Excesso populacional da noite para o dia gera problemas na região. Famílias de Posto da Mata estão abrigadas em salas de aula de escolas.
Famílias retiradas de área indígena em MT superlotam cidades vizinhas
A desocupação do vilarejo de Posto da Mata, em Alto Boa Vista, a 1.064 quilômetros de Cuiabá, que concentrou nos últimos dois meses o foco de resistência dos posseiros contrários à desocupação da Terra Indígena de Marãiwatsédé, dos Xavantes, tem gerado um problema social nos municípios da região nordeste de Mato Grosso. A migração forçada inflou da noite para o dia a população de cidades "nanicas" que não contam com infraestrutura para receber tanta gente de uma só vez.
O prefeito do município de Bom Jesus do Araguaia, a 983 quilômetros de Cuiabá, Joel Ferreira, contou ao G1 que as salas de aula e a quadra de esportes de uma escola da cidade abrigam centenas de famílias oriundas de Posto da Mata. “Já cadastramos 110 famílias, mas a previsão é que até mil pessoas venham para cá. Não temos estrutura para tanta gente. Nenhuma ambulância está rodando e a folha de pagamento está cinco meses atrasada. A nossa situação não está nada fácil”, afirmou Ferreira.
Ele revelou ao G1 que o município doou uma área correspondente a 70 lotes para abrigar as famílias remanescentes do vilarejo. Mas o local não conta com redes de água, esgoto e nem energia elétrica. “Essa área não tem estrutura, mas seria a saída para as famílias que desmontaram suas casas e construirão aqui residências menores”, destacou. O local já abriga 100 pessoas que por conta própria decidiram morar no loteamento que recebe água de um caminhão-pipa.
Em Alto Boa Vista, os moradores de Posto da Mata também resolveram buscar abrigo nas duas únicas escolas da cidade. Mais de 200 pessoas estão espremidas em salas de aula. Quem não encontrou espaço abrigou-se na quadra de esporte. “As duas escolas estão ocupadas. Estamos distribuindo cestas básicas e sopão, mas não temos estrutura para abrigar tanta gente assim”, destacou o prefeito Leosipe Domingues Gonçalves.
O prefeito afirmou ainda que muitas famílias estão se unindo para alugar casas. Segundo ele, tem residência com duas, três famílias juntas. O prefeito ressaltou que os recursos de Alto Boa Vista concentravam-se em Posto da Mata. A cidade não conta com empregos e se sustenta na agricultura e pecuária. “Lá em Posto da Mata tinham 92 comércios, uma casa veterinária, um armazém com capacidade para abrigar mil sacos de arroz e um laticínio que já chegou a produzir 40 mil litros de leite por dia”, revelou o prefeito.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) diz que ofereceu uma área no município de Ribeirão Cascalheira, a 150 quilômetros de Alto Boa Vista. Quem esteve no local afirmou que as terras são improdutivas. “Aquela área não presta. Tenho 64 anos e entendo de terra e aquela não presta para nada. Nem se calcarear ela, não dá certo”, disse o produtor Edvaldo Paulino.
Desocupação
Marãiwatsédé será devolvida aos índios xavantes após
desocupação (Foto: Reprodução/TVCA)
Quatro dias após o término do prazo dado pela Justiça para desocupação do vilarejo, algumas famílias ainda estão no local retirando os últimos pertences. Segundo o prefeito de Alto Boa Vista, aproximadamente 20% da população ainda continua em Posto da Mata nesta terça-feira (8). Um caminhão-guincho derruba as residências que restaram na comunidade. Os currais também já foram destruídos.
No último comunicado à imprensa, a Fundação Nacional do Índio (Funai) classificou como satisfatório o processo de desocupação, apesar do registro de um conflito entre produtores e homens da Força Nacional de Segurança na primeira ação de desocupação que terminou com vários feridos dos dois lados. Também em Posto da Mata, um caminhão carregado com sete toneladas de alimentos que seriam entregues aos índios da etnia Karajás foi incendiado. O ato de vandalismo motivou a ocupação dos vilarejo pela Força Nacional de Segurança no dia 30 de dezembro.
A área em disputa tem uma extensão aproximada de 165 mil hectares. Ainda de acordo com a Funai, o povo xavante ocupa a área Marãiwatsédé desde a década de 1960. Nesta época, a Agropecuária Suiá Missu instalou-se na região. Em 1967, índios foram transferidos para a Terra Indígena São Marcos, na região sul de Mato Grosso, e lá permaneceram por cerca de 40 anos.
Agentes da Força Nacional de Segurança usaram bombas de gás para cercar vilarejo (Foto: Agência da Notícia)
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