Em uma mudança de tom em relação a seu discurso habitual, Chávez pediu que, no caso de algo lhe acontecer, o povo venezuelano apoie o vice-presidente, Nicolás Maduro, como seu possível sucessor, caso seja necessária uma nova eleição.
É a primeira vez que Chávez admite, publicamente, que a doença pode impedi-lo de seguir à frente do país, cerca de dois meses após sua reeleição.
A Constituição da Venezuela estabelece, que se ocorrer a falta absoluta de um presidente antes da posse, deverão ser realizadas novas eleições em um período de 30 dias e, enquanto isso, o presidente do Parlamento assumirá o cargo.
Se a falta ocorrer nos primeiros quatro anos de mandato, também serão convocadas eleições, mas o vice-presidente exercerá temporariamente o cargo.
"Nicolás Maduro não só nessa situação deve concluir como manda a constituição o período, mas minha opinião firme, plena como a lua cheia, irrevogável absoluta, total, é que nesse cenário que obrigaria a convocar eleições presidenciais vocês elejam Nicolás Maduro como presidente", disse Chávez em cadeia nacional, ao lado do próprio Maduro, após vários dias sem aparições públicas.
Chávez disse que o vice-presidente e há mais de seis anos chanceler da Venezuela "é um dos lideres jovens de maior capacidade para continuar (...) com sua mão firme, com seu olhar, com seu coração de homem do povo".
"Se como diz a Constituição se apresentasse alguma circunstância que a mim me desabilite para continuar à frente da Presidência", disse Chávez, Maduro deveria concluir o período atual, que termina em 10 de janeiro com a chegada do novo período presidencial para o qual Chávez foi eleito no dia 7 de outubro.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao lado de seu vice-presidente, Nicolas Maduro. (Foto: Marcelo Garcia / Miraflores Press / AP Photo)
Chávez disse que "em qualquer circunstância se deve garantir o andamento da revolução bolivariana, o andamento vitorioso desta revolução e seguir construindo a via venezuelana ao socialismo".
"Células malignas"
Chávez, que tem 58 anos e está desde 1999 no poder, anunciou o reaparecimento de "algumas células malignas" na mesma região onde foi detectado um câncer em 2011.
"Por alguns outros sintomas, decidimos com a equipe médica adiantar exames (...) e, bom, lamentavelmente, nesta revisão exaustiva, surge a presença na mesma área afetada de algumas células malignas novamente", disse.
"É absolutamente imprescindível me submeter a uma nova intervenção cirúrgica e isso deve ocorrer nos próximos dias, inclusive digo que os médicos recomendavam que fosse ontem (sexta-feira), no mais tardar ontem ou este fim de semana, mas eu disse não", explicou o presidente, afirmando que originalmente partiu para Havana para um tratamento complementar.
Recaídas
Chávez, que esteve ausente da vida pública por três semanas antes de retornar na sexta-feira de Cuba, para onde havia partido no dia 27 de novembro para um tratamento de oxigenação hiperbárica, foi diagnosticado pela primeira vez com câncer em junho de 2011 e sofreu uma primeira recaída em fevereiro deste ano.
A localização e a gravidade da doença do presidente venezuelano nunca foram reveladas, apesar dos protestos da oposição, que reclama de falta de transparência.
Chávez foi tratado quase exclusivamente em Cuba, onde também recebeu quimioterapia e radioterapia.
Chavistas mostram apoio ao presidente em praça de Caracas, capital da Venezuela, neste domingo (9) (Foto: AFP)
Sucessão clara
Maduro, que atua há mais de seis anos como chanceler da Venezuela, foi nomeado vice-presidente por Chávez poucos dias após o presidente ser reeleito para o período 2013-2019 e desde então exerce ambos os cargos.
"Independentemente dos resultados de seu tratamento futuro, Chávez deixa clara a sucessão para enfrentar qualquer divisão interna", afirmou em sua conta do Twitter Luis Vicente León, presidente da empresa Datanálisis.
León também considerou que, se a sucessão de Maduro ocorrer, "a maior probabilidade é que seja com Chávez vivo para consolidá-la internamente".
Maduro, junto a uma dezena de ministros, acompanhou Chávez durante o discurso de sábado, no qual o presidente - apesar de se mostrar aflito por alguns momentos - também demonstrou força e bom-humor, ao convocar a unidade dos seus e até mesmo entoar uma canção.
Pouco depois do anúncio de Chávez, as redes sociais venezuelanas receberam milhares de mensagens sobre a saúde do presidente e alguns de seus colaboradores convocaram correntes de oração para este domingo em todo o país.
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