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Nacional
Segunda - 19 de Novembro de 2012 às 08:48

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Depoimentos de testemunhas apontam contradições na versão apresentada por policiais militares suspeitos de participar do assassinato do servente Paulo Batista do Nascimento, de 25 anos, morto em 10 de novembro durante uma ação da PM no bairro do Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo. Policiais militares suspeitos tiveram a prisão temporária decretada por 30 dias na semana passada.

O tenente Halstons Kay Yin Chen e os soldados Francisco Anderson Henrique, Diógenes Marcelino de Melo, Marcelo de Oliveira Silva e Jaílson Pimentel de Almeida estão detidos na Corregedoria da PM desde 11 de novembro, quando o "Fantástico" divulgou um vídeo de uma testemunha que mostra parte da ação policial. O sargento Ataliba Soares também foi preso, mas teria chegado depois ao local da morte.

No dia do crime, os policiais tentaram esconder a execução. No boletim de ocorrência, disseram que o corpo de Paulo foi encontrado em uma viela, logo após a troca de tiros. Foram as imagens divulgadas pelo Fantástico que mostraram a verdade sobre a morte do servente.

Nesta semana, o “Fantástico” teve acesso exclusivo à investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O documento tem mais de 400 páginas e traz os relatos de todos os policiais envolvidos e de testemunhas do caso.

Os depoimentos de testemunhas apontam contradições nas versões apresentadas pelos policiais suspeitos. Entre os principais pontos levantados pela investigação está a identidade do policial que seria o autor do disparo que matou Paulo. Em seu depoimento, ele nega ter estado no carro em que o servente foi morto, mas foi apontado como autor por duas testemunhas. Outro soldado, que negou ter ido atrás de Paulo durante a fuga do servente, foi reconhecido por testemunhas no vídeo, em posição de tiro.

Depoimentos e reconstituição

O programa apresentou, neste domingo (18), uma reconstituição detalhada com base no que a polícia concluiu. De acordo com as investigações, o episódio começou com uma troca de tiros, às 8h de 10 de novembro, um sábado. Dois policiais circulavam de moto pelo bairro do Campo Limpo: o soldado Marcelo de Oliveira, 32 anos, e Diógenes de Melo, 37 anos.

Eles desconfiaram de três jovens que seguiam em um carro. Os PMs dizem que deram ordem para eles pararem, mas que os suspeitos teriam tentado fugir. Começou então uma perseguição. Paulo tinha condenações por roubo, receptação e falsificação de documentos.

Segundo relato do soldado Marcelo, um dos suspeitos é atingido e morre. Paulo e o outro ocupante do carro conseguem fugir a pé. Paulo teria corrido por uma viela de 60 metros de comprimento para escapar. Ferido, teria deixado um rastro de sangue. Os policiais dizem que foram seguindo este rastro para encontrá-lo.

Um carro da polícia com o tenente Chen e seu motorista, o soldado Henrique, de 32 anos, chega ao local. Segundo o advogado do tenente, “ele escutou pelo rádio que havia troca de tiros, e encostou para dar apoio.”

A informação, no entanto, é contraditória. Em seu depoimento, Marcelo diz que só o tenente Chen correu atrás de Paulo, que saiu da viela e entrou na rua onde foi gravado o vídeo que mostra o momento da morte do servente. Policiais do mesmo batalhão de Marcelo, no entanto, reconheceram o soldado nas imagens: um policial que aparece sem colete, em posição de tiro.

Paulo teria escapado pela rua e invadido uma casa, mas é encontrado pelos PMs. Nas imagens, aparece implorando para não ser morto. Ainda assim, o servente é retirado da casa por policiais que as investigações não conseguiram identificar. Ele já está dominado e ferido, mas leva um tapa no rosto.

Ao ver o vídeo, tenente Chen, segundo a polícia, se reconheceu ao segurar Paulo pelo braço. Outro policial identificado é o motorista do tenente, o soldado Henrique.

No momento do tiro, o soldado Marcelo acompanha os colegas e se prepara pra atirar. Ele ergue os dois braços, em posição de tiro. Na frente dele, Paulo, completamente dominado, aparece com uma das mãos na cabeça. As imagens não mostram o exato momento do tiro, mas o som é claro. Assustada, a pessoa que filma se abaixa.

Chen contou à polícia o que a câmera não registrou. De acordo com seu depoimento, Paulo foi atingido no seu lado direito, pois já tinha se voltado para Chen para entrar no compartimento de presos. O disparo teria sido efetuado pelo soldado Marcelo, que nega e diz que não estava no local naquele momento.

Ferido por mais um tiro, Paulo volta a escapar. Ele consegue sair correndo por uma rua, mas os policiais o alcançam, e ele é novamente baleado. Depois do disparo, os policiais aparecem no vídeo no fim da rua, perto de onde o suspeito seria preso. Neste ponto, só testemunhas protegidas falaram na investigação.

Segundo o depoimento destas testemunhas, Paulo foi colocado vivo no carro da polícia. Dentro do veículo estavam o soldado Henrique, o tenente Chen e o soldado Jaílson Pimentel de Almeida, de 39 anos. Pimentel teria sido chamado por Chen para ajudar a levar Paulo para o hospital, mas o soldado nega que tenha acompanhado o tenente e diz que não entrou no carro. Já segundo as testemunhas, partiu de Pimentel o último tiro.

O inquérito concluiu que Pimentel pediu para que o carro da polícia fosse parado em uma com pouco movimento, onde teria aberto o porta-malas e disparado contra Paulo.

Mesmo com a prisão dos policiais suspeitos, uma testemunha conta que eles continuaram a combinar uma estratégia de defesa. Em 12 de novembro, a testemunha diz ter ouvido os soldados Marcelo e Pimentel dando orientações aos outros policiais, já que as imagens não mostram o momento exato do disparo. O próprio tenente Chen diz ter sido intimidado pelos dois policiais. “Foram olhares intimidatórios”, disse o advogado do tenente.

Tenente isolado


Por proteção, o tenente Halstons Kay Yin Chen está isolado dos outros PMs no presídio, segundo o seu advogado. Em seu depoimento, o tenente afirmou que essa "foi a primeira vez que viu alguém baleado, que ficou muito assustado, entrando quase em pânico." Ele afirmou ainda que "não deu voz de prisão aos soldados em razão de ter ficado com medo de morrer."

Chen tem 24 anos. Começou a trabalhar nas ruas há quatro meses, pouco depois de se formar na Academia de Polícia Militar de São Paulo. Para entrar na academia, passou na concorrido vestibular da Fuvest, em 2008, e ficou entre os 300 melhores, com uma vaga garantida em medicina, sua segunda opção de carreira.

O “Fantástico” procurou os representantes dos outros policiais presos. O advogado do soldado Henrique não quis dar entrevista. Os soldados Marcelo, Pimentel e Diógenes não têm advogado. Os PMs deverão responder por homicídio e podem até ser expulsos da corporação.






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