Quatro dias depois de o governo de Damasco ter denunciado um ataque aéreo a um complexo militar, o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, mencionou o tema durante uma conferência sobre segurança em Munique, Alemanha, e, implicitamente, revelou o papel do governo israelense no episódio.
Ao discursar na conferência, Barak disse à imprensa que o "isto que aconteceu há alguns dias (...) mostra que quando afirmamos uma coisa, nós a mantemos".
"Já havíamos afirmado que não acreditamos que se deva permitir que sistemas sofisticados de armas sejam transferidos ao Líbano, para o Hezbollah, a partir da Síria, quando Assad cair", disse Barak.
O ataque de quarta-feira teve como alvo uma plataforma de lançamento de mísseis terra-ar e um complexo militar que supostamente armazena agentes químicos, de acordo com uma fonte militar americana que pediu anonimato.
O governo sírio ameaçou com represálias, aumentando ainda mais os temores de uma extensão regional do conflito interno na Síria, que segundo a ONU já matou mais de 60.000 pessoas.
Apenas dois dias depois do ataque, o secretário americano da Defesa, Leon Panetta, disse à AFP em Washington que existe uma crescente preocupação sobre a possibilidade do caos na Síria permitir ao poderoso grupo libanês Hezbollah obter armamento sofisticado a partir de Damasco.
Depois do ataque, autoridades israelenses aumentaram o tom na retórica sobre o arsenal sírio, em especial os agentes químicos, alertando sobre as graves consequências no caso destas armas terminarem nas mãos do Hezbollah, grupo aliado ao Irã.
Israel e o Hezbollah protagonizaram confrontos devastadores em 2006.
Quase simultaneamente, em Damasco, Assad acusou Israel de tentar "desestabilizar" a Síria, de acordo com a agência estatal SANA.
A agressão "mostra o verdadeiro papel desempenhado por Israel, em colaboração com as forças estrangeiras inimigas e seus agentes em território sírio, para desestabilizar e debilitar a Síria", disse Assad em um encontro com Said Jalili, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, se uniu às condenações ao ataque, afirmando que "Israel tem a mentalidade de quem pratica o terrorismo de Estado".
"Aqueles que tratam Israel como uma criança mimada podem esperar qualquer coisa e a qualquer momento", afirmou Erdogan, que, apesar disso, é muito crítico em relação ao regime de Assad.
A Argélia também condenou o ataque israelense, tachando-o de "violação do direito internacional".
Em Israel, fontes da segurança anunciaram que o exército planeta instaurar uma zona tampão em território sírio para impedir que grupos se aproximam de sua fronteira nas colinas de Golã, ocupadas pelo Estado hebreu, em caso de queda do regime de Assad.
Por outro lado, o Irã - sólido aliado tanto do Hezbollah quanto de Damasco - saudou este domingo a disposição do líder da coalizão opositora síria, Ahmed Moaz al Khatib, de se abrir a um diálogo condicionado com representantes do governo sírio.
"É um bom avanço", disse em Munique o chanceler iraniano, Ali Akbar Salehi, que revelou durante a Conferência de Segurança celebrada na cidade alemã ter mantido uma "reunião muito boa" com o próprio Khatib.
Apesar disso, na mesma conferência, o ministro turco de Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, considerou que um eventual diálogo entre governo e oposição na Síria não levaria a uma solução negociada do conflito. Este diálogo é "um caminho equivocado", disse o ministro.
No campo de batalha, a violência prossegue na Síria, com um ataque do regime em Aleppo (norte) que deixou 15 civis mortos, entre eles cinco crianças, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Pelo menos 15 pessoas, incluindo uma mulher e cinco crianças, foram mortas no ataque do Exército sírio contra um prédio da segunda maior cidade do país, indicou o OSDH.
"Identificamos 11 pessoas, incluindo uma mulher e cinco crianças, e conseguimos confirmar que outras quatro pessoas foram mortas neste ataque", afirmou à AFP Rami Abdel Rahman, presidente da ONG
Rahman afirmou que o registro pode ser revisado para cima porque "ainda havia moradores entre os escombros".
Vídeos de militantes mostraram uma multidão reunida diante uma montanha de escombros, com algumas pessoas tentando retirar partes de construções à procura de sobreviventes.
Neste domingo, morreram de forma violenta pelo menos 125 pessoas, entre as quais 58 rebeldes, 39 civis e 29 soldados, de acordo com um registro do OSDH.
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