cuidar dela e das minhas filhas”, supõe.
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