Da unidade hospitalar, um deles, identificado como Eurico Kirixi Munduruku, de 52 anos, fugiu pela porta da frente e ficou desaparecido por cinco dias. De acordo com a Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai), de Cuiabá, no dia da fuga, Eurico estava sem maca e se sentiu incomodado com a falta de estrutura do Pronto-Socorro. Edvaldo Mores Borô, em estado mais grave, permaneceu no local. Ambos estavam sendo atendidos no corredor por conta da superlotação da unidade.
Na decisão, a juíza substituta da 2ª Vara Federal, Célia Regina Ody Bernardes, determinou que os índios fossem submetidos de forma imediata a uma cirurgia ortopédica para correção de fratura exposta.. A magistrada estipulou multa de até R$ 50 mil para cada dia de descumprimento.
Sem ter condições de operar os indígenas no prazo estipulado pela Justiça, a direção do Pronto-Socorro alegou que só não submeteu os índios à operação imediata por problemas em um equipamento da sala cirúrgica. Para não ser multado pela Justiça, o Pronto-Socorro conseguiu transferir os índios para o Hospital Geral Universitário (HGU), que é administrado por uma universidade particular da capital.
No local, eles foram submetidos às cirurgias requisitadas pela Justiça no final do mês de novembro. Eurico Kirixi recebeu pinos no braço lesionado e ganhou alta hospitalar. Ele aguarda retorno à aldeia Teles Pires.
Já Edvaldo, além de um fixador ortopédico implantado no braço, precisou fazer um enxerto. Ele continua internado no HGU em estado de observação. Sem infecção e com uma boa evolução no quadro clínico, ele não corre risco de ter o braço amputado, como foi cogitado inicialmente pela equipe médica do Pronto-Socorro.
Ao G1, a Casai informou ainda que caso Edvaldo consiga alta médica neste mês, a dupla só irá retornar a Cuiabá no dia 18 de janeiro, para fazer exames de rotina. Eurico e Edvaldo se feriram juntamente com outros quatros indígenas e mais quatro agentes federais durante o conflito. Um indígena acabou morto ao ser atingido por pelo menos três tiros.
Operação Eldorado
A operação Eldorado foi desencadeada para coibir a extração ilegal de ouro em Mato Grosso e outros seis estados. A Justiça Federal expediu 28 mandados de prisão e outros 64 de busca e apreensão. O conflito ocorreu quando os agentes tentavam destruir uma balsa, supostamente, utilizada na extração ilegal de ouro no rio Teles Pires.
Para cumprir um mandado judicial, os agentes da PF utilizaram além de armamento não-letal, armas convencionais. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar se o índio morto no conflito foi atingido por um disparo efetuado por um dos delegados que comandou a operação.
PF diz que foi vítima de emboscada de índios que não aceitaram destruição de balsas (Foto: Assessoria/PF)
Durante as investigações, os agentes federais apontaram a participação de lideranças indígenas no esquema criminoso. De acordo com o superintendente da PF, César Augusto Martinez, a operação vai entrar na segunda fase quando os crimes de lavagem de dinheiro serão apurados.
Nessa fase, os índios serão investigados. Treze índios da aldeia Munduruku, inclusive, vão responder na Justiça pelos crimes de desacato e resistência. Entidades ligadas aos Movimentos Sociais repudiaram a ação e, em uma representação encaminhada ao Ministério Público Federal (MPF), classificaram a atuação da PF como truculenta. O MPF do Pará e Mato Grosso abriram inquérito para investigar o caso.
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