Centro de Buenos Aires. A poucos metros do Obelisco, principal monumento da capital argentina, número 951, da Avenida Corrientes. Neste endereço rondava um mistério envolvendo uma brasileira. Ela vivia no primeiro andar com o marido antes de desaparecer, há 14 anos.
O tempo passou e o apartamento trocou de mãos. Em abril deste ano, durante uma reforma no piso, a surpresa: os pedreiros encontraram sob o assoalho de um dos quartos ossos enrolados em um lençol.
Ao lado, a carteira de identidade de Edy Theresinha Pereira da Silva, a brasileira desaparecida.
Um exame de DNA acabou por confirmar que a ossada era mesmo de Edy. Enfim a resposta à pergunta que a família fazia no Brasil havia mais de uma década.
Repórter: Júnior, como foram estes 14, quase 15 anos sem ter notícias da sua mãe?
Filho: Foram anos terríveis.
O filho mais velho da Dona Edy concordou em falar para o Fantástico com a condição de não ser identificado.
“O dia das mães era o pior dia do ano porque todo mundo tava com as suas mães ou sabe que as suas mães já partiram e a gente não tinha ideia do que estava acontecendo. Se ela precisava de ajuda, se não precisava”, lembra o filho.
Júnior conta que soube da descoberta da ossada pela internet. “Peguei uma notícia que dizia mais ou menos assim: foi encontrado o corpo de uma pianista em Buenos Aires tantos anos atrás. Eu automaticamente fiz a conta na cabeça e disse: ´Meu Deus, é minha mãe´”.
Mas quem era essa brasileira que teve um fim tão trágico? Segundo a tia, uma menina talentosa que cresceu cercada de conforto e carinho pelos pais.
“Muito prendada. Tocava piano, tocava acordeão, bordava divinamente”, disse a tia de Edy, Emi Minini.
Com vinte anos, a vida de Edy começou a mudar. Os pais morreram num acidente de trânsito.
Ela casou, teve dois filhos, e se separou.
Foi em Balneário Camboriú que Edy foi morar depois da separação. Foi onde ela conheceu e se apaixonou por Manuel Jorge Gonçalves, um argentino aposentado, dez anos mais velho, e que ela carinhosamente chamava de Gringo.
Isso foi em meados dos anos 80 quando Balneário Camboriú virou uma espécie de paraíso de verão dos argentinos. Em uma foto da família, aparece Edy, a irmã mais nova, Cláudia da Silva, e o argentino Manoel Jorge.
Repórter: Cláudia, o que você se lembra do relacionamento deles?
Irmã: O cuidado, a atenção que ele tinha com ela e como ela se sentia bem junto dele.
O casal viveu num prédio até decidir se mudar para Buenos Aires.
A maioria dos vizinhos do casal, em Buenos Aires, já morreu ou se mudou.
O que se fala é que Edy não tinha muita liberdade.
O marido a mantinha trancada no apartamento e ela se refugiava ao piano.
Por isso, a história ficou conhecida como o "caso da pianista".
A família começou a perceber que alguma coisa estava errada quando uma amiga, em viagem a Buenos Aires, foi entregar uma encomenda para Edy. O marido, Manoel Jorge, contou que a mulher tinha ido embora com a roupa do corpo.
A amiga contou à família de Edy que chegou a ver, em cima do piano, objetos pessoais femininos: um estojo de pintura e uma caixinha de joias.
Na delegacia que investigou o caso, ninguém fala. O inquérito correu em segredo de Justiça.
A mulher que trabalha no prédio há apenas três anos não sabia que estava sendo gravada. Ela disse que o atual dono nunca aparece por lá e ouviu dizer que o antigo dono, Manoel Jorge Gonçalves, já morreu.
O filho de Manoel Jorge chegou a informar à polícia que o pai morreu de pneumonia em 2001, mas ele teria sido enterrado numa vala comum o que, impossível fazer exame de DNA para atestar oficialmente a morte.
No caso da pianista, a única certeza é a de que Edy está morta. Segundo a perícia, já não é mais possível determinar a causa.
Existem outras perguntas que ainda precisam ser respondidas.
Por que ela foi morta? Qual o envolvimento do marido? Ele está mesmo morto? Ou desaparecido?
“Eu acredito que ele esteja vivo sim. E se foi ele, realmente que ele pague pelo o que ele fez”, diz o filho.
Será este o início de um novo mistério?
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