"Depois de amarrada, o homem [executor de Eliza] deu uma gravata e durante o tempo em que era apertada, apertada, ela foi perdendo fôlego, foi virando os olhos, a língua dela foi indo para fora, saiu espuma da boca dela e ela caiu ao chão e depois de poucos movimentos, ficou lá, morta", disse a delegada, referindo-se ao depoimento do primo de Bruno.
Rosa afirmou ainda que o homem que matou Eliza tinha o apelido de Neném, também conhecido como Bola - apelido do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, que também é réu no caso mas vai ser julgado apenas no futuro. O executor era grisalho e apresentava um problema no dente, ainda de acordo com o depoimento.
Segundo o depoimento do primo, Bola pediu para Luiz Henrique Ferreira Romão, Macarrão, amarrar as mãos da ex-amante do goleiro.
Os réus estão sendo julgados desde segunda-feira (19) por cárcere privado e pela morte da ex-amante do goleiro. Na época dos relatos, Rosa era adolescente. Atualmente, ele está inserido no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, de acordo com o Ministério Público.
Durante o depoimento, o primo de Bruno disse que Eliza dormiu trancada em um quarto, quando era mantida sob cárcere privado no Rio de Janeiro. O filho da ex-amante de Bruno foi mantido com a ex-namorada do goleiro, Fernanda Gomes de Castro, que também é ré no processo e responde em liberdade.
Questionada pelo promotor Henry Castro, que atua no caso, a delegada afirmou que o depoimento do primo do goleiro dado à polícia transmitiu confiança. "Sem dúvida nenhuma, pela riqueza de detalhes, pelo modo como ele fez aquela narrativa", disse. "Também mexeu com nosso emocional naquele momento."
O depoimento da delegada Ana Maria Santos foi encerrado por volta de 14h20 e o júri foi interrompido para almoço.
Destituição
A juíza Marixa Fabiane, que preside o julgamento do caso Eliza Samudio, negou um pedido do goleiro Bruno para a destituição do seu advogado Francisco Simim, no Fórum de Contagem. O goleiro pediu destituição de toda sua defesa, mas a juíza entendeu que o goleiro pretendia adiar seu julgamento.
Bruno pediu para falar com a juíza logo ao início da sessão e afirmou que não se sentia seguro para continuar com seu advogado, Rui Pimenta. O goleiro pediu tempo para contratar outro advogado, mas a juíza Marixa Fabiane lembrou que ele ainda possuía outro defensor, Francisco Simim, que também representa sua ex-mulher, a ré Dayanne Rodrigues.
O goleiro retornou ao banco dos réus, mas, depois de alguns minutos, pediu a palavra novamente. Nesse momento, a juíza anunciou que ele estava destituindo também Francisco Simim de sua defesa. A magistrada afirmou que isso estava ocorrendo "claramente com vistas ao desmembramento do julgamento".
Bruno, ainda no banco dos réus, negou e afirmou que não queria prejudicar a defesa de Dayanne. O promotor Castro, então, pediu para que Dayanne, que responde em liberdade, tivesse mais tempo para ser defendida por outro advogado. Bruno, réu preso, tem preferência de julgamento. A juíza seguiu este entendimento.
Para evitar o adiamento, a juíza determinou que a ré Dayanne seja julgada em outra data, possivelmente junto com o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de ser o executor de Eliza. Ele foi o primeiro a ter o júri desmembrado, nesta segunda, depois que sua equipe de advogados deixou o plenário.
O advogado destituído, Rui Pimenta, disse ter sido pego de surpresa pela decisão do goleiro. "O Bruno agradeceu o trabalho feito, mas disse que queria mudar de estratégia", afirmou. O defensor disse que o goleiro perguntou se ele ficaria chateado, e Pimenta respondeu que de forma nenhuma. "Faço votos que isso [a destituição] seja bom para ele", comentou.
Segundo o defensor, ele continua atuando para o goleiro Bruno no pedido de habeas corpus impetrado no Supremo Tribunal Federal (STF). No dia 1º de outubro deste ano, o ministro Joaquim Barbosa, do STF, negou liminarmente o pedido. O mérito ainda não foi julgado.
Multa
No começo do segundo dia do júri do caso Eliza, nesta terça-feira, a juíza estipulou multa aos advogados do ex-policial Bola. Eles abandonaram o júri na segunda-feira (19), atitude que foi considerada "injustificada" pela magistrada.
A multa é de R$ 18.660 para cada um dos defensores, o equivalente a 30 salários mínimos. Somados, eles terão que pagar R$ 55.980 em até 20 dias, de acordo com a decisão da juíza. Os advogados de Bola são três: Ércio Quaresma, Zanone de Oliveira Júnior e Fernando Magalhães.
Os responsáveis pela defesa do ex-policial Bola haviam deixado o júri por discordarem do limite de 20 minutos estipulado pela juíza Marixa para cada defesa apresentar seus argumentos preliminares. "A defesa não vai continuar nos trabalhos, nós não vamos nos subjugar à aberração jurídica de impor limites onde não há", disse Quaresma.
No entendimento da juíza, o abandono ocorreu "sem haver razão juridicamente relevante". "Esse tipo de conduta causa grande prejuízo ao estado e à sociedade que implica em gasto de dinheiro público", afirmou ela, durante o julgamento.
O fato será comunicado à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que deve avaliar a conduta dos defensores, ainda de acordo com a magistrada.
Testemunhas
O segundo dia de julgamento deve prosseguir com os depoimentos das testemunhas de acusação. Na segunda, o ex-motorista do goleiro Bruno Fernandes, Cleiton Gonçalves, foi ouvido no júri. Além de Bruno, outros dois réus - incluindo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão - estão sendo julgados.
Além da delegada e de outras testemunhas arroladas, o detento Jaílson Alves de Oliveira ainda deve ser ouvido. Ele diz ter ouvido uma confissão de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola.
Somente após a conclusão dos depoimentos das testemunhas de acusação é que serão ouvidas as testemunhas de defesa. A previsão é que o julgamento dure pelo menos duas semanas.
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