A estudante paulista Jacqueline Meei Yi Chen, de 16 anos, recebeu sua nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012 junto com os demais candidatos que realizaram o exame, apesar de ter feito parte das provas 46 dias depois dos demais, em uma edição realizada pelo Ministério da Educação especificamente para ela. Segundo sua mãe, Wu Shang Yi, mais do que saber a nota, "o alívio maior foi de ter acabado com tudo isso". Ela considerou o resultado "razoável": a nota da redação passou de 700, e a mais baixa foi a de linguagens, na qual a garota tirou mais de 500 pontos.
Jacqueline foi expulsa do exame no segundo dia de provas, em 4 de novembro, depois de ser confundida com uma homônima que, segundo o MEC, tirou foto do cartão de respostas do Enem no dia anterior e postou nas redes sociais. Quatro dias depois, o MEC admitiu o equívoco. Após uma série de decisões judiciais, a prova de Jacqueline foi aplicada em seu colégio, o Dante Alighieri, em São Paulo, no dia 20 de dezembro.
Segundo sua mãe, Wu Shang Yi, a adolescente só foi autorizada a fazer a prova a partir das 13h. Por isso, a família, que mora na Liberdade, na Zona Sul, precisou alugar um flat na região da Avenida Paulista para que Jacqueline se preparasse para a festa de formatura do ensino médio, marcada para a noite do mesmo dia 20 na Mooca, Zona Leste da capital.
VEJA A CRONOLOGIA DO CASO |
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03/11: No 1º dia do Enem 2012, o MEC anunciou a eliminação de 37 candidatos que haviam publicado em redes sociais fotos do cartão-resposta e da prova. Uma delas foi Jacqueline Tchia Lin Chen. |
04/11: No 2º dia, outros 28 candidatos tiveram a eliminação anunciada pela mesma atitude. |
08/11: O MEC admitiu que, no dia 4, Jacqueline Meei Jy Chen foi confundida com Jacqueline Tchia Lin Chen e retirada da prova por engano. O ministro Aloizio Mercadante pediu desculpas e ofereceu à menina a chance de refazer a prova. |
10/11: O MEC afirma ter enviado um telegrama a Jacqueline confirmando a data da nova prova nos dias 4 e 5 de dezembro, data do Enem aplicado para detentos. Segundo o MEC, a garota não respondeu. |
27/11: Jacqueline consegue na Justiça uma liminar que a desobriga de fazer o Enem em 4 e 5 de dezembro. A defesa da garota alegou que a data era próxima de outros vestibulares dela. A data da prova específica para a garota é marcada para os dias 12 e 13 de dezembro. |
29/11: O MEC afirma ter enviado um segundo telegrama a Jacqueline sobre a data da prova, também sem resposta. |
04 e 05/12: O MEC aplica as provas do Enem para detentos, e Jacqueline não comparece à unidade da Unip em que foi alocada para o exame. |
11/12: O TRF da 3ª Região aceita um recurso de agravo de instrumento do MEC, alegando que não teria tempo hábil de elaborar uma prova do Enem para os dias 12 e 13. A desembargadora fixa nova data para o dia 20, quando apenas as provas do segundo dia seriam aplicadas. |
12/12: Segundo a assessoria de imprensa do advogado de Jacqueline, a Justiça não informou a defesa dela a tempo e, por isso, a garota chegou ao seu colégio para fazer o Enem, mas não encontrou ninguém. |
15/12: A assessoria do advogado Evaristo Araújo confirma que a defesa de Jacqueline pediu no TRF a retificação da data do Enem dela para os dias 18 e 19. Segundo a assessoria, Jacqueline quer refazer os dois dias de prova, e não só o segundo. |
"Ela chegou lá muito brava. Ela ficou meio decepcionada pela falta de compreensão da parte deles, porque era o dia da formatura dela. A festa de formatura não é uma festinha qualquer, e a prova do Enem não é um compromisso qualquer", afirmou Wu Shang ao G1.
A mãe de Jacqueline, porém, elogiou o trabalho dos fiscais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). "Os fiscais foram compreensivos, a acalmaram, conversaram com ela, daí foi tudo bem." A estudante fez três provas: linguagens, matemática e redação, que, segundo ela, teve como tema "A responsabilidade sobre o sofrimento do outro".
A assessoria de imprensa do MEC confirmou que a aplicação e a correção das provas ocorreram sem problemas.
Nota alta na redação
Segundo a mãe, a nota da redação da adolescente passou de 700, e a prova na qual ela foi pior foi linguagens, em que tirou mais de 500. "Mas não sei se é suficiente para o curso que ela quer", diz. Jacqueline sonha em estudar arquitetura, e prestou quatro vestibulares, para a Universidade de São Paulo (USP), para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e para a Universidade Presbiteriana Mackenzie.
É nessa última que a garota mais quer entrar, mas, de acordo com a mãe, Jacqueline não foi bem na prova. Tanto o Enem de Jacqueline quanto o vestibular do Mackenzie foram aplicados no mesmo local e, por isso, o nervosismo tomou conta da jovem. A nota do Enem será usada para calcular sua pontuação final.
A primeira chamada do Mackenzie será divulgada na próxima quinta-feira (3). Enquanto isso, Jacqueline aguarda ainda o resultado da segunda fase da Unesp, único dos três vestibulares das estaduais paulistas no qual foi aprovada na primeira fase.
De acordo com o advogado da família, a recusa da garota em realizar o Enem na segunda edição do exame (dias 4 e 5 de dezembro, junto com detentos e candidatos que por vários motivos não puderam fazer uma das provas regulares em 3 e 4 de novembro) foi porque a data era próxima de outras provas. O processo seletivo do Mackenzie teve a prova objetiva no dia 8, e a prova de habilidades específicas dos candidatos de arquitetura e urbanismo no dia 7.
Por isso, a defesa de Jacqueline conseguiu na Justiça o direito de realizar a prova em outra data, no dia 12. O MEC então protocolou um recurso afirmando que não teria como elaborar outra prova em tempo hábil, e a Justiça então alterou a data para o dia 20, coincidindo com sua formatura.
Em sua decisão, a desembargadora Consuelo Yoshida afirmou que deferiu o agravo do MEC "para se conceder uma dilação maior de prazo para a preparação adequada da prova e demais trâmites" e que o adiamento se trata de uma "solução equânime que atenda os interesses de ambas as partes".
Porém, Wu Shang afirma que a decisão foi unilateral. "Determinaram uma data e em momento algum tiveram interesse de perguntar se a gente podia ou não. A preocupação não era ficar perturbando o Enem, a gente só queria que ela tivesse condições de fazer uma boa prova", explicou.
O próximo passo da estudante agora é esperar pelo resultado do vestibular do Mackenzie, para ver se usa ou não a nota do Enem para se inscrever em instituições participantes do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
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