Cinco técnicos da agência iniciaram trabalhos em Campinas nesta quarta. Vítimas fizeram exame na segunda e tiveram parada cardíaca em seguida.
Anvisa faz pente-fino em hospital após 3 mortes em ressonância magnética
Segundo a assessoria de imprensa da Anvisa, é possível que haja a interdição, em âmbito nacional, do lote dos medicamentos usados nos pacientes. Na terça-feira (29), a Secretaria Estadual de Saúde divulgou uma lista com sete contrastes e soros dos mesmos lotes encontrados no Vera Cruz que tiveram o uso e comercialização interditados de forma cautelar no estado de São Paulo (veja a lista abaixo). A relação dos nomes das substâncias e dos laboratórios será publicada no Diário Oficial do Estado nesta quarta-feira.
Entre as suspeitas da causa das mortes estão problemas com o contraste, composto químico aplicado nos pacientes antes do exame, ou no soro fisiológico, aplicado neles após o procedimento. A investigação é conduzida pelo Departamento de Vigilância Sanitária de Campinas (Devisa), mas na tarde desta terça-feira técnicos da Vigilância Sanitária Estadual também acompanharam os procedimentos a pedido do município.
Segundo o secretário municipal de Saúde, Carmino Souza, a Anvisa avaliou a possibilidade de estender a interdição dos lotes no país. "Provavelmente esses lotes serão todos recolhidos pelo produtor para serem analisados e servirem como prova no futuro", explica.
Por meio da assessoria de imprensa, a Anvisa reforçou que a investigação seguirá sob os cuidados do município e que os técnicos do órgão farão apenas o acompanhamento da apuração para que sejam definidas as diretrizes em âmbito nacional. A possibilidade de ampliar a interdição do lote dos medicamentos a todo o país será avaliada após a visita dos técnicos.
Investigação
A Secretaria Estadual de Saúde descartou a possibilidade de defeitos no aparelho. "É uma investigação complexa. Mas, temos duas linhas principais de investigação, uma é a chamada microbiológica, que isso é uma contaminação por bactéria, fungo ou eventualmente outro microorganismo", explica o secretário municipal de Saúde, Carmino Souza.
A segunda linha é toxicológica, o que siginifica que algum produto químico ou metal pesado possa ter contaminado os produtos que foram usados. "É claro que os contrastes e os soros que foram infundidos nos pacientes são o alvo principal da investigação", completa.
O caso
Três pessoas morreram entre a tarde e a noite de segunda-feira após realizarem exames de ressonância magnética no hospital particular Vera Cruz, em Campinas. A Vigilância em Saúde interditou o setor responsável pelo procedimento da unidade de saúde por tempo indeterminado e pretende investigar se o contraste, composto químico utilizado no exame, tem relação com as mortes.
Segundo o corpo clínico do hospital, dois homens, de 36 e 39 anos, e uma mulher, de 25 anos morreram após uma parada cardiorrespiratória. Dois começaram a passar mal minutos depois do exame e um paciente chegou a deixar a unidade médica, mas retornou a unidade após sentir dores. No mesmo dia, segundo a assessoria do Hospital Vera Cruz, foram realizados outros 83 exames de ressonância, sendo que o contraste foi aplicado em 30 avaliações. Nestes casos não foram encontradas reações adversas.
As vítimas tinham situações clínicas diferentes e não foram diagnósticados com doenças em estágio avançado, segundo o diretor administrativo do Vera Cruz, Gustavo Carvalho. No entanto, ele afirmou que as causas ainda são desconhecidas e que aguarda o laudo do Instituto Médico Legal (IML).
Após a constatação das mortes, a direção do hospital acionou a polícia. As salas e os materiais utilizados durante os procedimentos foram lacrados, de acordo com a direção da unidade. O caso foi registrado no 1° Distrito Policial da cidade. De acordo com a assessoria de imprensa, após a comunicação das mortes feita pelo hospital à Vigilância em Saúde, foi solicitada o envio de técnicos para a área de diagnósticos e também o Centro de Vigilância do Estado foi notificado.
De acordo com a direção do hospital, são realizados 2 mil exames por mês e nenhum registro de ocorrências deste tipo foi registrado na unidade. O hospital também informou que está colaborando com os órgãos competentes.
Perfil do Facebook de Mayra Monteiro, uma das
vítimas do caso (Foto: reprodução/ internet)
Pacientes
Entre as vítimas estão a administradora de empresa de Campinas Mayra Cristina Augusto Monteiro, de 25 anos, que deixa uma filha de 4 anos. Também morreu o paciente de Santa Rita de Cássia, o zelador Manuel Pereira de Souza, 39 anos, casado e pai de uma filha de 6 anos. Ele será enterrado na Bahia, em um distrito da cidade natal. O terceiro paciente é Pedro José Ribeiro Porto Filho, 36 anos. Mayra e Pedro foram velados e sepultados em cemitérios de Campinas na tarde desta terça-feira (29). O zelador Manuel Pereira de Souza seria enterrado em sua terra natal, na Bahia.
Medicamentos interditados
- Magnevistan, solução injetável, Lote 11568D, com validade: 03/2015, fabricado por Bayer S.A, registro MS 1.7056.0065;
- Dotarem, solução injetável, Lote 12GD324C, com validade: 10/2015; fabricado por Guerbet Produtos Radiológicos,com registro MS 1.4980.0016
- Soro Fisiológico (NaCl) 250ml, fabricado por Eurofarma Laboratórios Ltda, Lote 252731, com validade:08/2014;
- Soro Fisiológico 500ml, fabricado por Eurofarma Laboratórios Ltda, Lote 249031, com validade:08/2014;
- Soro Fisiológico 250ml, fabricado por Eurofarma Laboratórios Ltda, Lote 245825, com validade:07/2014;
- Soro Samtec 10ml, Lote SOG, validade: 02/2014;Lote SSN validade 05/2014,
- Soro Equiplex 10ml, Lote 1230970, validade: 07/2014
Fabricantes
A assessoria da Eurofarma Laboratórios informou que só se pronunciará sobre o assunto após ser notificada da interdição. Em nota, a Bayer disse que também não foi notificada oficialmente e que "está disposta a colaborar com as autoridades responsáveis pelas investigações, caso seja solicitada a prestar quaisquer esclarecimentos".
A Samtec informou que não foi notificada oficialmente, mas que está à disposição para prestar possíveis esclarecimentos. O G1 ligou também para as fabricantes Equiplex e Guerbert Produtos Radiológicos, mas ninguém foi localizado para comentar o assunto até a publicação da reportagem.
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