Equipes da Delegacia Fazendária foram ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, Subúrbio do Rio, na tarde desta quinta-feira (10), ouviram testemunhas e concluiram que o médico Adão Crespo, que faltou ao plantão na noite de Natal, fraudava a folha de ponto e recebia sem trabalhar. O neurocirugião foi indiciado pela polícia por omissão de socorro da menina Adrielly dos Santos, de 10 anos, que esperou oito horas por uma cirurgia, após ser atingida por uma bala perdida, devido à falta de plantonista. A criança morreu na última sexta-feira (4).
De acordo com a delegada Izabela Rodrigues Santoni, em novembro Adão Crespo faltou todos os dias, mas assinou a folha com apenas uma falta. O médico será indiciado por falsidade ideológica e estelionato.
Ainda segundo a delegada Izabela Rodrigues Santoni, o chefe do plantão, Ênio Lopes, havia lançado no livro de presenças as faltas do médico Adão. Mas caberia a chefe da emergência comunicar essas faltas ao setor de Recursos Humanos e isto não aconteceu. A polícia agora vai investigar o motivo de esta falta não ter sido comunicada ao RH.
Depoimentos
Na manhã desta quinta, a polícia ouviu o funcionário terceirizado do Hospital Salgado Filho Rafael José Alves Costa, que confirmou ter solicitado uma ambulância para transferir Adrielly.
De acordo com o delegado responsável pela investigação do caso, Luiz Archimedes, da 23ª DP (Méier), Rafael foi a última pessoa a ser ouvida e o caso deve será encaminhado para o Ministério Público (MP). A Secretaria Municipal de Saúde nega que tenha havido essa solicitação.
Segundo o funcionário Fernando Parreira, que prestou depoimento na quarta-feira (9), a chefia de plantão solicitou a remoção da criança após constatar que o neurocirurgião Adão Crespo havia faltado ao plantão. "O Rafael reafirmou tudo o que o Fernando havia dito ontem", destacou o delegado.
De acordo com o depoimento, a ambulância foi solicitada duas vezes à Central de Regulação da Secretaria municipal de Saúde. No entanto, nenhuma ambulância chegou ao hospital para transferir Adrielly. “Quem deve apurar porque a ambulância não chegou ao hospital é a Secretaria de Saúde. Esse é um problema administrativo”, completou o delegado.
Adão diz que pediu desligamento
O advogado do neurocirurgião Alex Souza afirmou que o médico já havia pedido delisgamento em dezembro. O telegrama em que ele reitera o pedido de demissão foi enviado ao hospital em 31 dezembro — dia em que Adrielly, de dez anos, teve morte cerebral. "No período de mais ou menos mais de um ano, ele tem lançado mão de um substituto com a aquiescência tanto dos chefes de emergência do serviço de neurocirugia como da propria direção do hospital", explicou o advogado.
A secretaria Municipal de saúde informou que, apesar das faltas, não demitiu o neurocirurgião por falta de amparo legal. Segundo a secretaria, o estatuto do servidor só permite a exoneração após trinta faltas consecutivas.
A menina Adrielly tinha 10 anos (Foto: Reprodução Globo News)
Baleada no Natal
O caso ocorreu na Rua Amália, perto dos morros do Urubu e do Urubuzinho, em Piedade. Ela havia acabado de ganhar seu presente de Natal quando foi atingida por uma bala perdida, segundo o pai Marco Antônio. Eles estavam na rua, no momento em que traficantes dos morros do Urubu e Urubuzinho começaram a soltar fogos e dar tiros para o alto, ainda de acordo com o pai.
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