Em novembro do ano passado, Selarón denunciou à polícia que vinha sofrendo ameaças de Paulo Sérgio, que exigia os rendimentos das vendas de quadros do artista. O registro da ocorrência foi feito na 7ª DP (Santa Teresa) e os agentes da DH já solicitaram à delegacia informações sobre o caso. Jorge Selarón exprimiu em sua obra a angústia diante das ameaças.
O pintor e ceramista chileno Jorge Selarón, encontrado morto na Escadaria do Convento de Santa Teresa, usou, semanas antes, a própria arte para relatar a insegurança que sentia após ter recebido ameaças do ex-colaborador de seu atelier Paulo Sérgio. (Foto: Cezar Loureiro?Agência O Globo/Reprodução)
A polícia trabalha com as hipóteses de execução, crime passional ou suicídio. Segundo o titular da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, o depoimento de Paulo Sérgio é fundamental para as investigações.
" Ele ainda não é acusado de nada, mas está sendo procurado para prestar depoimento ainda na condição de testemunha porque não podemos descartar nenhuma possibilidade", afirmou o delegado.
Além do resultado da perícia no local, Rivaldo Barbosa acrescentou que o laudo da necrópsia vai contribuir para esclarecer o caso. "Estamos esperando o resultado do exame de necrópsia que deve sair nesta sexta-feira para saber se ele ingeriu alguma substância, já que há relatos de que ele estava em um processo depressivo", disse o titular da DH, que fez ainda um apelo à população para que passe qualquer informação relevante sobre o caso ao Disque-Denúncia, colaborando com as investigações.
Corpo carbonizado
Jorge Selarón, de 65 anos, foi encontrado carbonizado na escadaria da Lapa que ele ajudou a transformar em ponto turístico do Rio através da instalação de um mosaico de azulejos coloridos. O corpo estava próximo aos degraus, em frente à casa onde o artista morava há mais de 30 anos. Ao lado de Selarón, a polícia encontrou uma lata de solvente.
O argentino César Gomes, que trabalhava como secretário do pintor há seis anos, confirmou as ameaças que o artista vinha sofrendo. "Ela era uma pessoa alegre e alto astral, mas desde que começou a ser ameaçado, entrou em profunda depressão e hoje [quinta] recebi esta triste notícia. Estou arrasado", disse Gomes.
Na manhã desta quinta-feira, o clima era de muita tristeza entre amigos e vizinhos do ceramista.
Jorge Selarón começou a obra na escadaria que liga Santa Teresa à Lapa na década de 90. O local se tornou ponto turístico do Rio com a ida de visitantes brasileiros e de vários países, que se encantavam com os azulejos coloridos. O artista costumava vender seus quadros no próprio local, chamado de Escadaria do Selarón. A Prefeitura do Rio tombou a escadaria em 2005.
Selarón, que morreu aos 65 anos, em foto tirada em 2003 (Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo)
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